Chamaram-lhe o
hooligan da moda, quando apareceu como a sua mais jovem, criativa e talentosa revelação, em meados da década de 90. A alcunha caía-lhe como uma luva, em parte por causa do
look rebelde inicial, em parte pelas suas criações revolucionárias. Foi Isabella Blow, editora de moda da revista Tatler que se tornaria a sua melhor amiga, quem o descobriu, quando comprou por cinco mil libras toda a colecção que ele criara para o seu trabalho final do curso de design de moda, na prestigiada Saint Martin’s College of Art and Design. Nascia uma estrela.
Lee Alexander McQueen – amigos e família conheciam-no por Lee – nasceu no East End de Londres, sexto e último filho de um taxista e uma professora. Deixou a escola aos 16 anos e começou como aprendiz nas internacionalmente célebres alfaiatarias londrinas de Savile Row, onde aprendeu a cortar e coser com mestria. Mais tarde candidatou-se a um emprego como tutor de modelistas (responsáveis por cortar em tecido os moldes previamente desenhados das peças) na Saint Martin’s College. Ao ver o seu
portfolio, o reitor aconselhou-o a inscrever-se no curso em que acabou por se formar. Criou, então, a sua própria marca, com a ajuda de Isabella.
As primeiras colecções em nome próprio deram nas vistas. Em Março de 1995 apresentava a colecção ‘Highland Rape’, em que usou restos de retalhos de tecidos, vestidos e saias de renda rasgados. São dessa altura, também, as famosas calças
‘bumster’, de cintura bastante descaída.
Em 1996, a Givenchy escolheu-o para suceder a John Galliano como designer. A convivência não foi muito pacífica. O designer deixa a marca em 2001, queixando-se de que a sua criatividade estava a ser restringida, depois do grupo Gucci comprar 51% da sua própria marca, lançando-o em praças-fortes como Nova Iorque, Londres, Los Angeles e Milão.
As suas colecções misturavam ousadia e excelência técnica, em desfiles que eram espectáculos visionários e poderosos, onde revezava cenários etéreos e agressivos, passarelles cobertas de neve, robots que esguichavam jactos de tinta na roupa das modelos. Cathy Horyn, jornalista e crítica de moda do New York Times, disse sobre ele: "Era um óptimo
showman mas, mais do que os seus elaborados, muitas vezes negros e profundamente românticos desfiles, ele conseguia mesmo conceptualizar a moda. Percebia que não era uma questão de fazer roupas giras para usar; moda são ideias, imaginação, expandir as fronteiras."
Assumidamente homossexual, definia-se ironicamente como a "ovelha cor-de-rosa da família. Estou seguro de mim próprio e da minha sexualidade, não tenho nada a esconder. Saí directamente da barriga da minha mãe para a parada gay."
A morte de McQueen aconteceu a um mês de completar 41 anos e a poucos dias de apresentar a sua colecção Outono/Inverno. O suicídio tem sido a causa de morte mais veiculada, embora não existam ainda comunicados oficiais. Vivia um período de profundo pesar, iniciado há quase três anos com o suicídio de Isabella Blow e rematado pela morte da mãe, há apenas 10 dias. McQueen terminara também, recentemente, um relacionamento amoroso, segundo jornal Times.
Apesar do período de tristeza, os seus últimos desfiles foram aclamados pela crítica, nomeadamente a colecção Primavera-Verão 2010, inspirada na Natureza e no evolucionismo de Darwin, que mereceu transmissão em directo na Internet, e o desfile da sua linha masculina, que decorreu em Milão, em Janeiro.
Uma morte que chocou fãs e colegas como Karl Lagerfeld, que comentou: "A sua história é de sucesso e talento, mas talvez isso não seja suficiente para nos mantermos vivos."