‘A casa de vidro’ foi um dos livros mais giros que li nos últimos tempos, mas passou totalmente despercebido em Portugal. Se uma amiga não me tivesse dito ‘vai ler, que vale mesmo a pena’, eu nunca lá teria chegado.

Então, história: são duas. Comecemos pelo esquema original: o livro está impresso como se fossem dois em um: começando por uma ponta é um livro (até meio), começando pela outra, é outra história. As duas estão interligadas, ou seja, uma lança luz sobre a outra, mas podemos começar por qualquer lado: pela que se passa em 1881, Inglaterra, ou pela que acontece em 1939, Califórnia. Começamos a ler por um lado qualquer, chegamos a meio e a história acaba, viramos o livro ao contrário e recomeçamos pelo outro lado. Muito divertido.

Aconselharam-me a começar pela de 1881, mas como sou do contra, comecei pela de 1939. Percebi porque é que faz sentido começar cronologicamente, mas também se percebe tudo se fizerem como eu. Ou seja: se começarem pelo ‘fim’, percebem logo o que é que estão a ler da primeira vez. Se começarem pelo princípio, não sabem para que serve aquela história mas mais tarde percebem onde é que o ‘herói’ vai buscar as pistas para desvendar o mistério. Ou seja, mais uma vez, nenhuma das duas histórias se percebe totalmente sem a outra.

Então, a(s) história(s): comecemos pelo lado azul. Um jovem médico é chamado a uma localidade sinistra e lúgubre (adoro esta palavra), no meio de pântanos, para prestar assistência a um tio que está a morrer e que alega ter sido envenenado pela sua prisioneira. O tio vive na Turnglass House (a casa da ampulheta de vidro), uma sinistra casa toda feita de vidro. Dentro da casa de vidro existe uma espécie de compartimento também de vidro onde está trancada Florence, cunhada do moribundo, que ali está porque matou o marido (irmão do dito moribundo).

Todo este ambiente é de pôr os cabelos em pé. Claro que o médico lá chega e começa a investigar toda a história: quem está a envenenar o tio, qual é a sua relação com a prisioneira, o que aconteceu naquela estranha casa e naquele triste sítio.

Bem, mistério deslindado, voltamos a coisa de pernas para o ar e começamos o livro vermelho, mais de 100 anos depois, na soalheira Califórnia. A casa é e não é a mesma. Desta vez aparece-nos cheia de luz e de gente, e constantemente em festa. O nosso herói agora é o jornalista Ken Kourian, que se torna amigo de um escritor, Oliver. Quando Oliver aparece morto, Ken e a irmã de Oliver, Coraline, começam uma viagem alucinante para perceber quem está por trás da sua morte. As únicas pistas que têm vêm do último livro escrito por Oliver.

Além do ritmo imparável das duas histórias, o leitor mais ‘lido’ vai ter o prazer de encontrar uma espécie de pastiches literários. Enquanto no primeiro livro encontramos um romance à século XIX, completo com o ambiente gótico, chuva e lama, mortos em pântanos e mulheres distantes (o herói, Simeon Lee, até partilha o nome com uma personagem de Agatha Christie), no segundo encontramos um piscar de olhos ao ‘Great Gatsby’ e aos filmes de acção, onde não faltam perseguições, aviões, carros e combóios. Os mistérios não são muito arrevezados (qualquer pessoa adivinha) mas o – ou os – livros são um divertimento puro e um prazer bastante original em tempos tão pouco dados a originalidades.

Pronto, é verdade que a natureza dual do livro, que espelha a casa – a ampulheta que se vira – perde-se completamente no título português. Mas também é verdade que ampulheta é uma palavra muito feia, e ‘Casa da ampulheta de vidro’ também não servia. Enfim, não se pode ter tudo. Vão lá ler esta casa de vidro e depois digam-me por onde começaram.

A casa de vidro’ – Gareth Rubin, Lua de Papel, E19,71

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