Terminou o primeiro fim de semana de concertos do Rock in Rio naquela que foi a estreia do evento no Parque Tejo. Depois de uma história bonita do festival na Quinta da Bela Vista, era com expectativa e curiosidade que aguardava esta nova edição. Depois de dois dias vividos de forma intensa, já há muito que tenho a dizer.
Começo por destacar a beleza da vista do novo recinto. Estar a assistir a um concerto com o rio e a Ponte Vasco da Gama como cenário é um grande privilégio – e super instagramável, algo importante para todos os que querem tirar uma boa foto do palco do concerto que mais esperavam.
Notou-se uma grande preocupação com a logística dos festivaleiros, nomeadamente no que toca às indicações para os shuttles que levam ao recinto. Existem muitos membros do staff do Rock in Rio constantemente a fornecerem indicações, o que demonstra que houve noção de que as pessoas se poderiam sentir um tanto ou quanto perdidas neste novo recinto.
E… ficou por aqui a minha análise mais positiva à mudança de localização do evento. Uma alteração destas, depois de tantos anos num local que já se tinha tornado tão familiar para tantos festivaleiros, iria sempre precisar de ser um grande upgrade para agradar à maioria, e não foi isso que aconteceu.
Filas, filas e mais filas. Não esqueço que no Parque da Bela Vista havia sempre imensas filas para tudo e mais alguma coisa – especialmente para os brindes – mas nunca imaginei que estes aglomerados se tornassem ainda mais intensos. O espaço tem maior dimensão, assegura a organização, mas quem está lá sente o contrário. Se na Bela Vista as filas pareciam percorrer um espaço mais amplo e pouco dificultavam a mobilidade de quem queria apenas passar, desta vez não é isso que acontece. Há filas ao lado de filas e ao lado de outras filas. Passar de um ponto para o outro do recinto é estar constantemente a pedir “por favor” e “desculpe” para conseguir dar um passo. Quem lê isto pode imaginar que se trata de algo que acontece à noite, hora de maior afluência, mas isto acontece em plena tarde, altura que deveria ser descontraída, o que já provoca algum stresse.
A movimentação não é fluída e existe a sensação que se está a ser engolido por um mar de pessoas. Isso sente-se ao percorrer o recinto em qualquer ponto, especialmente quando um concerto termina e começa outro num palco ao lado. É ver uma verdadeira massa humana a movimentar-se, e nós muitas vezes somos levados por ela porque, por acaso, estávamos ali e é melhor ir com a corrente do que lutar contra ela.
Um festival que em anos anteriores tanto foi apreciado pelas famílias, agora pode ficar um pouco aquém das expectativas, especialmente dos mais novos. Se na Bela Vista havia espaços para sentar na relva ou descontrair à sombra das árvores do recinto, desta vez isso tornou-se mais complicado. O chão de terra com alguma gravilha não é convidativo e as sombras nem vê-las. Não existem mesmo sombras e isso causou alguns incómodos neste fim de semana, que nem sequer foi marcado por temperaturas elevadas – mas o próximo já será.
Ainda sobre os mais pequeninos, vi muitos desiludidos por não conseguirem sequer ter um vislumbre do palco principal. Nem às cavalitas dos pais. A Bela Vista tem um anfiteatro natural que acaba por ser um grande auxílio para quem ficava mais atrás a assistir aos concertos, mas desta vez, quem não consegue furar a massa de milhares de pessoas fica sem qualquer possibilidade de sequer ver um ecrã. Os strands que rodeiam o Palco Mundo também cortam em muito a visibilidade. Além disso, o som é condicionado pela orientação do vento e altera-se consoante a sua vontade – algo mais sentido na primeira noite com Scorpions, mas com a segunda a ficar manchada pelo corte que houve no início do espetáculo de Ed Sheeran.
Nas minhas movimentações pelo recinto, eram muitos os comentários que ouvia aqui e ali de pessoas a queixarem-se da disposição do espaço. Quem quis ver os concertos do Palco Galp após de um espetáculo no Palco Mundo muitas vezes viu-se prejudicado por não conseguir chegar ao local por ficar preso no meio da multidão devido à forma como a enorme tenda VIP – enorme mesmo, está gigantesca – corta o acesso a quem está no terreno. Na zona de restauração, mal há espaço para movimentos e ainda menos para se encontrar lugar para comer e tentar desfrutar da refeição.
Já falei do serviço de shuttles que transporta os festivaleiros de pontos específicos até à entrada do festival e da preocupação de se dar indicações, mas quem recorrer a este serviço tem de ter paciência pois vai passar algum tempo em… filas. A solução da organização não é má, mas seriam necessários mais transportes em horas de maior afluência.
Se do primeiro para o segundo dia já se notaram mudanças de logística para responder às queixas dos festivaleiros, quero acreditar que no próximo fim de semana haverá situação ainda mais ágeis. Ainda assim, não acredito que todos os problemas sejam resolvidos, especialmente devido à grande afluência ao evento e ao caos humano que isso provoca.
Agora respondendo à pergunta do título, Rock in Rio no Parque Tejo ou na Bela Vista, cito uma frase que ouvi de muitas pessoas com que me cruzei nestes dias: “Minha rica Bela Vista”.