Foi na ilha de S. Miguel, Açores, que nasceu, mais concretamente na cidade de Ponta Delgada, a 29 de agosto de 1977. Inscreveu-se no concurso para faroleiros, o primeiro aberto ao sexo feminino, em 2004, e foi aprovada. Passou mais de 7 anos em faróis no arquipélago dos Açores.
FILHA DO MAR
Não pode ser coincidência que no primeiro curso para mulheres faroleiras tenha havido 3 candidatas do arquipélago dos Açores. Apaixonada confessa pelo mar, Goretti cresceu na freguesia dos Ginetes e muitas das suas brincadeiras de infância e adolescência tiveram ao longe a vigília do farol da Ferraria. O local impressionava-a, mas confessa que nunca tinha pensado ir para faroleira em criança, até porque era uma atividade vedada às mulheres. Concluiu os estudos e foi arranjando empregos aqui e ali, mas nada que lhe desse prazer ou sentisse que tinha futuro. Foi em 2004, quando abriram vagas para faroleira, que sentiu alguma esperança na estabilidade profissional que tanto desejava e, ouro sobre azul, iria vestir uma farda, como tanto gostava, e estar perto do mar.
MULHER DOS 7 OFÍCIOS
Os testes de admissão não foram fáceis, desde matemática, passando por eletricidade e até mecânica teve de fazer. Passou a tudo! Depois foram os meses na formação, lá vieram outra vez a eletricidade e a mecânica, além da logística e de ajudas à navegação. Isto porque para estar num farol é preciso ser autónomo e estar preparado para qualquer eventualidade. Desde uma falha de eletricidade ou avaria mecânica, o faroleiro tem de saber fazer esse tipo de reparações, além da manutenção do próprio farol, que pode ir da limpeza das delicadas lâmpadas à anotação das condições do mar e do tempo até a pinturas. “Costumo dizer que tanto pegamos num martelo como num pincel ou numa esferográfica. Temos de ser polivalentes”, conta Goretti. Depois da formação, estava na hora de pôr em prática os conhecimentos. A primeira prova a sério que teve de superar foi no farol do Albarnaz, na ilha das Flores, tendo lá ficado dois anos. Seguiram-se depois mais cinco no farol Gonçalo Velho, em Santa Maria. A solidão das noites de serviço ao farol são difíceis, sobretudo quando os ventos fortes e as chuvas torrenciais batem insistentemente no vidro da torre. “Nos faróis temos uma vista magnífica sobre o mar, quando o tempo está bom é calmante e é a companhia ideal para ler um livro, mas quando há tempestade é assustador. Houve dias terríveis, em que mal conseguia abrir a porta do farol com rajadas de vento a 250km/h. Quando estava em Santa Maria, eu e os meus dois camaradas de guarnição tínhamos de fazer a manutenção dos farolins, que ficam em zonas altas e de difícil acesso nos extremos das ilhas, e às vezes o vento era tão forte que não conseguíamos lá chegar perto.” Depois das horas ao serviço no farol, Goretti ia para casa, que ficava a meia dúzia de metros, logo longe das populações locais. Para combater a solidão, lia livros, via filmes, falava com a família por telemóvel e acolheu um gatinho que a acompanhou mesmo quando veio para o continente.
DEPOIS DA TEMPESTADE, A BONANÇA
Após sete anos a viver num farol, Goretti pediu para ser transferida para a Direção de Faróis, em Paço d’Arcos, ali faz restauro e acompanha os visitantes ao museu, “muitos faróis portugueses remontam ao século XVI, são um património cultural importantíssimo”. Para trás ficaram os turistas que iam bater à porta do farol (e ficavam surpreendidos por verem uma mulher aos comandos), os sustos (como o que passou num dia horrível de inverno, quando o barco que a levava até ao Corvo, para a manutenção do farolim, começou a meter água no meio de vagas gigantescas) e os pedidos SOS das embarcações piscatórias, às quais Goretti tinha de prestar auxílio. Outros desafios virão, porque como diz “a luz de um farol nunca se pode apagar”.