
Robert Wilson, conhecido também como Bob Wilson, assinou o cenário para o desfile de apresentação da coleção ready-to-wear da Dior para o outono/inverno 2025-2026. O romance Orlando, de Virginia Woolf, adaptado para teatro em 1996 pelo realizador e dramaturgo norte-americano, serviu de inspiração (e ponto de partida) para a criação de uma ‘peça de teatro’ de moda.

Maria Grazia Chiuri, autoproclamada feminista, fugiu à sua própria regra – criada desde que, em 2016, assumiu a direção criativa da Dior – e, pela primeira vez, não convidou uma mulher artista para ‘encenar’ o desfile da maison francesa na Semana de Moda de Paris. Eis uma estreia.

“É uma honra trabalhar com Bob Wilson. Na minha opinião, é mais fácil para um designer criar roupas para cinema ou teatro do que para um grande realizador trabalhar num desfile de moda. Razão pela qual fiquei tão impressionada com as ideias do Bob”, frisou Maria Grazia Chiuri, numa conferência de imprensa, antes do desfile começar.

Realizado no Jardin des Tuileries, na capital francesa, o espetáculo-desfile foi dividido em cinco actos, abrindo com uma modelo, pensativa, sentada num baloiço. Seguiu-se um pássaro branco pré-histórico a sobrevoar a passarelle, assim como a presença de rochedos, lava quente projetada no pavimento, cometas imaginários e até o aparecimento de icebergues.

Num diálogo entre moda e literatura, passado e presente, a nova coleção ready-to-wear da casa francesa para o outono/inverno 2025-2026 é marcada pelas referências a Orlando, de Virginia Woolf, através, por exemplo, dos folhos em forma de gola amovível, mas também a Gianfranco Ferré (o primeiro designer da Dior que não chegou a trabalhar com Christian Dior) e John Galliano (homenageado com uma versão punk da t-shirt “J’Adore Dior”, um ícone do criador britânico).

A nova coleção, assinada por Maria Grazia Chiuri, mergulha no ADN da Dior (é conhecida a obsessão da designer italiana pelos arquivos da marca) e, em particular, no legado dos seus antecessores. “A diretora criativa quis revisitar as memórias e os gestos que pertencem ao património Dior, estabelecendo um diálogo pluralista com a história da moda em constante evolução”, lê-se em comunicado.

O desfile da Dior (ou, melhor, performance) contou com 80 looks, apresentados por um elenco de modelos. O destaque da nova coleção vai para o cruzamento de diferentes materiais (bordados, rendas, tules, tecidos estruturados) e a exploração da feminilidade, trazendo o guarda-roupa masculino dos séculos anteriores para a contemporaneidade e esbatendo as fronteiras do género.