Tinha algumas dúvidas sobre o conceito de depressão pós-parto e sentia que estava a passar por uma situação semelhante. Falámos durante algum tempo, e pedi-lhe autorização para copiar para o blog este excerto da nossa conversa, pois já não é a primeira vez que ‘ouço’ alguém constatar este tipo de afirmação.
Falo-vos do medo de assumir a possibilidade de uma depressão pós-parto. No medo de assumir que algo não está bem, por medo de se ser confrontado com a opinião ‘dos outros’ face ao que se sente. Por medo de se ser considerada má mãe por não se viver a maternidade de forma tão feliz como as outras mães. Por medo de se ser julgada quanto ao que se sente no momento. Por medo de se ser mal interpretada. Por medo de se achar que uma mulher que poderá estar a desenvolver uma depressão pós-parto “está com manias e que depressão pós-parto é coisa de gente fraca”.
Ora, em 1547, o Dr. João Rodrigues de Castelo Branco exemplificou este tipo de perturbação num dos seus registos clínicos na época, referindo-se a “uma mulher que ao dar à luz se tornava melancólica e louca“. Contudo, esse tipo de caracterização rapidamente se começou a verificar ultrapassada, pois como o povo diz (e bem, no meu ponto de vista) – de médicos e loucos, todos nós temos um pouco. Assim sendo, caros leitores, chamo a vossa atenção para a afirmação que farei de seguida e que nada mais é do que a constatação da mais pura realidade neste contexto: A “Depressão” , no sentido profundo e lato da palavra, é pura e ‘simplesmente’, uma doença. Não é loucura. Não é mania. Não é coisa de gente fraca.
E tendo em conta esta afirmação, recordei-me de imediato de uma imagem que uma vez partilhei no facebook do blog e que anexo neste post, para reforçar ainda mais a última afirmação. Foi uma das capas de uma revista de psicologia.
Seja uma Depressão Pós-Parto, ou não, à qual a respetiva leitora se referia, a verdade é que muitas são as mulheres e homens que passam por este tipo de realidade, e se confrontam com o medo e com a vergonha de assumirem o seu problema perante os próprios e perante terceiros. Isto, leva a que qualquer tipo de apoio que seja necessário – desde o diagnóstico até à reabilitação – chegue, muitas vezes, tardiamente.
Já o Prof. Dr. António Macedo e a Dra. Ana Telma Pereira, no seu livro referem que “As mulheres também podem adiar o pedido de ajuda para tentarem conformar-se ao mito ocidental da felicidade na maternidade. Isto é, na gravidez e pós-parto qualquer mulher deve sentir-se feliz. As mulheres que não sentem essa suposta felicidade podem desenvolver sentimentos de vergonha, culpa, fracasso ou medo de serem estigmatizadas ou que lhes sejam retirados os filhos por receio de serem vistas como más mães” (p. 11).
E a realidade, à qual também vou tendo acesso com o trabalho que vou realizando através do blog, é que muitas são as mulheres que passam por uma experiência deste género, menos feliz no pós-parto, e dessas, muitas são as que referem este tipo de receio.
Também sei perfeitamente que este tipo de estigmatização continuará a existir, enquanto por detrás de um qualquer ser humano estiver uma sociedade pouco informada e nulamente sensibilizada para questões deste género. No entanto, é também para isso que espaços como estes servem.
Uma das formas que aqui se encontrou para combater o estigma sentido por muitas mulheres que passam por este tipo de realidade foi o Movimento Depressão Pós-Parto. Não deixem de lhe dar uma expressão: a vossa.
Ao aderirem, contribuem também para fazer face ao estigma que muitas destas pessoas sentem, por não terem iniciado o percurso da maternidade de forma tão feliz como sentiam que seria expectável.
Qualquer dúvida, questão ou sugestão, não hesitem!