“Eu e o Guilherme estamos juntos há 9 anos e casados há cinco. Conhecemo-nos em 2015, a jogar ao Sério. O portal de notícias do Sapo estava a gravar vídeos de promoção aos festivais de verão, onde juntava pessoas conhecidas a jogarem ao Sério. Eu e o Guilherme não nos conhecíamos e fomos ambos convidados. A primeira coisa que ele me disse foi ‘vais perder’.
E assim começou a nossa relação. Os jogos demoravam cinco minutos no máximo, o nosso levou uma hora e dez em que estivemos a olhar um para o outro sem nos rirmos e a chatear de morte as pessoas que estavam a gravar, até que nos pediram para parar. Portanto, foi um empate técnico. Só é uma tristeza que o Sapo tenha perdido essa gravação do nosso primeiro encontro.
No nosso caso, o facto de sermos muito competitivos é uma das coisas que nos mantém juntos. Aliás, se jogamos algum jogo de tabuleiro com amigos, nunca queremos ficar na mesma equipa. E há uma série de pequeninos jogos que fazemos no dia a dia. Um deles veio da infância do Guilherme, é o ‘Bom dia Filipina’. Quando uma pessoa come uma laranja e encontra um gomo minúsculo, tem de o dar ao outro. No dia seguinte, quem disser primeiro ‘bom dia Filipina’, ganha. Temos esta competição a decorrer há bastantes meses, e tenho a dizer que vou à frente. Ou seja, a nossa vida é uma parvoíce e foi assim desde o princípio.
Todas as relações têm um lado inicial mais romântico e apaixonado, mas nós conseguimos manter esse fascínio com a constante disputa. Claro que discutimos coisas insignificantes, a máquina de lavar, o cabelo, as séries… Também discutimos sobre questões sérias, mas geralmente sobre essas estamos de acordo.
No podcast tentamos retirar pressão destas coisas minúsculas, que são discussões comuns a todos os casais. Claro que há coisas que me irritam no Guilherme: por exemplo, irrita-me imenso que ele trate toda a gente por tu sem perguntar primeiro. Se calhar, se não falássemos sobre isso, uma coisa tão sem importância ia tornar-se um problema a longo prazo. Mas às vezes o Guilherme até diz ‘espera lá, não vamos discutir isso agora, discutimos no podcast’.
Improvisamos sempre. Decidimos sobre que temas falar, mas depois é a liberdade total. E a verdade é que, com estas discussões, demos por nós a mudar algumas coisas que fazíamos. O primeiro tema de que falámos foi o facto de eu odiar ligar para restaurantes a marcar mesa. Se der para fazer alguma marcação online, eu faço online. Por isso pedia sempre ao Guilherme que fosse ele a fazer isso. E no outro dia, ia pedir-lhe a mesma coisa e pensei ‘não, posso muito bem fazer eu’. Portanto, às vezes isto também serve para mudarmos pequenas coisas de que, de outra maneira, o outro nunca se teria apercebido. E isto acontece naturalmente, sem nenhum de nós exigir ao outro que mude.
O humor é muito bom para ser usado preventivamente. O Guilherme é humorista e eu sou filha de um casamento onde o meu pai brincava muito com tudo, mesmo com assuntos sensíveis. Mas se eu e o Guilherme falássemos de alguns temas, como se devíamos ou não ter filhos, se Deus existe ou não, em quem votar, a discussão não era tão leve e tão aberta.
Assim, todos os casais se identificam connosco. Em todos os casais há um Guilherme e uma Rita, e isto não tem a ver com ser homem ou mulher mas com aquilo que pensamos, as nossas manias, os nossos hábitos, por isso até um casal homossexual se pode identificar connosco.
Há quem nos peça mesmo conselhos matrimoniais, mas nós dizemos sempre que não somos terapeutas. Isto é um podcast de humor e nenhum de nós tem qualificações para ajudar. Se depois as pessoas acharem que levar o humor para a relação ajudou, é outra coisa. Dantes, os portugueses não levavam muito o humor para a relação, mas acho que as gerações mais novas comunicam mais e isso faz com que seja mais fácil resolver os problemas.”