A 4 de Agosto de 1944, apenas 9 antes do fim da guerra, a polícia alemã invadiu o prédio da empresa Opetka, em Amesterdão. Os polícias encontraram oito judeus clandestinos que desde Julho de 1942 viviam escondidos num anexo secreto. Entre esses oito estava uma jovem de 15 anos que havia de ficar célebre por um dos livros mais famosos do mundo: Anne Frank.
Os outros sete eram os pais, Otto e Edith, a irmã Margot, Hermann, Auguste e Peter van Pels (a família de outro funcionário judeu da Opekta), e Fritz Pfeffer, um dentista amigo de Otto. É a história desses sete clandestinos que se conta em ‘Depois do diário’, de Bas von Benda-Beckmann.
O que aconteceu a Anne depois desse momento é conhecido na sua tragédia: morreu de tifo no campo de concentração de Bergen-Belsen, em fevereiro de 1945. Mas a maioria de nós não sabe muito mais além disso. Um dos mais famosos e impressionantes documentários de sempre, ‘Os últimos sete meses de Anne Frank’ (que também existe em livro) realizado pelo holandês Willy Lindwer, mostra-nos o que aconteceu durante esse tempo. Mas qual foi o destino das sete pessoas que viviam com Anne no Anexo? Como foi a deportação? Como chegaram aos campos e o que ali viveram? Qual foi o seu fim? “A partir desse momento, a sua existência fica envolta em mistério”, conta o autor. “Oito pessoas num mar de milhões de deportados e vítimas do Holocausto. O que sabemos sobre o seu destino baseia-se em informações fragmentadas e testemunhos de sobreviventes.”
Este livro baseia-se numa pesquisa de Erika Prins, da investigadora da Casa Anne Frank. E a história dos oito clandestinos é ainda mais interessante porque aparece aqui no seu contexto histórico. Seguindo o rasto destas pessoas, o autor mostra como funcionava o sistema dos campos de concentração, como era cada um deles e como se vivia e morria.
Dos oito ocupantes do anexo, só uma sobreviveria ao fim da guerra: Otto Frank, o pai de Anne. O facto de sabermos de antemão que nenhum dos outros teve um final feliz ajuda a que o livro não seja uma leitura emocionalmente fácil, levando cada história ao seu inevitável desfecho trágico.
O facto de se saber tão pouco sobre estas pessoas também resulta da política de aniquilação e humilhação dos judeus: o holocausto não lhes tirou apenas a vida e a dignidade, mas privou-as também de de partilharem os seus destinos, experiências e memórias.
Por isso também este livro é tão importante: resgatando um pouco mais da história dos oito ocupantes significa também devolver-lhes um pouco da dignidade perdida, mostrando aos que vieram depois a importância da memória. Esperemos que quem veio depois – nós e os nossos filhos – saiba dar-lhe valor e usá-la para que estes acontecimentos nunca mais se repitam.
‘Depois do diário‘ – Bas von Benda-Beckmann, Casa das Letras, E22,90