Loonor Silva/fotos: DR

É formada em História, tem um mestrado em Arqueologia e em 2017 – já depois dos 50 anos – lançou a sua própria marca de joalharia, a Leonor Silva Jewellery. Considera-se uma joalheira de intervenção, cada peça tem uma “mensagem social poderosa”. Para assinalar os 50 anos do 25 de Abril criou uma coleção que é um “grito de liberdade”, com peças tão lindas quanto pertinentes. Falámos com Leonor Silva.

História, Arqueologia…. como chegou à joalharia?

A paixão pela joalharia esteve sempre presente na minha vida. Os adornos da antiguidade faziam parte do meu quotidiano e despertavam um fascínio incrível, sobretudo pelo significado que passavam. Sempre senti que a produção em massa não tem essência, e isso, levou-me a criar as minhas joias, sem metal precioso, e a personalizar tudo o que usava no meu dia-a-dia. O resultado era muito impactante e intemporal, descobrindo que havia espaço no mercado para o que visionava fazer um dia.

Era um sonho?

Sim, era um sonho guardado e alimentado diariamente, pois sabia que um dia iria fazer dele o meu modo de vida, foi tudo uma questão de tempo.

Nunca é tarde para perseguirmos os nossos sonhos?

Nunca, eu acredito que estamos sempre a tempo! Depois de termos a coragem de ir atrás dos sonhos, temos de maturar e planear bem a sua concretização e, ter noção que não acontece como nos contos de fadas. A persistência, a resiliência e o foco são cruciais para atingirmos a concretização de um projeto de vida que reflete a nossa essência.

As mulheres mais velhas tornam-se invisíveis para a sociedade?

De todo! As mulheres mais velhas têm uma força indestrutível, e o seu caminho torna-as poderosas. Esta sociedade de consumo rápido ludibria-nos com imagens de perfeição, que na maioria das vezes, são completamente vazias e desprovidas de significado e, é isso que temos de mostrar às mulheres mais jovens, que estão sujeitas a uma pressão desmedida. A idade traz-nos uma maturidade e um discernimento imprescindível para qualquer sociedade evoluída. Pensar que uma mulher de idade madura é descartável ou invisível, é uma ideia completamente aberrante.

É uma joalheira de intervenção?

Sim! A marca Leonor Silva Jewellery define-se pelo fabrico de peças de joalharia artesanal de valor artístico com uma mensagem social poderosa, elevando o papel da mulher na sociedade. Jamais, faço uma joia por ser bonita, cada peça que faço existe pela força da mensagem que transmite. As minhas joias são um instrumento de comunicação pela defesa de princípios e direitos que considero basilares numa sociedade desenvolvida.

Lembra-se de quando tomou essa consciência ‘política’?

Nasci 9 anos antes da revolução e através da minha família sempre tive muito presente o antes e o depois do 25 de Abril. Sempre fui muito crítica em relação àquilo que me rodeia, em grande parte porque cresci numa fase de viragem, de subversão, mas também pela minha formação académica. A História está repleta de factos que nos envergonham e que devemos ter presentes para que nunca mais se repitam. A memória é um património que deve regular as nossas ações, desde as mais simples às mais complexas.

Quais são as suas causas?

As mulheres, sempre, nomeadamente a liberdade e a autodeterminação de decidirmos sobre nós próprias. A defesa pelas liberdades individuais de cada um é algo de que não abdico. Todos somos diferentes, mas todos temos um coração que bate da mesma forma, por isso, tanto o respeito como a aceitação do outro deve ser algo natural, que não precisa de ser regulado. O respeito pelo planeta Terra, e a defesa de ações que respeitem o equilíbrio da natureza.
As causas que referi podem parecer comuns, mas na realidade, são a base da nossa existência.

Que mensagens-chave passam as suas joias?

As minhas joias, sejam de portfólio ou de coleções, têm sempre um tema que pressupõem uma reflexão. Tenho peças que falam da dor dos refugiados, do machismo, da arquitetura sustentável, dos estereótipos de beleza, da preservação dos ecossistemas e da autodeterminação feminina.
O uso do humor e da ironia são um recurso que me ajuda a estimular reações de quem observa as minhas joias. A cor e a diversidade de materiais também é algo que me ajuda trabalhar a mensagem. Uma coisa é certa, desafio-me sempre a surpreender.

No seu percurso o que mais a orgulha?

Orgulho-me de ser livre, de fazer aquilo que considero que devo fazer e de saber que as minhas joias falam por si, numa linguagem universal. Seja em Portugal, ou fora dele, o meu trabalho tem sido acarinhado e reconhecido nos quatro cantos do mundo.

50 anos do 25 de abril, o que diz a sua coleção?

São acima de tudo um grito de liberdade que nos fazem pensar nas nossas escolhas.  As decisões que tomamos e o futuro que construímos a partir delas.

O que ainda nos falta conquistar?

Temos de pensar que já conquistámos muito e devemos valorizar o que evoluímos. No entanto, anseio por conquistas que depois de 50 anos passados ainda tardam. Refiro-me, por exemplo, à questão de igualdade de género, algo que ainda está muito longe e isso entristece-me muito.

A democracia é uma luta que nunca acaba?

A democracia necessita de ser cuidada e acima de tudo valorizada, ela é tão importante como o ar que respiramos.

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