Quem me conhece sabe que na categoria de bebidas alcoólicas eu gosto de cerveja e vinho. É tão simples quanto isto. Ou tão complicado. Gosto mais de vinho tinto do que branco e sei que gosto de vinhos secos. Olham-me de forma esquisita quando digo que não aprecio vinhas velhas e nunca percebi se é porque estão indignados ou se os olhos trocados é por terem bebido para além da conta.
Quando bebo, só sei se gosto ou não gosto, mas muitas vezes não sei porquê. Quando conheci Mariana Siqueira, deu-me vontade de passar a frequentar a Garrafeira Imperial, no Princípe Real, como quem passa tardes na biblioteca. A jovem especialista não só percebe muitíssimo e é absolutamente apaixonada por vinhos como a forma despretensiosa como fala do assunto nos faz sentir que, afinal, também podemos pertencer ao clube de wine lovers e com toda a legitimidade.
Aqui ficam algumas perguntas e respostas sobre o tema.
Gosto de vinho, mas não sei bem de que é que gosto, como posso descobrir?
A melhor maneira passa pela prova de vários rótulos diferentes de forma a construir uma experiência própria. Se tiver oportunidade, ir a uma prova de vinhos vai ajudar também a compreender melhor cada um e descobrir as suas preferências. A Garrafeira Imperial tem provas regularmente, basta seguir a página do Instagram (@garrafeiraimperial) para acompanhar o calendário.
Se eu for à Garrafeira Imperial como me pode ajudar a saber o que quero e de que gosto?
O melhor será dizer-me, pelas suas palavras, do que gosta e o que não aprecia tanto e eu vou ajudar a que perceba o que procura. Em conjunto vamos escolher a melhor opção para a ocasião.
Gosto mais dos vinhos do Douro mas não sei bem porquê…
Oiço isso muitas vezes… Cada região tem as suas particularidades, o Douro por norma apresenta vinhos mais secos (isto é, menos doces) e esse é um critério cada vez mais apreciado.
É verdade que vamos progredindo de região para região com a idade e experiência? Uma vez disseram-me que o percurso tradicional era Alentejo, Douro e por fim Dão…
Não deixa de ser verdade, nós evoluímos e aprendemos com a experiência, seja a apreciar chás e cafés sem açúcar, porque assim saboreamos melhor todos os seus aromas, seja ao perceber e passar a apreciar vinhos menos encorpados, com menos barrica, com menos extração, etc., que requerem um maior treino do nosso paladar. Isso não significa que os vinhos do Dão são superiores aos vinhos do Alentejo, nem que vamos deixar de gostar de alguma dessas regiões, apenas, vamos passar a apreciar mais algumas regiões e a saber qual a ocasião indicada para cada vinho. Isto é tão verdade para as regiões de Portugal como para o resto do mundo.
O que faz um bom vinho? Preço equivale a qualidade?
A pergunta mais correta seria: o que faz com que um vinho seja melhor para mim? Um bom vinho é algo muito subjetivo, depende do gosto pessoal e cada pessoa é única! Um bom vinho é aquele que nos dá prazer ao bebê-lo, custe ele 10€ ou 10.000€. A verdade é que o preço tem alguma relação com a qualidade, um vinho de €3 não tem a mesma qualidade de um vinho de €10 ou de um de €40, é fácil compreender que as melhores uvas não são utilizadas nos vinhos mais baratos e uvas de qualidade superior dão melhores vinhos. São factores que afetam o preço final.
Como identificar um bom vinho em termos de preço-qualidade?
Um vinho pode custar €10 e ser barato ou custar €100 e ser também ele barato. Uma boa relação preço-qualidade dá-se quando ao degustar um vinho (seja em casa, seja num restaurante) sentimos que o valor pago foi justo, no entanto, só sabemos avaliar se essa relação é boa ao conhecer alguns vinhos diferentes de preços diferentes.
Dizem que quem só gosta de vinho branco não é verdadeiro apreciador de vinho…
Não é necessariamente verdade, pode já ter provado muitos vinhos tintos, rosés, espumantes, colheitas tardias e só apreciar os vinhos brancos. Voltamos à mesma máxima: o melhor vinho é o que nos dá mais prazer ao beber.
Os vinhos que encontramos nas garrafeiras são mais caros do que os encontramos nos supermercados?
Esse é o maior mito, não é necessariamente assim. Cada garrafeira ou loja gourmet trabalha com os preços que considera necessários à continuidade do seu negócio, mas, por norma, os preços praticados nos supermercados são superiores aos das lojas da especialidade. E ainda há as falsas campanhas promocionais nas grandes superfícies… Deve indicar o intervalo de preços que pretende a quem o irá ajudar na garrafeira e as sugestões serão adequadas ao valor, à ocasião e ao seu gosto, pelo que será sempre um melhor investimento.
Podemos/devemos beber vinho tinto fresco?
Alguns estilos de vinho tinto devem mesmo ser consumidos mais frescos do que o que é habitual ouvir-se. Cada estilo tem uma temperatura mais recomendada, que é a temperatura a que se entende que proporcionará a melhor experiência na degustação do vinho. Para a maioria dos vinhos tintos é de 16ºC, no caso de vinhos tintos menos encorpados/mais abertos poderá ser de cerca de 12ºC.
O copo onde bebemos é assim tão importante como dizem?
Sim. Da próxima vez experimente provar o mesmo vinho em diferentes copos: um copo em que habitualmente bebe água, num copo tipo flute e num copo com um ‘corpo’ mais largo, por exemplo, desta forma, irá perceber o quanto o formato do copo é importante. Dá-se preferência aos copos com haste para preservar a temperatura do vinho, motivo pelo qual se deve pegar no copo pela haste.
Os vinhos biológicos são mais agressivos?
Depende do que se entende por “mais agressivo”. Os vinhos biológicos são vinhos produzidos com uvas sem intervenção química na vinha, já na adega podem ser utilizados alguns produtos de origem química aprovados pelo órgão que os certifica. O facto de um vinho ser biológico não faz dele mais ou menos agressivo, tem um sabor próprio, tal como qualquer vinho.
Da sua experiência, existe alguma diferença marcante entre homens e mulheres do que toca ao consumo de vinho?
Não. Há vinhos para todos os gostos e para todas as ocasiões, pelo que as pessoas podem gostar mais de vinhos tintos ou de rosés ou de espumantes, mais doces ou mais secos, mais encorpados ou mais frutados, independentemente de ser homem ou mulher.
Assiste-se a um número cada vez maior de mulheres que se encarregam da escolha do vinho, seja para consumir em casa ou para presentear alguém. Numa perspetiva mais histórica, antigamente, o consumo de bebidas alcoólicas era praticamente reservado aos homens, sendo o consumo por parte das mulheres mal visto. Hoje, não é assim, o consumo de bebidas alcoólicas, especialmente o vinho (com moderação), é algo bem visto na sociedade e assistimos a uma maior igualdade, quer no consumo quer nas escolhas.
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