
Ao olharmos para o percurso profissional de Margarida Martins, parece tudo certo, com várias experiências na área do Marketing. Mas quando a cofundadora e consultora de moda da agência criativa 124 Studio olha para trás, diz que teria feito escolhas um pouco diferentes, começando pela área de formação.
“Licenciei-me em Ciências da Comunicação na Universidade Nova, mas uma formação em Gestão teria sido muito útil, porque dá uma base estrutural muito valiosa e transversal para os cargos com alguma responsabilidade dentro das empresas”, conta-nos, destacando um ponto positivo no curso superior que escolheu. “Ensinou-me a ter um pensamento mais crítico e um desenvolvimento na escrita”.
Depois da licenciatura, Margarida começou um mestrado em Comunicação, mas percebeu que o curso não iria acrescentar muito ao conhecimento que já tinha logo ao fim do primeiro mês. Assim sendo, optou por um curso de Styling e Produção de Moda. Uma decisão que serviu para cimentar conhecimentos na área e, surpreendentemente, abriu inúmeras portas. “O curso oferecia um estágio e a minha primeira experiência profissional foi na secção de Lifestyle do jornal ‘Público’. Daí, transitei para o departamento de marketing da Fashion Clinic [do Grupo Amorim Luxury], através de uma candidatura espontânea”.
Durante a passagem pela loja multimarca, aprendeu a importância do networking e dos contactos, especialmente neste setor particularmente limitado no País. Terminado esse capítulo, rumou a Los Angeles — mais uma vez, aproveitando os contactos que fez na Amorim —, onde trabalhou como relações públicas numa agência de comunicação. Entre as funções que desempenhava, cabia-lhe gerir várias marcas no showroom, sendo que as inúmeras opções de samples eram enviadas para diferentes celebridades, incluindo Beyoncé, Kim Kardashian, Chiara Ferragni e Lovely Pepa.
No regresso a Portugal, a empresária começou por trabalhar numa loja de roupa premium, mas rapidamente agarrou uma oportunidade para ser assistente de marketing na Zilian. Depois disso, passou pela Melie e Knot, sempre com funções ligadas ao Marketing. À medida que as responsabilidades iam aumentando, chegou a Marketing and Communication Manager, mas a maior aventura, a do empreendedorismo ainda estava por vir. Margarida juntou-se à amiga Sol Marques e ambas decidiram deixar o conforto das respetivas empresas onde trabalhavam para fundarem uma agência. “Estávamos cheias de vontade de fazer acontecer e é essencial acreditarmos nas nossas capacidades”.
Qual foi a sua motivação para criar um negócio próprio?
Houve vários fatores que me levaram a pensar “É agora!”. Para além de uma conjuntura pessoal favorável, um dos gatilhos para tomar esta decisão foi o desejo de poder ter mais liberdade — e tempo — para explorar a vertente criativa onde me sinto mais completa. Sinto que no mundo mais corporativo os departamentos de marketing, onde sempre trabalhei, são completamente absorvidos por uma carga operacional diária muito grande, que contribui para um desgaste psicológico que acaba por anular o desenvolvimento criativo: é tudo a correr.
Como é que sabia que era o momento certo?
Chega a uma altura em que, havendo oportunidade, é importante escolher um caminho que nos preencha nos diferentes campos e que seja equilibrado entre a realização pessoal, o dinheiro, a motivação e o desafio. Foi em maio de 2019 que decidi que se iria encerrar um ciclo para começar outro. Alguns meses depois, apresentei a demissão da empresa onde trabalhava e em outubro desse ano nasceu (oficialmente) o 124 Studio.
O que é o 124 Studio?
É uma agência criativa boutique, que conta apenas com uma equipa de duas pessoas: eu e a Sol Marques. Trabalhamos sobretudo com branding, fotografia e design, onde conseguimos materializar ideias ou conceitos abstratos. Eu trabalho a parte estratégica, copy, storytelling e a direção criativa, e a Sol faz mais a parte de fotografia e design puro e duro. Mas tudo acaba por passar pelas duas. Temos uma relação de sinergia e complementar.
O que distingue a vossa forma de trabalhar?
Para contrariar a forma de trabalhar das empresas em que tudo é urgente e sem tempo para pensar e desenvolver ideias criativas, o 124 Studio dedica-se exatamente a pensar em estratégias e conceitos de uma forma cuidada e sensível às necessidades dos clientes. Primeiro conhecendo-as a fundo e depois trazendo o máximo de inputs. Penso que eu e a Sol trazemos uma visão de 360º pelas respetivas experiências anteriores que tivemos, onde pudemos tocar em vários pontos, desde o produto ao marketing e comunicação.
Dois anos depois, qual é o balanço que faz desta aventura?
Posso dizer que o ritmo continua acelerado — o objetivo não era o slow living, mas sim viver num ritmo diferente —, com problemas diferentes dos que nos trazia a vida mais corporativa. Todavia, a realização e a paz que temos hoje é muito diferente e mais gratificante. Tem sido uma jornada incrível, de muita aprendizagem e conquistas. Sinto que estamos a chegar ao momento de dar os próximos passos.
Do que mais gosta na sua profissão?
O dinamismo e a liberdade de criação. Não há um dia em que acorde e me sente ao computador; tenho de fazer alguma coisa que me inspire antes, seja exercício ou navegar no Tumblr. Defino-me como uma criativa, uma storyteller, e adoro ter a possibilidade de explorar a minha criatividade.
Como vê a realidade do setor em Portugal?
A estrutura das empresas portuguesas é quase sempre média/pequena e, por isso, toda a gente tem de fazer tudo e toda a gente tem de fazer muito. Há dias em que é preciso analisar dados, há dias em que é preciso usar o lado mais criativo e há dias em que é preciso ser mais operacional. Acredito que tudo se prende com a gestão do budget e, no que isso diz respeito, a formação em Gestão é essencial.
Se pudesse escolher outra profissão, qual seria?
Algo relacionado com viagens, culturas, comida… talvez jornalista de lifestyle. Não há nada que me faça sentir mais inspirada e realizada.
Onde se vê daqui a cinco anos?
Imagino-me a fazer aquilo que faço agora e a adicionar dinâmicas diferentes como, por exemplo, criar produtos próprios com a minha estética e feitos pelo Studio. Imagino-me a ter pequenas coleções com coisas muito personalizadas, evitando ao máximo ter stocks, em regime de pré-encomenda — não seria vestuário, de certeza. Também ambiciono posicionar-me no mercado internacional, com menos projetos, mas mais complexos.