
Por ocasião do lançamento do novo livro do Casal Mistério – ‘Casal Mistério, 101 Receitas que tem de fazer pelo menos uma vez na vida‘ -, em que Ele e Ela reuniram as receitas mais marcantes da sua existência, tivemos oportunidade de fazer algumas perguntas aos responsáveis por um dos segredos mais bem guardados em Portugal. No final, se quiserem saber mais, podem sempre comprar o livro, no qual, a pretexto de cada receita partilhada, Ele e Ela falam um bocadinho da sua dinâmica e história familiar, sempre com o humor que os caracteriza. Se no final do livro vai ficar com mais pistas sobre quem serão eles? Não, mas vai ficar a cozinhar muito melhor!
Quem lê este livro fica com a ideia de que passam a vida a cozinhar e a comer. A minha questão é: o que é que fazem quando não estão a fazê-lo?
Dormimos. E fazemos a digestão. Também trabalhamos bastante. Mas isso podemos sempre fazer com um snack em cima da secretária. Para acabar o nosso dia, faltam apenas uma ou duas horas de exercício para não nos transformarmos num par de Budas Ibéricos.
O mote do livro é 101 receitas que marcaram a vossa vida. Mas podiam ser 102, certo? Como foi o processo de seleção das receitas a incluir neste livro e das que ficavam de fora? De 0 a 10, quanta discussão existiu?
A nossa vida raramente tem níveis de discussão abaixo de 10. O debate é que gera a descoberta e a inovação. Se não formos exigentes connosco próprios e com os outros, dificilmente conseguimos melhorar e inovar. Desde que a discussão seja civilizada e educada, é sempre bem-vinda cá em casa. E especialmente com os nossos filhos.
Desde cedo que eles foram ensinados a questionar, a duvidar, a debater, a sugerir – no fundo a darem a sua opinião. E acredite que eles têm muitas opiniões. Participaram em todo o processo de selecção das receitas para este livro. E são os nossos maiores críticos. Por isso é que esta casa parece a de uma família italiana – tanto na discussão como na vontade de comer e no prazer de estar à mesa.
Dizem-nos que devemos começar este livro pelo último capítulo. É só porque adoram sobremesas ou é um lema de vida?
É um lema de vida. Afinal a vida é curta e só se vive uma vez. Qual é a graça se deixarmos as coisas que nos dão mais prazer para o fim?
Se vos pedissem conselhos sentimentais, qual seria a receita que sugeriam para um pedido de casamento? E no caso de de um ‘querida (o), preciso de um tempo para pensar’?
Um pedido de casamento tem sempre de ser feito ao brunch. E então se for servido na cama, conquista qualquer um. Por isso é que a receita ideal para um pedido são as melhores panquecas de Nova Iorque. E se forem servidas em Nova Iorque, melhor ainda.
Para responder a um “querido, preciso de um tempo para pensar”, temos sempre a barriga de porco cozinhada a baixa temperatura. Como demora quatro horas a preparar, parece-nos que lhe dá o tempo suficiente para pensar em tudo e mais alguma coisa.
Sentem o peso da responsabilidade com tantos seguidores nas redes sociais? E, já agora, como é a vossa relação com a balança no meio de tanta atividade gastronómica?
Infelizmente, peso é coisa que sentimos sempre – e cada vez mais – de todas as maneiras e feitios, desde que começámos este projecto. E é exactamente por isso que estamos de relações cortadas com a balança. Desde que começou a ser inconveniente que a nossa balança foi trancada por Ela no armário da cave. A chave está neste momento no fundo do rio Tejo.
Os vossos mini-misteriosos partilham o amor dos pais pela cozinha ou acham simplesmente que têm sorte por comerem tão bem? Acreditam que algum deles vá seguir as pisadas da mãe ou do pai?
Todos adoram comer. Mas só alguns é que sabem cozinhar. Temos um filho que tem mesmo apetência para se tornar um chef Michelin, coisa que nem o pai, e especialmente a mãe, têm. No entanto, estão sempre a protestar em casa. Seja porque fazemos demasiados peitos de frango seja porque comemos muito salmão seja porque os doces são saudáveis. São uns eternos incompreendidos.
O anonimato é o segredo do sucesso ou a dificuldade do sucesso? Diriam que dá mais trabalho ser conhecido ou manter o anonimato?
Essa é uma excelente pergunta. Manter o anonimato dá muitíssimo trabalho. Mas não invejamos quem é reconhecido na rua. Mantermo-nos no anonimato é quase como manter uma vida dupla – com esta vida,
aprendemos a admirar quem consegue ter um amante sem ser descoberto –, no entanto qualquer coisa é melhor do que não poder sair à rua sem ter toda a gente a olhar para si, a comentar o que faz e a avaliar como se comporta. O anonimato é fundamental para a liberdade.
Quantos minutos da vossa vida já gastaram a falar sobre a possibilidade de um dia revelarem a vossa identidade?
Zero. É coisa que não nos passa pela cabeça. Seria o fim de toda a essência do projecto.
Já se ouviram as mais diferentes teses sobre quem vocês seriam na ‘vida real’. De entre todas, qual é que vos fez rir mais?
Aquela que dizia que éramos o Manuel Luís Goucha e o marido. Definitivamente, Ele não chega aos calcanhares do Manuel Luís Goucha no bom gosto a escolher os fatos.
Quando há cada vez mais pessoas a deixarem de consumir carne por motivos ambientais ou éticos, nunca vos passou pela cabeça tornarem-se… vegetarianos?
Não seríamos capazes. A carne está para a nossa vida assim como a samarra está para a festa da Golegã. Não conseguimos viver sem ela.
Completem a frase: “Devem comprar este livro porque….’
…o lugar de uma mulher é na cozinha: sentada, com os pés em cima da mesa, a beber um copo de vinho enquanto vê o marido a cozinhar.
