Nem é por ser absolutamente fã de Harry Potter, que sou. Li todos os livros mais do que uma vez, não por querer mas porque a partir do momento em que calhava pôr os olhos em algum deles, aquilo ia corrido até ao fim. Por isso acabei por lê-los a todos várias vezes. Sou uma crente daquelas irritantes que não desistem de espalhar a Boa Nova, e não percebo genuinamente como alguém pode não gostar.
Os filmes não são a mesma coisa: o universo criado à volta de Harry é tão gigantesco e com tantos pormenores e galáxias diferentes que num filme mais de metade se perde. Nos livros não. Nos livros cada um leva o seu tempo e há uma envolvência que não existe no cinema.
Já vos disse que às vezes tenho saudades de ser a primeira vez que leio um livro, e com os Harry Potters acontece-me isso. Nunca mais vai ser a primeira vez.
Dito isto, nem é por ser a maior fã que esta edição ilustrada daquele que já é um clássico, ‘Harry Potter e a Ordem da Fénix’ (Ed. Presença) é dos melhores presentes que se pode comprar este Natal. Para os outros ou para nós. Aliás, acho sinceramente que é um livro para adultos, os miúdos nem sequer têm força para pegar nele, quanto mais paciência.
E até podia estar em chinês e ser sobre, sei lá, porcas e parafusos: o objeto em si é tão bonito que alegra qualquer vida. Com ilustrações de Jim Kay, vencedor do prémio Kate Greenaway, e de Neil Parker, vencedor do Bologna Ragazzi Award 2021, dá uma vida nova às páginas daquele que é, mesmo dentro da saga, um dos preferidos de sempre.
É na ‘Ordem da Fénix’ que a ‘trama se adensa’ (como se diz nos policiais), que a história se torna mais adulta (com um piscar de olhos à Segunda Guerra), que entram personagens inesquecíveis como a sinistra Dolores Umbrige, a perigosa Bellatrix Lestrange ou a misteriosa Luna Lovegood, e que se sabe mais sobre o Departamento dos Mistérios, a família Black e o mundo para lá de Hogwarts. Quem diz que os ‘Harry Potters’ são sobre ‘um pequeno feiticeiro’ de certeza que nunca leu nenhum dos livros, porque a saga é sobretudo sobre o poder da imaginação e a arte de contar uma história bem contada (diz-se que, quando lhe pediram uma arvore genealógica da família Black para enfeitar uma das cenas do filme, J.K. Rowling apresentou imediatamente uma lista de 70 pessoas, completa com a sua história, a sua relação com as outras e o seu lugar na árvore. A lista detalhada da família não entra no livro, mas passou imediatamente a constar do ‘cânone’).
Portanto, se puderem, e se quiserem um Natal ainda mais (literalmente) mágico, ofereçam um presente a vocês próprios. Além de dinheiro bem empregue, é um verdadeiro investimento. E ainda têm os dois primeiros, ‘A pedra filosofal’ e ‘O prisioneiro de Azkaban’, tão bonitos como este, para completar a coleção.
Harry Potter e a Ordem da Fénix – edição ilustrada, J.K Rowling, Jim Ray e Neil Parker, Ed. Presença, E37,90