Recentemente a imprensa assinalava que a Rainha Letizia teria adoptado uma atitude diferente, a bem da sua imagem: submissa em público, independente (ou mandona, como juram alguns) em privado, construindo uma figura mais doce, graciosa e de acordo com o que se espera da sua posição. Nada de surpreendente aqui, como aliás já tinha comentado convosco.
Mas há dias Doña Letizia espantou Madrid ao aparecer de jeans rotos (que alguns comentaram parecerem consequência de uma queda de bicicleta, pela configuração dos rasgões) e ténis. Não Keds ou outra sapatilhinha preppy, mas um modelo de streetwear, quase adolescente.
Ora, aqui há duas questões: por um lado, a correcção/estética do conjunto (carteira pele de cobra + t-shirt estampada+ ripped jeans + ténis…) por outro, se é adequado à sua idade e condição. Ou ainda, como aponta este texto, quão moderno é demasiado moderno? A autora cita – e bem – Oscar Wilde, que afirmava “nada é tão perigoso como ser demasiado moderno”.
As flutuações de performance e estilo da agora Rainha consorte de Espanha foram uma constante desde que se tornou Princesa das Astúrias. Se há uns anos era criticada pelos espanhóis à conta doszapatochos vertiginosos, outras vezes foi apontada por usar bailarinas em circunstâncias que pediam outra formalidade, e agora ténis. Nela nada é mediano, o que pode ser uma qualidade se orientada na direcção certa.
Falando novamente no carácter que atribuem à mulher do Rei (já que é difícil separar personalidade da forma como alguém se apresenta) qualquer qualidade- como uma personalidade forte e determinada, que dá muita graça – deve ser polida para não cair no excesso. Numa mulher, o carácter felino e caloroso é como a pimenta na cozinha ou os ciúmes numa relação: um bocadinho é bom. Neste caso, talvez – digo eu – seguir um pouco o gosto do marido, quanto mais não seja por uma questão de harmonia, talvez fosse o caminho mais simples.
Note-se que D. Filipe vai o mais descontraído possível, mas clássico.
Depois, há a questão da simplicidade e de uma informalidade que se tornou hábito, para o bem e para o mal.
Por um lado, para o século XXI cai bem à opinião pública uma Rainha consorte que saiu do povo e com ele se mistura, provando que é uma mulher como as demais (uma qualidade que sempre cativou nos monarcas, não há aqui novidade; D. Pedro I e já no sec. XX, a Rainha Astrid dos belgas, para não falar na Princesa Diana de Gales, ganharam o carinho dos súbditos pela sua simplicidade).
Mas por outro, as pessoas gostam de ter quem as represente com brilho e dignidade, querem ter ao que aspirar, precisam de sonhar. Quando se representa uma instituição, não se pertence a si mesmo (a).Tudo isso faz parte. Doña Letizia é Rainha Consorte de Espanha 24 horas por dia – logo, mesmo nos momentos em que não está sujeita às mais rígidas regras de protocolo, há certas expectativas que convém manter. À mulher de César não basta ser séria…sabem o resto.
Além disso, mesmo que falemos em Letizia Ortiz, ex jornalista, esposa e mãe como tantas outras, a Rainha de Espanha está como todas as mulheres que se importam com a sua imagem por este ou aquele motivo (quanto mais não seja manter a cara metade feliz e sentir-se bem consigo própria) obrigada às regras básicas de elegância. E segundo essas regras, não é que uma mulher da sua idade não possa usar ténis, t-shirts juvenis ou jeans rotos (não será uma primeira escolha, mas não é proibido); todavia, esta não será a opção – ou antes, a combinação- mais acertada para sair à noite, mesmo para o cinema.
Num passeio à tarde pelo bairro ou ida ou supermercado, num dos festivais de música que tanto parece apreciar, vá que não vá ( embora existam alternativas igualmente descontraídas e mais elegantes) mas depois do pôr do sol, e tendo em conta o visual do marido, seria talvez sensato coordenar a toilette de uma maneira mais composta.