Mário Soares, Sá Carneiro, Álvaro Cunhal, Freitas do Amaral e Ramalho Eanes: foram 5 homens muito diferentes mas com um objectivo comum – a democracia portuguesa. Em ‘Os 5 homens que mudaram Portugal para sempre’, a jornalista Isabel Nery faz a biografia cruzada dos políticos que mais marcaram o nascimento da democracia portuguesa. E o interesse do livro está precisamente neste cruzamento de vidas e experiências tão variadas.
“A revolução foi feita pelos militares, mas depois do golpe foi preciso construir uma democracia do zero”, explica Isabel Nery à ACTIVA. “Para isso eram precisos os políticos e os partidos. Soares e Cunhal lideravam partidos na clandestinidade, Sá Carneiro e Freitas do Amaral criam partidos depois da revolução. Eanes é o primeiro Presidente da República eleito depois da revolução. Biografá-los é um pouco como biografar a nossa democracia e por isso aceitei o convite da Leya para escrever este livro. Foi uma empreitada louca, mas sinto um enorme fascínio por este período.”
O que mais a surpreendeu quando se deparou com tanto material biográfico, curiosamente, foi perceber como estes 5 homens tão diferentes tinham tanto em comum. “Todos eles tiveram educação católica, quatro deles eram de famílias de classe média-alta e estudaram Direito. Eanes é o único que vem de uma família modesta e escolhe a carreira militar. Todos, excepto Soares, perdem um ou mais irmãos durante a infância, o que marca a vida familiar e o investimento feito pelos pais no futuro de cada um.”
Todos tiveram um objetivo comum: acabar com a ditadura. E à posteriori, dizer isto parece bastante mais fácil do que e facto foi. N”a verdade, era muito mais provável que corresse tudo mal. Mas esse objetivo permitiu uma transição pacífica.”
Claro que o percurso de cada um traz a este livro uma riqueza que o torna, além de instrutivo, muito interessante de ler. Como é que a autora define cada um deles, e o que é que cada um trouxe a Portugal? “Cunhal foi resistência, tendo estado preso mais de 11 anos seguidos e vivido na clandestinidade a maior parte da sua vida. Soares foi persistência, porque entrou e saiu da cadeia e esteve exilado. Enquanto escrevia o livro perguntava-me muitas vezes quantas pessoas estariam hoje dispostas a abdicar das suas vidas para conquistar a democracia. Sá Carneiro foi combativo. Vindo da Assembleia Nacional da ditadura, bateu com a porta ao perceber que não ia mudar a partir de dentro, tendo sido o número dois do primeiro governo provisório. Freitas do Amaral redigiu as primeiras leis do sistema democrático. Eanes liderou o processo de transferência do poder militar para os políticos, algo raríssimo, senão inédito, na história da humanidade. Todos deram um contributo fundamental para a democracia.”
‘Os cinco homens que mudaram Portugal para sempre’ – Isabel Nery, D. Quixote, E19,71