Catarina Beato

Conhecemo-la, primeiramente, como princesa, nas partilhas que fazia dos seus dias. Hoje, Catarina Beato continua a acreditar em histórias de encantar, mas sabe que o maior encanto está na forma bonita como cada princesa deve – e pode – salvar-se a si própria. É nesta concretização que o amor começa em nós, e que esta fórmula não pode ser invertida, que Catarina se baseia para olhar a vida e as relações. Na verdade, tornou-se mentora na área das relações, ajudando quem a procura a encontrar a sua história de amor feliz ou a conseguir viver o amor que já tem de forma mais plena. Porque Catarina sabe o que é morrer de amor, mas também sabe o que é refazer-se dessa dor para voltar a ser inteira. Uma completude a que temos que nos entregar, para nos podermos dar ao outro.

O amor feliz que vive hoje ao lado do marido, Pedro, é fruto desta entrega e de “muito trabalho de desenvolvimento pessoal e em casal”. Um exemplo que quer passar para os filhos, Gonçalo, de 19 anos, Afonso, de 11, Maria Luiza, de cinco e Mariana, de um.

– Quando falamos em mentoria de relacionamentos, falamos exatamente do quê?

A mentoria é um acompanhamento para que o mentorado possa alcançar os seus objectivos na área dos relacionamentos amorosos. Poderá ser alguém que está numa relação e quer melhorar a dinâmica do casal, alguém que quer encontrar a sua história de amor ou que pretende terminar, ou gerir o fim do seu relacionamento. É importante diferenciar a mentoria da terapia. Este é um processo focado no presente e nas ações que podemos concretizar para desenhar o futuro. Muitas vezes precisamos de respostas e de orientação. O mentor tem o distanciamento necessário para ajudar nesse processo de descoberta. Quem me procura tem tudo o que precisa, eu só ajudo a descobrir e por isso em prática.    

– Segundo a Catarina, esta é uma ferramenta também direcionada para quem procura o amor, mas ainda não o encontrou. Este saber estar numa relação saudável começa ainda antes da própria história de amor? 

Uma relação saudável começa por conseguir exactamente isso connosco. Somos a primeira e a mais duradoura história de amor das nossas vidas. Perceber quem somos, estar consciente das nossas necessidades e limites, aceitar que a nossa verdade é válida independentemente do resto do mundo, é empoderador.
E é este processo de autoconhecimento que permite sermos autênticos nas relações que estabelecemos com os outros. O trabalho que faço com as mulheres e homens que estão à procura de uma relação passa por isto: conhecer quem são, saber o que querem e saírem da bolha para conhecerem pessoas novas.

Quanto melhor nos conhecermos mais capazes somos de duas coisas fundamentais para uma boa história de amor: não querer ser salvo e sabermos que não vamos salvar ninguém.  


– Para conseguirmos estar plenamente com o outro, temos primeiro que saber de nós?

As relações também podem ser um cenário de auto descoberta e cicatrização de feridas. Ou seja, podemos fazer estes processos e já estar numa relação. Naturalmente, quanto melhor nos conhecermos mais capazes somos de duas coisas fundamentais para uma boa história de amor: não querer ser salvo e sabermos que não vamos salvar ninguém.  


– Há uma lacuna na comunicação dos afetos que é muito palpável. Não investirmos nesta comunicação emocional e afetiva é perpetuarmos padrões que por norma não abonam a favor das relações (e de nós mesmos)?

Não somos ensinados a comunicar em verdade. Brinco sempre com a metáfora da noite de Natal. Crescemos a aprender a dizer que gostamos de algo que não gostamos em vez de dizermos que não gostámos de forma assertiva e educada (ou seja, com respeito pelo outro). Aceder às nossas emoções exige tempo e espaço. Esta nossa vontade de sermos aceites e validados faz-nos olhar mais para aquilo que queremos que os outros sintam em vez de pensarmos no que estamos a sentir. O problema é que depois duvidamos do que sentem por nós – por não existirmos de forma autêntica – e tiramos espaço aos outros para que eles também existam de forma autêntica. É um ciclo. Tudo começa na forma como educamos os nossos filhos. Se um filho chora, acolho, não lhe peço que fique feliz e muito menos passo responsabilidade sobre aquilo que as emoções dele me fazem sentir. 


– Quais são os maiores erros que cometemos numa relação?

O maior erro é não comunicar. Acreditamos mesmo que existe adivinhação no amor. “Se me amas é suposto saberes o que estou a pensar e a sentir”. Nada mais errado. Cada pessoa é única, tem uma história, dores e alegrias que condicionam aquilo que vê e sente. Aquilo que é óbvio para mim não é para a outra pessoa. Achamos que pedir ajuda e dizer o que precisamos tira beleza ao que o outro depois faz por nós. Comunicamos pouco, de forma implícita, e personalizamos. Estamos demasiado preocupados em “não ter culpa” em vez de querer apenas acolher o que o outro nos diz. Queremos que exista uma verdade e existem sempre duas verdades numa relação de duas pessoas. Aceitar isso simplifica muito as coisas. 

– Crescemos a acreditar que o amor é suficiente para sustentar uma relação. Mas nas exigências do dia-a-dia, o amor não chega, pois não? Ou melhor, sozinho não é suficiente para sustentar a longevidade de uma vida feliz a dois?

A longevidade do amor é um conceito relativo. Que dure enquanto um mais um for superior a dois. Tendo em conta que uma história de amor não é o segredo para a felicidade. Uma história de amor feliz faz-se também de desconforto. Evitarmos estas situações por medo que isso estrague o relacionamento, levará a um crescente distanciamento. Se o amor bastasse todos os pais e filhos viviam de forma plena e maravilhosa na mesma casa! E sabemos que não. O amor é a base e a consequência. Uma relação é um organismo vivo, em constante mudança, feito de acertos. Uma boa história de amor exige compromisso e dá mais trabalho do que parece nos filmes.

Estamos demasiado preocupados em “não ter culpa” em vez de querer apenas acolher o que o outro nos diz. Queremos que exista uma verdade e existem sempre duas verdades numa relação de duas pessoas. Aceitar isso simplifica muito as coisas. 

– Fala-se muito do pouco investimento que hoje há nas relações e em como à mínima adversidade se deita a toalha ao chão. Vivemos, de facto, numa sociedade de consumo imediato do amor?

Não concordo. Se podemos comunicar com alguém que está a milhares de quilómetros de nós de forma imediata, sentimos que as coisas estão mais rápidas. Por outro lado, felizmente, a lei do divórcio existe (e em Portugal nem há 100 anos existe essa possibilidade e, a pedido da mulher, ainda há menos tempo). É verdade que temos várias aplicações em que as pessoas podem cruzar-se com outras pessoas. É mais fácil chegar a alguém e desaparecer da vida de alguém. “Consumo imediato” existirá sempre. Nas histórias de amor existirão pessoas que querem superar as dificuldades e outros que desistem. Trabalhar um relacionamento pode ser muito bom, mas sair dele pode ser melhor ainda (e sinal de inteligência).


– Será que todos procuramos o nosso final feliz, mas não sabemos percorrer o caminho até ele?

O que é o final feliz? As relações não podem ser o objetivo maior da vida, nem sequer são sinónimo permanente de felicidade. Temos que ser inteiros e deixar isso de procurar a metade. Sim, muitos de nós querem viver a(s) sua(s) histórias de amor. E temos que ser capazes de investir para que viver em equipa seja muito melhor que viver sozinho. O ideal é fazer para que o durante seja muito bom!

As relações não podem ser o objetivo maior da vida, nem sequer são sinónimo permanente de felicidade. Temos que ser inteiros e deixar isso de procurar a metade.

– A Catarina aprendeu com o seu filho mais velho que “só fazemos os outros felizes quando não desistimos de o ser”. Este caminho, em que ajuda os outros no encontro da felicidade, é uma demonstração desta premissa? 

Sinto-me verdadeiramente a cumprir o meu propósito quando oriento os outros para as suas histórias de amor mais felizes. Na verdade, as histórias de amor foram o ponto comum de tudo o que fiz na vida. Perceber que se construíam com trabalho e não com magia, trouxe-me até aqui. Nunca desisti de ser feliz todos os dias, mesmo quando isso passa por aceitarmos os dias menos felizes. Devo aos meus filhos ser um exemplo, não de perfeição, mas de tentativa. E devo ao meu pai e à Lígia. 


– Quando é que percebeu que este era o seu propósito? 

Como disse, as histórias de amor foram o ponto comum de tudo o que fiz na vida. Mas na teoria e nos caracteres. Depois conheci o Pedro, há oito anos, e nessa altura comecei a estudar para por em prática. Juntei a muitos anos de terapia, uma certificação como coach e vários cursos mesmo focados nos relacionamentos. Durante o confinamento perdi a minha “esposa” (a minha amiga mais que amiga, Lígia) e voltei a olhar para a vida. Queria levar o meu propósito ao mundo. E aqui estou.

As histórias de amor foram o ponto comum de tudo o que fiz na vida. Perceber que se construíam com trabalho e não com magia, trouxe-me até aqui.

– Em que medida é que as experiências que a compõem a ajudaram a perceber melhor os meandros do amor?

Falo da minha história com o Pedro porque foi vivida num momento em que já partilhava muito da minha história. Não falo sobre tudo o resto porque as minhas histórias fizeram-se da intimidade de outras pessoas. Tudo aqui que vivi deu-me, acima de tudo, a visão que não existe “certo e errado”, “normal ou anormal”. Cada pessoa tem a sua história e a sua verdade. E está tudo bem, mesmo quando não parece. 


– De que se faz um amor duradouro?

Um amor bom, um amor que respeita, um amor que acrescenta, faz-se da escolha. E não é escolher o outro, é escolher a relação todos os dias. 

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