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Foto Fernando Tomaz
“Portuguesa” foi lançado no início do mês e entrou diretamente para o primeiro lugar de vendas. No seu novo trabalho discográfico, Carminho traz-nos 14 temas, vários deles com música e letra sua, carregados de história e de uma forma de sentir e viver o Fado únicas.
O que é ser portuguesa?
Portuguesa é o meu olhar sobre a poesia, sobre a lingua portuguesa, a identidade, a mulher, a cultura, a música. Na verdade, é a minha historia até aqui, aquilo a que sinto pertencer e a forma como traduzo isso em música e, neste caso, este álbum.
A mensagem é sempre muito cuidada, nos seus trabalhos, mas neste houve a intenção de criar uma imagem. Que mensagem há por trás deste “Portuguesa”?
A procura e a concepção da imagem de um disco acho que é algo muito desafiante e muito estimulante para criar uma comunicação mais clara sobre aquilo que se construiu, a peça que fiz. Neste caso, aquilo que se principia é, também, além das canções que estão neste disco, a minha história, a minha personalidade e a minha identidade. Sinto que de alguma maneira há várias mulheres e muita história nesta imagem que se criou à volta do disco “Portuguesa”.
Acho, também, que é um olhar contemporâneo sobre uma mulher contemporânea, mas que tem muita história, sobre um país que tem muita identidade e muita história e que tudo se reflete numa música tradicional que está a ser construída, que está viva, e de uma história que continua a ser contada diariamente.
A forma como se canta fado vai mudando com a vida?
Sem dúvida nenhuma que a forma como canto tem vindo a mudar e percebo que isso aconteça ouvindo os discos anteriores e constatando que há muitas transformações, não só de interpretação como fisiologicamente falando. O som da voz, a maturidade com que se enfrenta uma interpretação e como eu sinto que leio as palavras e aquilo que elas significam para mim vai mudando com a experiência, com a maturidade, e espero que ainda venha a mudar muito mais.
Há algum tema preferido? Se sim, por quê?
Não sinto que haja um tema favorito, sinto que todos eles fazem parte de uma peça. Posso destacar “O Quarto” por ter sido o single e porque também foi escolhido exatamente por ser aquele que para mim retrata e traduz melhor e mais plenamente todo o disco. É um fado tradicional composto por Alfredo Marceneiro, chamado o fado Pagem, com uma letra que escrevi ,“O Quarto”, e de alguma maneira abre o disco porque há uma referência e uma reverência aos antigos e à forma como a história do fado me vai dando as pistas para continuar.
Há uma ideia também de legado e passagem de testemunho pois o próprio Marceneiro construiu o seu repertório original, compunha os seus fados tradicionais para ele próprio cantar e cercava-se de outros compositores amigos para construírem o seu repertório inédito e isso sempre me inspirou. E neste disco está bastante presente nessa construção de repertório, no atrevimento de eu começar a compor alguns fados tradicionais originais, e de fazer esta prática do fado tradicional que é a de conjugar vários elementos de letras de poetas que nunca foram editados originalmente, numa estrutura tradicional ou vice versa, e buscar o fado Pagem, que já tem muitos anos, e escrever uma letra nova. Mas, na verdade, olhar de uma forma critica para o repertório e tentar construir um repertório próprio.
Como foi trabalhar com duas artistas tão especiais como a Luísa Sobral e a Joana Espadinha?
Os compositores da minha geração que fazem parte deste disco são todos eles muito fortes, muito diferentes e muito especiais para mim. A Luísa Sobral é uma compositora realmente nata, desde o momento em que nasce que parece que já faz as canções, e tem uma identidade muito própria, uma linguagem que é dela e que é reconhecível e isso é uma grande qualidade. Com a Joana Espadinha já tenho vindo a trabalhar há vários anos e é realmente uma compositora que me entende, que me compreende e que fala a minha linguagem. Depois a Rita Rian, outra mulher extraordinária, uma compositora bastante mais recente e jovem, mas que, no seu primeiro EP, já revelou uma força, uma identidade e uma personalidade muito ricas que me atraem muito e que admiro. De facto o “Simplesmente Ser” foi uma canção muito especial em que a Rita acabou por ser convidada também para cantar e para fazer o arranjo de vozes comigo e isso também nos juntou muito. Por fim, o Marcelo Camelo que para mim é um dos compositores mais brilhantes desta geração, é brasileiro mas com esta ligação tão forte a Portugal, sinto que construiu um hino transatlântico.
De que forma a maternidade impactou a sua música neste álbum?
Sinto o mundo de uma forma diferente, há um descentralizar do olhar, já não é sobre mim, há outras pessoas à minha volta que são muito importantes e que eu devo cuidar. Portanto, é um espectro que aumenta e a própria experiência do amor que também dilata, que também se torna diferente e que ganha novos contornos. E tudo isso é inspirador para cantar, tudo isso é transformador mas não sei exatamente em que é que se materializa no fim. Talvez com o passar dos anos possa ter consciência do que é que se transformou na minha arte por causa desse acontecimento.
A Carminho cresceu no meio de guitarras portuguesas e vozes do fado. O seu filho, de alguma forma, também. Como é que ele reage à sua música?
A minha casa é realmente um lugar que transborda música, há muitos instrumentos, há sempre música a tocar. Há muitos ensaios aqui em casa e por isso é um lugar muito musical sim, e que transpira música.
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Foto DR