Foto Pexels/Andrea Piacquadio

Pronto, para sermos completamente literais, não, a sua cadeira não é uma assassina: mas está a contribuir fortemente para que a sua vida tenha bastante menos qualidade. Os mais extremistas defendem mesmo que passar longos períodos de tempo sentado é tão prejudicial como o tabaco. Agora junte as duas coisas, cadeira e tabaco, e aí sim, está a matar-se. Enfim, hipoteticamente.
Mas comecemos pelo princípio: no tempo em que não havia cadeiras (que, se tomarmos em conta a história da Humanidade, não representa assim tantos anos como isso) ou pelo menos no tempo em que não se ganhava a vida passando o dia inteiro sentado (que representa ainda menos anos) o Homem (e a Mulher, evidentemente) estava fisicamente pensado para a atividade física. O nosso ‘trabalho’ consistia em perseguir almoço e jantar (nessa altura os almoços e jantares corriam bastante mais do que agora), preparar a caverna contra os lobos e ter crianças umas atrás das outras. Hoje em dia, muitos de nós estão… sentados.

O que pode correr mal
Consequências físicas do nosso romance com a cadeira: segundo um estudo da Clínica Mayo, as mulheres que se sentam mais do que seis horas por dia têm mais probabilidade de morrer de qualquer doença.
Mas há outras consequências:
Costas – Ao contrário do que se pensa, sentar-se com as costas direitas como nos ensinou a avó não é natural (é por isso que nos custa) e o corpo protege-se encurvando. Mas essa posição de encurvado também não é natural, precisamente porque estar sentada também não é uma posição natural (nunca é demais repetir que não havia cadeiras nas cavernas, ambora também seja verdade que não se vivia muito tempo). Conclusão: levante-se quando puder e dê uma volta, para esticar as costas.
Sono – Quando se passa o tempo sentada, a gravidade e a falta de circulação causam acumulação de líquido nas pernas. Quando nos deitamos para dormir, esse líquido migra para a parte superior do corpo e pode dificultar a respiração.
Celulite – Quando se acumula muito peso numa dada área do corpo, o corpo reage… almofadando-a.
Agora imagine lá qual é a área que vai ficar ‘almofadada’. Além disso, segundo um estudo da Universidade de Israel, quando se exerce muito peso sobre as células gordas estas produzem mais triglicéridos, um tipo de gordura muito prejudicial.
Cérebro – Pois: o que é que acontece quando estamos sentadas? Descansamos. E o nosso cérebro também tende a entrar em velocidade de cruzeiro e tornar-se menos atento e menos ágil. Ou seja, ficamos velhas de cabeça mais cedo. Ou seja, também ficamos com um cérebro ‘sentado’…
Pulmões – A circulação de oxigénio torna-se mais lenta e podem formar-se coágulos nos pulmões.

Contra a cadeira marchar, marchar
Não é difícil mudar este estado de coisas. Se pensarmos bem, a maioria das atividades inclui intervalos. Aproveite para se mexer. Num intervalo, numa pausa, no fim de um parágrafo, espreguice-se, dê uma volta onde puder, toque nos dedos dos pés, respire fundo, vá lá fora apanhar ar (se puder) ou levar o cão a passear (se tiver cão).
No trabalho, levante-se de vez em quando para falar com um colega, levante-se sempre que falar ao telemóvel, leve o telemóvel para o corredor (pronto, não se esqueça de voltar…) Além desta atividade esporádica, se puder tente incluir exercício formal, de ginásio, mesmo que dê uns passeios no paredão. Isto porque vai mesmo precisar de aumentar o ritmo cardíaco à séria, e aumentar o ritmo cardíaco não é ir ver montras.
Porque é que umas pessoas têm força de vontade para ir todos os dias suar que nem uma torneira e arriscar-se a malhar com os costados no tabuado, e outras são mais adeptas do ‘esta semana não me dá jeito nenhum’? A chamada ‘força de vontade’ tem muito pouco a ver com as idas ao ginásio, porque ninguém mantém uma rotina baseada em algo tão duro como força de vontade. Conclusão: tem de depender de si. Como afirma Pedro Teixeira, professor de educação física, “É mais normal que um comportamento mude quando está associado a uma forma de motivação intrínseca e autónoma do que a fatores exteriores”. Ou seja, vamos mais depressa ao ginásio por razões pessoais do que quando o marido, as colegas ou o médico acham que temos de perder três quilos… A ideia é criar uma rotina. E depois, não ir ‘porque’. Ir sem pensar nisso. E dizer adeus à cadeira. Ela ainda lá estará quando voltarmos. Esperemos.



ESTRAGOS HORA A HORA
O site www.lifehacker.com organizou uma ‘linha cronológica’ dos estragos que a sua cadeira provoca. Preparada para a viagem? Imediatamente depois de estar sentada durante 6 horas, a energia nos músculos abranda e o consumo de calorias cai para uma caloria por minuto (comparado com mais ou menos 10, se correr).
Duas semanas depois, o corpo aumenta a produção de células gordas, colesterol LDL e resistência à insulina. O nível de açúcar no sangue sobe, os músculos começam a atrofiar e as escadas são mais difíceis de subir.
Um ano depois, pode registar aumento de peso e diminuição de massa óssea (principalmente as mulheres).
10-20 anos depois, sentar-se seis horas por dia pode tirar-lhe seis anos de vida produtiva e aumentar em 60% as hipóteses de desenvolver doença cardíaca.

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