Devia das mais prestigiadas e estimadas, são os professores e professoras os que, diariamente, moldam o futuro do país ao formar os nossos filhos, os seus alunos, dar-lhes o conhecimento e os instrumentos para os tornar cidadãos críticos e preparados para enfrentar os desafios da sociedade moderna. Eles são a base sobre a qual se constroem todas as outras profissões. Vamos ler o que eles têm para nos dizer?
“Gostaria que fossem criadas condições para flexibilizar os horários laborais das famílias, para que as crianças pudessem passar mais tempo com elas. Há crianças que permanecem onze horas no jardim de infância, mais tempo do que um adulto no seu emprego.”
ELSA MENDANHA
Educadora de Infância
Jardim-de-Infância de Seide S. Miguel, V. N. Famalicão
Quais são as dificuldades com que os alunos se debatem nas suas aulas? São do mesmo tipo que sentiam há uma década?
As crianças em idade de educação pré-escolar são naturalmente curiosas e bastante ativas. Estão em constante movimento, estabelecem rapidamente interações com os seus pares nas brincadeiras que realizam e estão ávidas por experimentar novas atividades e manipular todo o tipo de materiais. Sempre foram assim e queremos muito que permaneçam com esta essência. Contudo, tenho vindo a notar que de ano para ano mais crianças vêm demonstrando alguma desconcentração e falta de foco, ou seja, começam uma atividade ou brincadeira e rapidamente a abandonam e começam outra, para logo depois interromperem e começarem outra. São crianças pouco persistentes, que desistem facilmente perante algum obstáculo, e que tendem a depender do adulto para situações muito simples. De há meia dúzia de anos para cá, observo também que há mais crianças com dificuldades na expressão oral, seja na estrutura frásica ou na articulação de fonemas. Nunca tive tantas crianças a precisar de terapia da fala como agora. Sabemos que o tempo que muitas crianças e respetivos progenitores passam ‘agarrados’ ao telemóvel ou ao tablet é um grande impedimento para que se treine a fala. Aliás, infelizmente, na maioria dos casos, cada vez menos se conversa em família, porque todos os elementos estão ‘entretidos’ a interagir silenciosamente com o seu dispositivo eletrónico.Nestes últimos dois anos, observo também que as crianças são menos pacientes e menos tolerantes com os outros. Facilmente demonstram a sua frustração, através de birras ou choro, quando não conseguem os seus propósitos, o que muitas vezes leva a um falso sentimento de incapacidade e, por consequência, comprometendo a autoestima e a autoconfiança.
De que forma é que tenta incentivar ao estudo,
que soluções tenta aplicar para contornar as dificuldades no dia a dia das suas aulas?
O primeiro passo é tentar perceber a causa dessas dificuldades. Converso com a criança e dou-lhe abertura para expressar os seus sentimentos, atitudes, reações e logo ali, com ela, tento arranjar uma forma de solucionar a questão. Depois reúno com as famílias expondo o que tenho observado e tento saber se em casa a criança apresenta o mesmo registo. Em conjunto delineamos estratégias para pormos em prática, no jardim de infância e em casa. E a melhor estratégia é incentivar a criança a acreditar em si e nas suas capacidades, dizendo-lhe regularmente e elogiando cada conquista. Não importa se faz melhor do que o outro, importa é que é capaz.
A nossa prática de, há anos, proporcionar diariamente momentos de relaxamento e meditação, e de utilizar os espaços exteriores como espaços de aprendizagem, tem trazido muitos benefícios para estas crianças: aprendem a lidar com as suas emoções e a controlar o seu corpo, assim como, estando em contacto com a natureza, sentem-se menos aprisionadas, ficam mais desinibidas, menos ansiosas, interagem mais e, apesar de se movimentarem mais, estão mais concentradas, calmas e felizes.
Que medidas gostaria de ver implementadas no Ensino de forma a adaptar-se melhor às necessidades dos alunos e professores da atualidade?
Na educação de infância, a primeira medida é diminuir o rácio de criança/adulto. Numa idade em que são primordiais a atenção individualizada e a relação física e afetiva com as crianças, porque são menos autónomas e precisam de maiores cuidados, não se compreende que cada turma tenha quase o mesmo número que uma turma de alunos do básico e secundário. Gostaria também de ver os jardins de infância com espaços mais amplos, salas maiores e espaços exteriores onde os elementos naturais imperassem e que as crianças pudessem diariamente brincar e usufruir deles. Gostaria que fossem criadas condições para flexibilizar os horários laborais das famílias, para que as crianças pudessem passar mais tempo com elas. Há crianças que permanecem onze horas no jardim de infância, mais tempo do que um adulto no seu emprego.
Pode contar-nos um exemplo de um aluno que tenha superado as suas dificuldades e que a sua história seja inspiradora para outros alunos?
O André (nome fictício) chegou-nos ao jardim de infância com cinco anos, muito tímido, pouco participativo e de cada vez que era convidado a fazer alguma atividade, fazia-a com pouco envolvimento e dizendo, quase sempre, que não sabia como. Utilizámos as estratégias que referi e nas conversas que ia tendo com ele, dizia-me que tudo o que fazia não estava bem. Contrariei-o, dizendo-lhe que não era verdade e elogiava-o perante os colegas. A família tinha a mesma atitude com ele em casa. Aos poucos, o André começou a sentir-se mais confiante e a ser ele próprio a ter iniciativa para realizar trabalhos. Começou a aperfeiçoar a execução e a ficar tão orgulhoso com o seu desempenho que passou a querer partilhar com as outras crianças. A determinada altura, começou a criar projetos e a inspirar os seus pares para novos projetos.
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“Mais tempo para a missão do professor e menos para a administração seria perfeito.”
SÓNIA MOREIRA
Professora do Ensino Básico (1.º Ciclo)
Agrupamento de Escolas Escultor António Fernandes de Sá, V. N. Gaia
Quais são as dificuldades com que os alunos se debatem nas suas aulas? São do mesmo tipo que sentiam há uma década?
Uma das dificuldades que se identifica nos alunos prende-se com falhas na comunicação. A grande diferença de idades, de modus vivendis e de pensar inibem, muitas vezes, uma comunicação efetiva entre professores e alunos. Outra dificuldade está associada à necessidade crescente de mais atenção e de forma diferenciada e eficaz com cada aluno.Os alunos passam demasiado tempo na escola (fora do horário letivo) e em alguns casos com atividades pouco atrativas, inclusivas e interativas. Constata-se (ainda) insuficiente investimento no poder transformador do trabalho em equipas cooperativas de alunos. Este fator é determinante para o melhoramento do relacionamento interpessoal e do bem-estar social e emocional dos alunos, que posteriormente se reflete nas suas aprendizagens de forma transversal ao currículo. O escasso tempo com as famílias, o excessivo número de atividades escolares demasiado rotinizadas e pouco criativas são também outras dificuldades identificadas na escola atual, que não beneficiam os alunos, e que é urgente mudar.
De que forma é que tenta incentivar ao estudo,
que soluções tenta aplicar para contornar as dificuldades no dia a dia das suas aulas?
Não nos podemos esquecer que a missão da escola para o século XXI é formar/educar alunos da forma mais completa e harmoniosa possível, preparando-os para as exigências da sociedade atual. Este desenvolvimento tem de ser feito tanto a nível cognitivo como a nível das competências sociais, cooperativas e emocionais, criando-se oportunidades para que os alunos façam percursos diferenciados de sucesso, num ambiente previamente organizado.
Para isso é necessário investir noutros modos de organizar espaços e tempos de trabalho, com atividades que estimulem a sua participação na gestão do quotidiano da sala de aula.
As mesas-redondas continuam indispensáveis para as aprendizagens ativas em grupos cooperativos, onde cada aluno assume diferentes funções: repórter, gestor das emoções, secretário, gestor dos materiais, entre outras; funções essas sempre registadas nos seus tablets pessoais e aplicadas em modelo de rotatividade. Numa era digital, onde o incentivo ao estudo e à aprendizagem deverá tornar-se mais aliciante, gostaria que as paredes e os tetos das salas fossem painéis interativos onde a decoração atualizada passasse a ser com fotografias digitais e vídeos gravados pelos alunos, marcando os melhores momentos de aprendizagem semanais.
Que medidas gostaria de ver implementadas
no Ensino de forma a adaptar-se melhor às necessidades dos alunos e professores da atualidade?
O sistema educativo e todos os profissionais que nele trabalham necessitam de estar em permanente atualização. As exigências são sobretudo ao nível de uma mudança de paradigma no processo de ensino-aprendizagem-avaliação, que se quer mais colaborativo, cooperativo e tecnológico (e menos transmissivo), recorrendo para isso a diferentes metodologias e ambientes de aprendizagem ativos.
Esta trilogia de mudanças implica um investimento ainda maior na formação de professores e de assistentes operacionais, mais adaptado às reais necessidades dos alunos do século XXI.
Formação em metodologias que permitam aprendizagens ativas, inclusivas, participativas, com instrumentos e técnicas diversificadas para recolher informação no sentido da avaliação e de classificação, que passem por enaltecer cada vez mais a equidade, convocando-se a diferenciação pedagógica.
É preciso que, também nós, professores, sejamos ainda ‘mais pessoas’, mantendo viva a pedagogia dos afetos e da proximidade (mesmo quando digital), onde cada aluno é um aluno, adotando um paradigma mais humanista, inclusivo, coerente e flexível, sustentado na pedagogia do exemplo. Menos tempo na escola para os alunos e mais tempo colaborativo para os professores, mais tempo efetivo para a missão do professor e menos para a administração…seria perfeito! Por ser uma profissão desafiante, e simultaneamente tão exigente, termino apelando à urgência de repensar em diminuir a idade da aposentação dos professores, devolvendo à escola o seu valor local onde se aprende para a vida ou em favor da vida.
Pode contar-nos um exemplo de um aluno que tenha superado as suas dificuldades e que a sua história seja inspiradora para outros alunos?
Partilho a história do João Afonso (nome fictício). Recebi esta criança aos 6 anos. A educadora que o tinha acompanhado alertou-me para o grande desafio que seria trabalhar com ele. Na sua perspetiva, conseguir que a criança aprendesse a ler e a escrever talvez fosse mesmo um milagre. João Afonso, com um grave problema cardíaco à nascença, foi sujeito a várias intervenções cirúrgicas. Filho e neto único, foi desde sempre uma criança muito protegida, frágil e com autonomia reduzida. Comprovado o seu transtorno do défice de atenção com hiperatividade (que o impediam de terminar as tarefas propostas, ainda que medicado) e a enurese diurna e noturna (que implicava ter várias mudas de roupa, também na escola), João Afonso, impaciente, mas sensível aprendeu a gostar de aprender e a ter vontade de alcançar os seus objetivos, sempre incluído no âmbito das diferentes dinâmicas de trabalho da turma.Apesar de não ter sido um desafio fácil, tive ao meu dispor 4 anos para investir neste aluno. Por iniciativa própria, iniciei um compromisso de trabalho regular planeado e avaliado semanalmente por uma equipa multidisciplinar, constituída por mim, pelo João Afonso, pelos seus pais e a avó paterna, pela psicóloga da escola e pela professora de educação especial. Foram construídas para o João Afonso grelhas motivacionais de autorregulação para o desenvolvimento das diferentes competências propostas para cada semana. Neste trabalho havia metas, acordos estabelecidos de forma exequível com todos os intervenientes, dentro e fora do horário escolar de maneira a ser possível haver progressos, motivação e crença de autoeficácia. O João Afonso foi sempre tratado com equidade, carinho e assertividade. Aprendeu a trabalhar em equipa e com muito gosto prosseguiu os estudos, encontrando-se atualmente já no ensino secundário. Para uma professora haverá maior realização que esta?
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“Reclamo de mim um ininterrupto entusiasmo por tudo aquilo que faço.”
RUI CORREIA
Professor de História (3.º Ciclo)
Escola Básica de Santo Onofre, Caldas da Rainha
Quais são as dificuldades com que os alunosse debatem nas suas aulas? São do mesmo tipo que sentiam há uma década?
“Por que razão eu me levanto da cama às 7h30 da manhã para ir para a escola?” A escola precisa de ter sempre uma boa resposta para esta pergunta. Melhor dito, e não é o mesmo: a sala de aula precisa de saber responder muito bem a esta impaciência. Dito de outra forma ainda, embora não seja a mesma coisa: a família precisa de ter uma resposta convincente para esta inquietação. Prefiro sempre encarar as coisas desta forma. Os miúdos, mutatis mutandis, conservam as mesmas ingenuidades, perversidades e os mesmos maravilhamentos de sempre. É verdade que coisas que ontem todos os miúdos sabiam fazer são inteiramente desconhecidas para os miúdos de hoje. É fascinante. Ponham-nos a martelar um prego e vão ver. Todavia, o contrário também acontece. Na verdade, os ‘níveis’ de concentração são ditados pelo mesmo estímulo de sempre: estou interessado naquilo que estou a fazer ou não? Nesse sentido, muito mudou. Bem sei que poderá pensar-se que os ecrãs colonizaram as atenções de toda a juventude. A minha experiência obriga-me a discordar. Sempre que ponho alunos meus a fazer tarefas manuais, como ordenar uma cronologia, usando 30 flashcards de EVA, no meio do chão da sala, comigo caladinho, para compreenderem o caminho complexo para a primeira guerra mundial, ou quando lhes peço que façamos uma sequência da crise de 1929 usando papel de cenário com 8-9 metros e um balde de lápis de cera com a turma toda de rabo para o ar a pintar corretores desesperados a atirarem-se do alto dos prédios de Wall Street, ou quando lhes peço que façamos uma espingarda G3 ou um cravo vermelho de 4 metros em post-its para falar do 25 de Abril, adoram. E aprendem. Quem anda fascinado com os ecrãs somos nós e julgamos mesmo que os nossos miúdos apenas querem ecrãs. Não é verdade. Querem-nos a nós. Quase todos eles trocam de bom grado os ecrãs por um jogo de tabuleiro, desde que jogado com amigos e família, sem telemóveis por perto e com o grau certo de dificuldade e riso.
De que forma é que tenta incentivar ao estudo,que soluções tenta aplicar para contornar as dificuldades no dia a dia das suas aulas?
Tudo o que faço na minha aula tem de me interessar. Primeiro está o meu compromisso com a minha profissão e com os meus alunos. Reclamo de mim um ininterrupto entusiasmo por tudo aquilo que faço. Não tenho idade para fazer o que não quero nem gosto. Não sei como interessar um aluno por algo em que não acredito. No meu caso, estudar História pressupõe sempre a precariedade de todo o conhecimento. Estamos sempre irremediavelmente errados. Todo o historiador adora saber da contingência interina do seu conhecimento. Adoro saber que não existem certezas em História. Ler e conhecer mais e mais histórias pequeninas que permitam que eu e os meus miúdos nos mantenhamos perplexos com os inesgotáveis insólitos que a História proporciona é receita infalível. Ler e aprender ajuda imenso. Descobrir que D. Afonso Henriques era estrábico, careca e media 1,40m é irresistível. É uma pena que não seja verdade, não é?
Que medidas gostaria de ver implementadas no Ensino de forma a adaptar-se melhor às necessidades dos alunos e professores da atualidade?
Aumentar a pegada ambiental do aluno. A miudagem precisa de trabalhar mais e de não ter a papinha toda feita. Eles adoram mexer-se e desejam ardentemente uma aprendizagem que exija que não estejam nem quietos nem calados. A reforma necessária passa por acabar de vez com essa ideia de tirar miúdos da cama às 7h30 da manhã para os esmurrar com um magnífico powerpoint ou um prezi sobre a batalha de São Mamede ou sobre a clorofila ou a roda dos alimentos. Ninguém aguenta. Não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti.
Pode contar-nos um exemplo de um aluno que tenha superado as suas dificuldades e que a sua história seja inspiradora para outros alunos?
Têm tempo? Tantos exemplos. Centenas. Chama-se Rafael, de Amarante, e digo o nome dele para não preservar a sua identidade. Era um miúdo que me ensinou um verbo: ‘pensar o gado’. De vez em quando adormecia-me nas aulas e eu achava que, ou eu não prestava para nada – que é sempre a minha primeira hipótese – ou, do alto da minha presunção profissional, estimava que o menino se deitava tarde a ver ou a fazer ‘cenas de puto’. Errado. O rapaz contou-me: acordava todos os dias às 5 da manhã para ‘pensar o gado’. Fui saber o que era e percebi que ele trabalhava mais do que eu. Quando chegava à escola já tinha cumprido umas três fortíssimas horas de trabalho. Todos os dias. É hoje engenheiro agrícola. Podia não ser, mas é. Houve muitos que não chegaram tão longe como ele. Os miúdos carregam histórias consigo de que poucos de nós suspeitamos. Foi por isso que escrevi o meu livro ‘Cá dentro – o lugar da escola nos nossos miúdos’, da maravilhosa editora Guerra e Paz, e que muito recomendo que comprem. Desinteressadamente, claro. Bom ano.
Que tal conhecer melhor a nossa História com o Professor Rui Correia? Estes são os livros que ele tem editados:
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“Criei o Clube de Ciências (facultativo e fora do horário escolar) e todos os meus alunos querem participar.”
JORGE TEIXEIRA
Professor de Físico-Química (Ensino Secundário)
Escola Secundária Dr. Júlio Martins, Chaves
Quais são as dificuldades com que os alunos se debatem nas suas aulas? São do mesmo tipo que sentiam há uma década?
Atualmente, a principal dificuldade que sinto é conseguir colocar os alunos a pensar. Pensar para que comecem, novamente, a perguntar o ‘porquê das coisas’ e o ‘para quê’ do esforço em aprender. Pensar para irem além do conhecimento e das áreas de competências, para desenvolverem projetos interdisciplinares, aprofundarem conhecimentos práticos com aplicação na resolução de problemas da comunidade e promoverem a criatividade, o espírito crítico e o empreendedorismo. Há 10 anos, e mesmo antes, o processo de ensino/aprendizagem estava mais centrado no conhecimento, na resolução de exercícios e em metodologias menos ativas do que as que se pretendem atualmente. Assim, no passado recente, era normal que as maiores dificuldades dos alunos estivessem relacionadas com a aplicação da teoria à resolução de exercícios mais ou menos académicos.
De que forma é que tenta incentivar ao estudo, que soluções tenta aplicar para contornar as dificuldades no dia a dia das suas aulas?
Em 2006 criei um Clube de Ciências para aproximar a ciência aprendida na escola da comunidade, melhorar os conhecimentos/competências experimentais dos alunos e desenvolver ao máximo as capacidades dos alunos de forma a participarem ativamente na vida pública. Apesar do Clube não ter carácter obrigatório, atualmente, todos os meus alunos do ensino secundário participam, fora do horário escolar, em projetos/atividades de acordo com os seus interesses, relacionados com os conteúdos do ensino formal e com os problemas locais/nacionais/mundiais. Neste momento, já não distinguimos a aula formal do Clube. Todos os anos os projetos são diferentes e, posteriormente, são aproveitados por outros professores e alunos. Destes destaco os projetos sobre os incêndios, a seca, a criação de um Centro de Recursos de Atividades Laboratoriais Móveis, o ensino experimental com calculadoras gráficas e uma sala de ensino STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática).
Que medidas gostaria de ver implementadas no Ensino de forma a adaptar-se melhor às necessidades dos alunos e professores da atualidade?
Apesar da legislação conferir mais autonomia às Escolas para tomarem decisões que visem a melhoria da qualidade do ensino e aprendizagem, existem medidas que gostaria de ver implementadas, nomeadamente a reavaliação do modelo de acesso ao ensino superior, com os objetivos de separar a certificação do ensino secundário e o acesso ao ensino superior, assim como a valorização das outras vias de ensino.
Apostar no ensino experimental das ciências desde a educação pré-escolar, substituir algumas atividades experimentais, meramente académicas, no ensino secundário por atividades/projetos experimentais ligados aos interesses dos alunos/comunidade e a metodologias mais ativas.Finalmente, a reformulação das aprendizagens essenciais da disciplina que leciono (Física e Química), de modo a torná-las mais operacionalizáveis e com maior ligação a outras áreas do saber.
Pode contar-nos um exemplo de um aluno que tenha superado as suas dificuldades e que a sua história seja inspiradora para outros alunos?
Tive um aluno que no início do ano não mostrava interesse pela escola nem pelos projetos que estavam a ser desenvolvidos. Após uma conversa séria, o aluno referiu que o único assunto que lhe interessava era fazer bombas. Como na altura achei que a atitude era apenas uma forma de protesto, e não de violência, combinámos desenvolver um projeto nessa ‘área’, desde que ele se empenhasse e aplicasse os conhecimentos. No início, o aluno pensava que obteria o produto final ao fim de poucos dias, contudo teve de trabalhar e aplicar os conteúdos disciplinares de Física e Química durante um ano letivo. A dita ‘bomba’ foi projetada para, apenas, produzir um efeito sonoro significativo, tendo sido utilizada, posteriormente, nos simulacros de incêndio da escola. O aluno acabou por enveredar pela Engenharia Aeroespacial, sendo premiado durante a sua formação académica, e atualmente trabalha no estrangeiro numa empresa de topo mundial.