“Se servistes à pátria, que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis, ela o que costuma.” (Padre António Vieira); “A gratidão é a memória do coração” (Antístines, discípulo de Confúcio). Estas foram duas citações marcantes num discurso de louvor que Maria de Belém Roseira dedicou à nossa vencedora do prémio Carreira, Graça Freitas, visivelmente emocionada com a homenagem prestada.
“Além de uma imensa surpresa, este Prémio significa uma responsabilidade. Saio daqui hoje contente por ter partilhado um momento tão importante com pessoas tão importantes, com carreiras brilhantes e com tantos projetos para o futuro. Saio também com sentido do dever e de responsabilidade para a frente, para os anos que aí vêm, porque também foi esse sentido de responsabilidade que sempre norteou a minha vida. Eu considero que tive uma carreira profissional que não foi extraordinária, tive, isso sim, uma carreira profissional constante, de todos os dias. Costumo dizer que gosto muito do livro que se chama ‘O Deus das Pequenas Coisas’, porque no fundo, a minha carreira foram 40 e muitos anos de, todos os dias, ir construindo algo sempre a ouvir todos com quem trabalhei.”
Graça Freitas foi um dos rostos que entrou, diariamente, nas nossas casas durante os tempos difíceis de combate à covid-19. Apesar do clima de tensão e medo perante o desconhecido que se vivia então, das dificuldades e das pressões a que foi sujeita, nunca a vimos zangada. Aliás, a calma da Diretora Geral da Saúde, durante esses longos meses, deve ter apaziguado a ansiedade de muitos que aguardavam os diários da pandemia.
Maria da Graça Gregório de Freitas, de seu nome completo, nasceu em Angola, mais concretamente no Huambo, a 26 de agosto de 1957. Foi ali que viveu uma infância feliz e entrou para a escola primária. No entanto, como o trabalho do seu pai, que era funcionário público, obrigava a família a mudar de casa com alguma frequência, decidiu-se que a pequena Graça Freitas teria de passar a viver com as tias e frequentar um colégio. Assim, dos 8 até aos 16 anos, Graça Freitas viveu o seu quotidiano longe dos pais, só se juntando a eles em vésperas de ir para a Faculdade.
Na hora de escolher um curso superior, Medicina não ficou em primeiro lugar, foi a sua terceira opção – Graça Freitas tinha uma paixão por plantas e por Arquitetura -, mas acabou por ser influenciada pelas amigas que seguiam esse caminho, o qual acabou por tomar o gosto e nunca se arrependeu. Frequentou o primeiro ano do curso de Medicina em Luanda e no final de 1975, devido às lutas pela independência das ex-colónias portuguesas, a família é obrigada a vir para Portugal, tendo prosseguido os seus estudos na Faculdade de Medicina de Lisboa, após a realização de exames. A escolha de Saúde Pública como especialização não lhe levantou qualquer dúvida, “mais do que fazer bem aos meus doentes, queria fazer bem a pessoas que nunca encontraria na vida, fazer bem de uma forma geral, melhorando as condições de vida de pessoas em diferentes territórios”, disse recentemente numa entrevista.
É neste sentido que orienta a sua vida profissional, na área da Saúde Pública, dedicando-se não só às aulas na Faculdade de Medicina, onde lecionou durante 25 anos, mas também na coordenação e direção dos serviços de prevenção e controlo da doença, em programas de promoção da saúde pública.
Foi subdiretora-geral da DGS durante vários anos e trabalhou também como Presidente da Comissão Técnica de Vacinação, tendo sido coordenadora do Plano Nacional de Vacinação.
Um currículo extenso, pleno de competências até chegar ao topo da Direção Geral de Saúde e Autoridade de Saúde Nacional em 2018, onde permaneceu até 2022, e durante o qual teve de gerir a resposta da saúde pública nacional a uma pandemia causada por um vírus novo que matou milhões de pessoas em todo o mundo. Um trabalho que não lhe deu tréguas durante três anos.
Em 2022, e depois de mais de 40 anos de serviço público, de muitos louvores, de reconhecimento nacional e estrangeiro, de dedicação ao bem-estar de todos, chega ao fim o seu mandato na direção da DGS.
Veja aqui a entrevista com a vencedora, no rescaldo da entrega do prémio:
A revista ACTIVA entregou pelo sexto ano consecutivo os Prémios ACTIVA Mulheres Inspiradoras numa cerimónia que decorreu no Palácio do Conde d’Óbidos – Cruz Vermelha Portuguesa, em Lisboa. A revista ACTIVA elege anualmente as Mulheres Inspiradoras que se destacaram nas seguintes áreas: Artes, Ciência, Desporto, Empreendedorismo, Personalidade Digital, Solidariedade e Sustentabilidade. É, ainda, atribuído o Prémio Carreira e este ano, o Prémio Especial Liberdade.
O júri é constituído por Conceição Zagalo, Luís Marques Mendes, Mafalda Anjos, Maria de Belém Roseira e Natalina de Almeida.
Os Prémios contam com o apoio, fundamental, das marcas C&A, DS Automobiles e Isdin.