
Perante a falta de máscaras cirúrgicas à venda – ou os elevados preços praticados, em alguns casos -, muitas pessoas puseram mãos à obra. As máscaras de pano têm-se tornado cada vez mais populares e são vistas por muitos como uma solução prática e económica para enfrentar a pandemia atual. Porém, importa esclarecer se serão assim tão seguras.
Em conversa com a Activa, Paula Franco, enfermeira do bloco operatório do hospital Beatriz Ângelo, começou por explicar: “Este vírus transmite-se por gotículas. Ora, uma máscara, qualquer obstáculo que se ponha em frente à boca e nariz reduz a transmissão das gotículas. Agora, há que ter noção se a barreira física a que chamamos máscara é ou não eficaz“.
A enfermeira refere que “existem vários tipos de máscaras cirúrgicas“, garantindo que as mais básicas não são uma barreira física a 100%, e que as mais seguras são as que “têm um respirador, ou seja, um filtro de partículas – aí não passa nada“. Quanto às máscaras de pano, feitas em casa, Paula alerta: “toda a gente sabe que as partículas são mínimas, muito pequeninas, e que passam através do tecido, do pano, assim como passam através das máscaras mais básicas“.

Mas, afinal, é perigoso usá-las?
A resposta não é simples. “Uma máscara feita em casa dá uma falsa segurança. Mas se não há uma máscara cirúrgica que nos permita ter uma barreira a 100%, é preferível protegermo-nos de alguma forma, tendo sempre a noção que não é totalmente segura“, diz, frisando que são necessários cuidados redobrados, sobretudo não tocar com as mãos no rosto.
“Isto quer dizer que, se não tivermos uma máscara 100% segura – uma máscara cirúrgica -, é óbvio que aquelas que se fazem em casa protegem alguma parte. Mas não podemos achar que estamos seguros“, refere Paula, acrescentando que “é mais seguro, se a pessoa não tiver uma máscara, não mexer na cara, do que ter máscara e andar a tocar na cara“.
A falta de informação também é algo que a preocupa: “Quanto a mim, foi isso que faltou explicar quando disseram que não era preciso usar máscara. Porque dá uma falsa segurança e leva as pessoas a achar que quem tem máscara ‘pode tudo’. É errado. Porque, a partir do momento em que se mexe na máscara com as mãos que já tocaram noutro lado, há duas coisas infetadas: a mão e a máscara“.

No fundo, diz, “o que se pretende é que as pessoas não sejam fundamentalistas. Temos de pensar ‘onde é que já mexi? Já infetei isto e aquilo’. Temos de partir do princípio básico: ‘onde eu vou mexer, já alguém mexeu’“, alertou, apontando ainda o facto de as luvas, por exemplo, se tornarem as nossas mãos quando as usamos por um período de tempo alargado, incluíndo uma ida ao supermercado e posterior viagem de carro sem as retirar ou desinfetar.
Em jeito de conclusão relativamente às máscaras de pano caseiras, a enfermeira resume:
“Se eu espirrar com uma máscara de pano, vou conseguir transportar partículas para fora desta. E se mexer na máscara de pano depois de ter mexido num local infetado, essas partículas vão para dentro da mesma e vão infetar-me. A partir do momento em que [a máscara] é respirável, as partículas passam. Portanto: máscara sim, sempre possível que seja uma boa barreira, e, quando não for, é preciso muito cuidado porque não é seguro“.
E esta parece ser a opinião de outros especialistas. Em declarações ao USA Today, Michael Doyle, assistente médico da Guarda Nacional do Exército dos Estados Unidos, afirmou: “A única máscara que a CDC [Centers for Disease Control and Prevention] considera segura, a única que previne que inalemos o vírus, é a máscara N95. As máscaras caseiras, embora sejam criativas, servem apenas para nos lembrar que não devemos tocar na cara“.
Confira, em seguida, um vídeo realizado com um desodorizante em spray que mostra a diferente eficácia de distintas máscaras: