Falámos com o médico Daniel Pereira da Silva, especialista em obstetrícia e ginecologia e Presidente da Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e de Ginecologia (FSPOG) sobre a importância da vitamina D para a nossa saúde.
Qual a importância da vitamina D para o nosso organismo?
Conhecemos desde longa data que a vitamina D desempenha um papel fundamental na saúde óssea. É responsável pela otimização da absorção de todo o cálcio que ingerimos e evita a sua eliminação renal, disponibilizando-o para o osso e todas as funções que tem no organismo. Essa é a sua principal ação, mas tem muitas mais. Desde logo na função muscular, pois tonifica os músculos, e, por essa via, evita quedas. Hoje sabemos que a vitamina D tem funções em muitos tecidos e órgãos, onde interage com uma série de agentes, cujos equilíbrios parecem fundamentais para a manutenção da nossa saúde e prevenção de uma série de doenças.
Quais as principais fontes de vitamina D?
O sol é a principal fonte. A exposição solar é responsável por 80 a 85% das nossas necessidades diárias. Na maior parte do ano é fácil suprirmos as necessidades diárias. Basta expor ao sol face e mãos, no máximo meia hora, entre as 11 e às 15 horas, sem protetores solares. É tão simples quanto isso. O problema é que as pessoas têm medo do sol, ainda mais a essas horas. Podiam fazê-lo sem riscos de maior, se não excedessem esse tempo ou o fizessem nos períodos mais prolongados usando protetores.
Olhemos para o que fazemos e se passa à nossa volta: vivemos, trabalhamos, divertimo-nos em ambientes fechados. Pelas mais diversas razões, uma grande parte da população e, mesmo, os mais jovens, deixaram as atividades ao ar livre.
A alimentação é pobre em vitamina D e responde apenas por 15 a 20% das nossas necessidades.
Podemos falar de ‘super alimentos’ no caso deste nutriente?
Não, não temos super-alimentos. Os mais riscos são a sardinha, salmão, bacalhau, ovos e flocos.
Em alguns países há alimentos enriquecidos com vitamina D, mas isso não se passa entre nós.
Que problemas de saúde estão relacionados com a carência de vitamina D?
Os problemas mais óbvios são os ósseos ou seja a sua descalcificação generalizada. Os ossos ficam mais frágeis e muito suscetíveis a fraturas, mesmo em percalços banais, pequenas quedas, por exemplo. O equilíbrio pode ficar afetado, por deficit muscular, e ser causa de quedas.
A carência crónica pode fazer-se sentir a muitos níveis. As carências mais profundas de vitamina D estão associadas a doenças cardíacas, diabetes, infeções, doenças autoimunes e mesmo alguns tipos de cancro, embora não haja uma relação causal inequívoca. Os mecanismos são muito diversos e multifatoriais e não são fáceis de comprovar.
Alguma etapa da nossa vida deve implicar um reforço desta vitamina?
Como referi a vitamina D é fundamental durante toda a vida, mas há fases mais críticas. Na infância a carência de vitamina D pode levar ao raquitismo, situação que foi bem conhecida da população portuguesa e que levou ao uso do célebre e abominável “óleo de fígado de bacalhau”. Essa situação está completamente abolida da nossa sociedade graças aos cuidados médicos e à inclusão da vitamina D nos suplementos vitamínicos. Outro período crítico é o envelhecimento, em especial na mulher após a menopausa. Com a menopausa os ovários diminuem progressivamente a sua produção hormonal, o que acelera a descalcificação óssea. Essa circunstância deve merecer a devida atenção, com a ingestão adequada de produtos lácteos ou suplementação de cálcio e maiores cuidados com a vitamina D. Para o fazer devemos aumentar a nossa exposição ao sol, com os devidos cuidados e nas horas indicadas, ou fazer suplementação na dose adequada.
Quando o défice é demasiado profundo para ser reposto pelas vias normais, que tratamentos existem disponíveis?
A suplementação de vitamina D é muito fácil. Temos várias opções possíveis: diária, semanal ou mensal. A mulher deve escolher a opção que lhe pareça mais indicada para os seus hábitos.
Habitualmente é conveniente administrar 600 a 800 unidades internacionais por dia para os adultos ou o seu equivalente por semana, ou por mês.
As mulheres são mais vulneráveis à falta de vitamina D?
Sem dúvida, por força da carência de estrogénios que se instala com a menopausa. A suplementação de vitamina D é uma medida importante em todos os meses do ano em que não tenha uma boa exposição solar.
E no caso das crianças?
As crianças devem merecer uma atenção especial logo após os primeiros dias de vida. O leite materno é riquíssimo, a amamentação é uma mais-valia para os recém-nascidos, mas não é suficiente para as necessidades de vitamina D da criança. Nesses casos a suplementação justifica-se. De uma forma geral, não temos esse tipo de problemas. Os cuidados perinatais são de grande qualidade no nosso país.