Depois de ter lançado o primeiro livro, “O Poder do Jejum Intermitente”, Alexandra Vasconcelos, farmacêutica e terapeuta integrativa, regressa com uma obra que é um complemento à primeira. Chama-se “As Receitas – O Poder do Jejum Intermitente” (Planeta) e é um guia prático, que conta com a colaboração de Cláudia Crespo, e que explica o que se deve comer quando se termina o jejum. Esta pergunta, revela a autora, é das que mais lhe são colocadas e assume um papel essencial no processo: depois de horas em jejum, o nosso organismo está literalmente “ávido” de nutrientes, mas é essencial dar-lhe apenas aqueles de que precisa. Porém, o livro vai ainda mais além: Alexandra explica por que motivo todas as pessoas devem adotar medidas nutricionais adequadas e definidas preferencialmente de acordo com a sua genética e apresenta receitas variadas que vão de encontro ao perfil de cada um de nós.
- Este novo livro é um complemento ao ‘Poder do Jejum Intermitente’ ou vale só por sí?
Surgiu da necessidade de compilar um conjunto de receitas especiais para cortar o jejum. Esta é uma refeição muito importante e para a qual a maioria das pessoas que faz jejum está desperta e empenhada em que seja uma refeição saudável, que satisfaça as necessidades nutricionais e que de alguma forma prolongue o estado metabólico de jejum potenciando os seus benefícios.
Mas este livro ajuda também a esclarecer que esquema de jejum intermitente pode ser mais indicado para cada pessoa, de acordo com características pessoais; tem muitas dicas sobre como cozinhar, como transformar uma receita convencional numa receita saudável trocando alguns ingredientes, bem como respostas a dúvidas e a perguntas mais frequentes que surgiram após a publicação do livro “ Poder do jejum Intermitente”.
– A aposta nas receitas é claramente mais forte neste segundo livro. Quais os critérios para decidir quais as que queria incluir?
A ideia foi elaborar um conjunto de receitas que nutricionalmente permitissem potenciar os efeitos do jejum e, por isso, que se encaixassem em regimes low carb ou cetogénico, devidamente.
Porque o jejum é um modo de vida, achei interessante transformar algumas receitas convencionais para motivar as pessoas a recriarem aquilo que fizeram toda a vida, trocando apenas alguns ingredientes, transformando-as em excelentes receitas para quebrar o jejum. É possível comer um ótimo soufflé ou bacalhau com natas, trocando ingredientes e a forma de confeção, transformando assim um prato que pode não ser bom por outro que respeita mais a nossa genética. Esta tabela também está no livro.
É um livro essencialmente de receitas para quebrar o jejum, desde snacks, lanches, sopas, pães, molhos, refeições principais, sobremesas. Todas as receitas são apresentadas com cálculos nutricionais e classificadas de acordo com os seguintes critérios: vegan, vegetarianas, paleo, cetogenico, sem glúten, sem lácteos.
E esta é uma questão que está sempre a aparecer e que constitui talvez a dúvida de cerca de 90% das pessoas que me abordam: O que comer depois do jejum? Estes foram os principais motivos que me levaram a escrever este livro das receitas: esclarecer as dúvidas, ajudar a tomar decisões quanto à alimentação e também contribuir para que
É difícil destacar uma receita de entre as mais de 90 que estão no livro. Mas posso dizer que as que me deram maior prazer foram todas as que têm por base a cozinha tradicional portuguesa e a nossa dieta mediterrânica.
– A primeira refeição após um período de jejum é extremamente importante. Refere que deve ser elevada em gordura, baixa em açúcar: poderá ser difícil algumas pessoas compreenderem quando se repete tantas vezes que a gordura é “má”…
Existe boa e má gordura. Má é a que está nos produtos industrializados, a gordura TRANS, hidrogenados, fritos, margarinas, óleos vegetais. A gordura boa são (saturadas, monoinsaturadas e polinsaturadas), de um modo geral, toda aquela que é natural e oriunda de uma boa fonte. O que é verdadeiramente mau são sobretudo os açúcares, explícitos ou escondidos. São estes que saciam preguiçosamente o nosso organismo, impedindo-o de ir abastecer-se à gordura e, assim, contribuindo para o aparecimento de inflamação que leva ao aumento da incidência de doenças e obesidade.
– Porém, o foco aqui não é apenas “cortar” o jejum. Propõe neste livro mudanças alimentares para a vida, baseada nos critérios de três regimes alimentares base. Porquê estes (Dieta Paleo, Dieta Low Carb e Dieta Cetogénica) e não outros?
Porque estes são os que cientificamente estão comprovados como os que melhor respeitam a nossa genética, cujos componentes não são agressores para o nosso organismo, antes constituem nutrientes sãos e suficientes para um bom abastecimento. Estes são regimes ancestrais. Não são utilizados produtos industrializados pensados para um consumo rápido e repetitivo e com o objetivo único de criar adição e, assim, aumentar a receita financeira. E a receita proposta pelo Jejum Intermitente vai mais além: pode e deve comer, mas nos tempos próprios e com os nutrientes que garantem uma vida mais longa, mais saudável, mais feliz, mais relaxada.
– Quais são os erros mais comuns que se cometem a nível alimentar?
A maioria das pessoas come muito, e fazem-no por inúmeras razões que não tem a ver com a necessidade caloria. A vontade de comer na maioria das vezes não se deve à fome, mas sim a questões emocionais, circunstanciais, sociais, comemos porque estamos tristes ou contentes ou porque sentimos o estômago vazio, porque temos de fazer intervalos durante o dia, enfim …. Todas estas situações levam a que as pessoas comam demasiado. Por outro lado, há uma procura desenfreada de produtos não naturais, tóxicos e indutores da preguiça do nosso organismo, como é o caso dos açúcares, explícitos ou escondidos, altamente viciantes e que nos dão a sensação errónea de satisfação.
– Quais as dúvidas mais comuns que lhe colocaram depois do lançamento de “O Poder do Jejum Intermitente”, além da primeira refeição após o período sem comer?
Publico também uma lista das perguntas e dúvidas mais frequentes, como: Posso fazer jejum, quantas horas, o que comer, como ultrapassar alguns desconfortos iniciais, como tomar os medicamentos com o Jejum intermitente, quem não pode fazer jejum?. Uma outra duvida é a decisão de qual o esquema de jejum intermitente a adotar. Neste sentido, dedico um capítulo á explicação deste tema.
– Refere várias vezes que o jejum intermitente não pode ser visto como uma dieta no sentido de perda de peso. Mas há efetivamente um efeito a esse nível, correto? Não tem medo que se transforme numa via rápida para perder peso em algumas alturas do ano – como agora – e não uma mudança positiva para a saúde?
Em primeiro lugar, quem faz Jejum Intermitente de forma regular sente alterações positivas na sua saúde e é por esta razão que as pessoas o adotam o como estilo de vida. É preciso entender que o Jejum Intermitente só é eficaz na perda de peso se corrigirmos a alimentação dentro da janela horária em que nos alimentamos. Pessoas obesas que querem perder peso, podem não conseguir os objetivos apenas com a introdução do jejum. Assim como pessoas magras que não querem perder peso podem fazer jejum mantendo o objetivo. A alimentação adotada durante o período do dia reservado para a alimentação é determinante e imprescindível para alcançar os benefícios no peso. Obviamente se houver descontrolo no que se come e excesso calórico, não se perde peso com o Jejum. Mas, na realidade as pessoas comem muitas vezes sem terem fome. Questões emocionais, circunstanciais, sociais, ter sede, levam-nos a comer sem ter fome. Quando fazemos jejum, simplesmente não comemos durante um determinado período de tempo durante o dia e concentramos a alimentação em algumas horas. Esta reprogramação e alternância metabólica ajuda a melhorar a resistência periférica aos mediadores da fome e da saciedade, regulando assim a vontade de comer. Por um lado, temos menos fome, especialmente menos vontade de doces e, por outro, mais discernimento para escolher alimentos que nos nutrem e verdadeiramente interessantes nutricionalmente. É por estas razões que é muito eficaz perder peso com o Jejum Intermitente.
– Sente -até pela receção do livro anterior – que a comunidade científica está a mudar a perceção sobre este tema e a reconhecer benefícios na prática de jejum intermitente?
Sim, claro! Se fizer pesquisas nas bases de dados de documentos científicos, são publicados cada vez mais estudos em revistas científicas de referência sobre os diversos benefícios do Jejum Intermitente e restrição calórica. Só no último ano foram publicados mais de 7 mil artigos em revistas científicas de referência.
Os benefícios do jejum intermitente estão a ser estudados em inúmeras situações e crê-se que pode constituir uma ferramenta benéfica em inúmeras situações. Ultimamente surgem também informações sobre o potencial imunomodulador do JI que pode constituir uma estratégia importante na melhoria do perfil do hospedeiro no combate à Covid19.
– Qual foi o contributo da Cláudia para este projeto?
A Cláudia Crespo trabalha comigo há vários anos como coach e na elaboração de workshops de cozinha Lowcarb / Keto. Inclusivamente já tinha colaborado com receitas no livro “O Poder do Jejum Intermitente” Estamos articuladas no conceito e na forma como pensamos a alimentação. É uma ótima pessoa e muito interessada nestas áreas. O contributo dela foi determinante para o sucesso do livro.