
Não sei se vos acontece isto: quando regressam a um livro onde foram felizes, ficam ali uns minutos a pensar ‘o que é que eu vi nisto’. Outros mantém sempre a sua magia. ‘O Jardim Secreto’ é um deles.
Continua hoje, 111 anos depois da sua primeira edição, um clássico da literatura juvenil. Claro que quando o li pela primeira vez, teria uns 12 anos, não fazia ideia sequer do que era um clássico.
Fiquei rapidamente a saber: durante dois dias quase não dormi (sei sei, não havia telemóveis nem netflix, mas pronto) e em todos os outros dias da minha vida, sempre que ouvia um barulho qualquer durante a noite, pensava no livro.
A história não podia ser mais inglesa: uma rapariga orfã, solitária, e desinteressada de tudo é acolhida pelo tio e vem da Índia, onde vivia, para uma mansão nas charnecas do Yorkshire. Acolhida pelo tio é só uma maneira de dizer, porque ele nunca lá está. Mary fica sozinha na enorme casa com uma criada e o inverno britânico, até que encontra um primo escondido, faz um amigo e acima de tudo (isto é muito inglês) descobre um jardim secreto que lhe ensina a força regeneradora da natureza. Mary salva o jardim e o jardim salva Mary, e claro que a primavera acaba por chegar.
Isto tudo para vos dizer que é um dos livros da minha vida (e da vida de quase todos aqueles que o leram). Há qualquer coisa mística mas muito verdadeira e que continua tão universal hoje como sempre: o poder da natureza e da beleza na nossa vida. A autora, Frances Hodgson Burnett, era uma jardineira entusiasta, e o seu amor pelas plantas e flores passa para nós.
Esta necessidade de natureza sentimo-la com mais força quando fomos forçados a ficar em casa durante a pandemia. Curiosamente, este livro também nasceu de uma pandemia, neste caso de cólera, na Índia, no princípio do século XX (onde morreram os pais e a ‘aya’ de Mary). Também aí o livro tem muitos paralelos com os nossos dias.
‘O Jardim Secreto’ já teve muitíssimas adaptações, em cinema, teatro, desenhos animados, etc. Desta vez, voltei a ele pela mão de uma nova e original edição, em modo ‘novela gráfica’. Publicado pela Fábula, é adaptado por Mariah Marsden com ilustrações de Hanna Luechtefeld. Se quiserem ler, reler ou oferecer o original, há muitas edições por onde escolher.