Então agora que já estamos devidamente recuperadas dos monstros, vamos deixar por momentos a literatura portuguesa e viajar até à China com ‘A senhora Tan e a aliança de mulheres’, de Lisa See. Baseado nos escritos de uma médica real da dinastia Ming, a história começa em 1469, quando Tan tinha 8 anos.
Esta havia de se tornar médica num tempo em que Colombo não tinha sequer avistado as Américas e em que a medicina chinesa explicava as doenças quer como um desequilíbrio ou uma corrupção dos quatro humores (sangue, muco, bílis amarela e bílis negra). Os medicamentos eram geralmente feitos de alccol e ervas, e recorria-se regularmente à sangria com sanguessugas.
Mas as mulheres eram consideradas dez vezes mais difícies de tratar que os homens. Engravidavam, davam à luz, tinham temperamentos e emoções diferentes.
Tan Yunxian nasceu numa família nobre e estudou medicina desde pequena, aliando-se a Meiling, uma jovem parteira. Isto acaba quando Yunxian é obrigada a casar, proibida de praticar medicina e instada a portar-se como uma senhora respeitável (o que implica enfaixar os pés, recitar poesia, ter filhos rapazes e não sair de casa).
Claro que Younxian acaba por quebrar as tradições e tornar-se uma médica capaz de ajudar as mulheres, criando remédios que ainda se usam hoje em dia.
Como nota uma leitora no Goodreads, “ É interessante pensar que esta terá sido a China que os portugueses encontraram na época dos Descobrimentos, e não seria provavelmente muito diferente da que encontrou o conde de Arnoso no final do século XIX.” Para nós mulheres do século xxi, é especialmente interessante (bem, é horrivelmente interessante, para sermos honestas) ler sobre algumas práticas desumanas como o enfaixamento dos pés e as suas terríveis consequências, por exemplo. Mas o livro é muito mais do que isso, e traz-nos a história de uma mulher que seria notável até no mundo de hoje.
‘A senhora Tan e a aliança de mulheres’ – Lisa See, Ed. Asa, E17,91