Temos smartphones, a vida anda a 300 à hora, os putos mandam links com aquilo que querem em vez de escreverem cartas, tudo é diferente do tempo em que eramos crianças – mas há coisas que nunca mudam. Uma delas é a sacramental fotografia da praxe com o Pai Natal.
Mas este não é um Pai Natal qualquer. Severino Moreira, 75 anos, é há 24 o Pai Natal ‘residente’ do Colombo e nunca deixou de se espantar com os efeitos que dez minutos de magia têm na vida de todas as crianças, mesmo – principalmente – quando o mundo atravessa alturas mais complicadas. Mas afinal, o que é que um senhor de barbas continua a ter de tão especial?
O Severino leva a sua missão muito a sério. Lembro-me que, mesmo nos anos de confinamento, o Pai Natal sempre trabalhou…
É verdade. Fiz incontáveis sessões em zoom. Obviamente que não era a mesma coisa, porque para mim ser Pai Natal é o contacto com as crianças, mas para que veja como a magia não os abandonou mesmo num dos períodos mais duros da Humanidade: quando fiz aquela pergunta sacramental ‘e quais são os teus desejos?’, um rapazinho disse-me: ‘Queria ter uma varinha de condão para destruir todos os vírus do mundo’. Isto não foi maravilhoso?
Portanto, as crianças são muito imaginativas mas também muito práticas…
Tal qual. E apercebem-se de tudo o que se passa. Ser Pai Natal é um confessionário infantil: eles contam-me tudo. E já tive momentos bem dramáticos.
Como por exemplo?
Uma menina que chegou-me certa vez com um ar muito assustado e disse: “Pai Natal, eu não quero brinquedos, só quero que quando fores lá a casa ralhes muito com o meu pai para ele não bater mais na minha mãe.” O que é que se diz numa situação destas? A única coisa a fazer é tentar que as crianças levem dali alguma esperança, alguma fantasia, alguma reconciliação com elas mesmas. Mas são situações muito tristes, em que nos apercebemos do que é o país real. Felizmente acontecem cada vez menos.
Sei que tem histórias hilariantes em relação à sua barba – que é mesmo verdadeira… (risos)
Sim, uns meses antes de Dezembro começo a deixar crescer a barba, mas sofro muito à conta disso (risos). Quando os miúdos são pequenos, acho que é importante manter a crença, e a barba verdadeira ajuda muito. Faço questão de ser um verdadeiro Pai Natal! Houve um menino que me disse: ‘Ouve lá, eu sei que tu não existes, que és um fulano qualquer com uns pelos falsos colados à cara’. Eu, que me orgulho da minha barba verdadeira, disse-lhe logo: ‘Então puxa’. Ele deu-me um puxão tão grande que até vi estrelas (risos). E foi dali a gritar: ‘Vou dar um murro ao Rodrigo que disse que tu não existes!’ (risos).
Mas adivinho que as crianças mais velhas já venham com outra conversa…
Há quem já não acredite mas goste de tirar fotografia, por duas razões: primeiro porque gostam do carinho, da conversa, da atenção personalizada. Tirar aquela foto é um momento de magia e de festa, um momento só deles, em que alguém lhes dá atenção, e na verdade pouco importa se se acredita ou não. E alguns acham mais seguro fingir que mantêm a ‘crença’ porque sabem que enquanto houver Pai Natal, vai haver presentes.” (risos)
Mas os miúdos ainda confiam no Pai Natal?
Depende. Agora estão mais precavidos. Uma vez apareceram-me uns gémeos carregados de catálogos todos sublinhados. E disse eu: ‘Mas vocês não sabem que o Pai Natal conhece os brinquedos todos?’ Diz um deles: ‘Pois pois. Por isso é que no ano passado trocaste aquilo tudo…” (risos)
Num ano em que se adivinham menos presentes, o Pai Natal continua a apostar na necessidade da magia, das histórias, do encantamento?
A missão do Pai Natal é essa. A fantasia é a capacidade de criar mundos fantásticos, e liberta em todos nós energias criadoras muito importantes para mantermos a sanidade mental. Estar com o Pai Natal é um pequeno-grande momento em que as crianças saem dali um pouco mais acarinhadas. Se as pessoas soubessem como isso é bonito e profundo, apreciavam melhor o que a fantasia nos traz a todos nós…
O que saber antes de ir:
Severino Moreira – Pai Natal para os amigos – já está na Praça Central do Colombo à espera de toda a família, junto à majestosa árvore (que pode ser visitada até 10 de Janeiro). A acompanhá-lo este ano está o Circo de Natal, um circuito de surpresas. Para além destas viagens mágicas, há também momentos de queda de neve artificial, várias vezes ao dia, de hora a hora.
Horários das Visitas ao Pai Natal:
Dias 7, 8, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22 e 23 de Dezembro – Das 10H00 às 13H00 e das 14H30 às 17H00 e das 17H30 às 21H00
Dias 4, 6, 9, 10, 11, 12, 13 – das 13H00 às 16H00 e das 17H00 às 20H00
Dia 24 – Das 10H00 às 14H0
Atenção que, se não quiser estar à espera e quiser poupar as birras dos miúdos, é possível reservar horário para a visita na APP do Centro.