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As mudanças climáticas estão a agravar-se a um ponto quase de não retorno. Todos conhecemos os seus efeitos: mais poluição do ar, temperaturas extremadas, fenómenos meteorológicos mais frequentes, estações trocadas… Quem tem alergia respiratória já nem sabe muito bem porque a meio de dezembro tem sintomas como se estivesse na primavera e que nunca desaparecem na totalidade.

Quais são as alergias respiratórias mais frequentes?
As formas de apresentação são a rinite e a asma. A rinite é uma inflamação da mucosa nasal que se manifesta com espirro, comichão e pingo no nariz, o doente tem sobretudo sintomas nasais. Na asma, já há envolvimento de uma inflamação do brônquio, tem falta de ar, tosse, pieira e crises que evoluem no tempo. Não tem sempre estes sintomas, mas tem crises recorrentes. Quanto à rinite, pode ser persistente ou por crises. Há quem tenha rinite e asma.

A sinusite não é uma alergia respiratória?
A sinusite é uma complicação da rinite. O doente ou tem rinite – se tem sintomas nasais –, ou uma rinossinusite, quando a inflamação é mais ampla, não está só na cavidade nasal, envolve também os seios perinasais, maxilares, etmoidais e frontais… Com rinossinusite, o doente tem sintomas mais graves: dor na face, dor de cabeça, mal-estar generalizado.

O que provoca mais alergias?
Os ácaros e os pólenes. Os ácaros existem nas nossas casas, no ambiente indoor, e dão sintomas o ano inteiro. Os pólenes por temporadas, sobretudo na primavera porque é a altura do ano em que há maior quantidade, maior intensidade de pólenes no ar. Dentro das alergias aos pólenes, temos os das gramíneas, que são as alergias mais prevalentes no nosso país, a seguir vêm o pólen da oliveira e o de erva parietária. O norte, o centro e o sul não têm calendários polínicos iguais, depende das plantas que existem em cada uma das regiões do país, e do clima.

“Não temos dados que nos digam que as alergias estão a agravar-se, mas sabemos que 5% delas são graves.”

Há quem sofra de alergias só em adulto, porquê?
Não sabemos, sabemos que em qualquer idade pode acontecer a sensibilização, e que há fatores que facilitam essa sensibilização, como imaturidade imunológica, daí ser tão frequente em crianças. Provavelmente, as alterações climáticas estão a fazer com que muitos adultos tenham sintomas a iniciar-se mais tardiamente. Pode ser uma predisposição genética que aconteceu mais tarde porque só nessa altura houve exposição a um ambiente específico. Sabemos que há uma interação entre a predisposição e exposição ambiental, e que o sistema imunológico imaturo ou deficiente, por qualquer motivo, deixou de tolerar determinado alérgeno (ácaros, fungos, pólenes).

São doenças crónicas?
Por definição, a alergia é uma doença inflamatória crónica, ou seja, o doente alérgico pode não ter sintomas, mas se fizermos uma biópsia ao nariz ou ao brônquio, vamos encontrar alterações inflamatórias típicas da alergia. Ainda não conseguimos encontrar uma cura, não sabemos como acontece nem como se cura, sabemos identificar a causa e isso permite-nos controlar a inflamação do doente ao ponto de ele não ter sintomas nem crises.

Que tratamentos existem?
Na rinite, temos medicamentos de alívio, anti-histamínicos, que ajudam a controlar aqueles sintomas que incomodam: espirro, comichão e pingo no nariz. Se o doente asmático tem falta de ar, também há medicamentos de alívio para abrir o brônquio, como os broncodilatadores de ação rápida – vulgo Ventilan. Para controlar a inflamação da rinite pode aplicar um spray no nariz que tem um anti-inflamatório (corticóide tópico nasal). Se tiver asma, faz um inalador para abrir o brônquio e tratar a inflamação (corticóides tópicos inalados brônquicos). Há medicamentos para o doente ter consigo, de alívio, quando está aflito, mas deve fazer medicação preventiva diária. Quando um doente faz vacinas das alergias, conseguimos adormecer aquela inflamação, porque controlamos a causa (ácaros ou pólenes), e aos poucos pode ver-se livre da medicação, mas tem de manter as consultas de rotina.

Há mais pessoas com alergia?
É verdade que há um aumento da prevalência da doença. Diversos estudos epidemiológicos dizem-nos que 30% da população tem pelo menos uma doença alérgica. Depois da II Guerra Mundial era 5-10%. O objetivo é apanhar as doenças num estadio mais precoce para intervir mais rápido e não deixar que evolua para maior gravidade.

As alterações climáticas são a causa desse aumento?
Vieram agravar tudo. A poluição é um fator pró-inflamatório, permite que os alérgenos penetrem mais facilmente na via aérea. Aqui temos o problema do aquecimento global e a poluição, tudo isto faz com que tenhamos estações polínicas mais cedo, mais duradouras e com contagens de pólenes maiores, portanto os doentes polínicos sofrem de alergia de fevereiro a agosto. Mas noutros pontos do Globo passou a haver maior precipitação e aí está a aumentar a alergia a fungos, associada à humidade.

Estes fenómenos das areias que vêm do deserto do Saara vão tornar-se mais frequentes?
Sim, são outra consequência das alterações climáticas, e estas areias não trazem só poeira, trazem gases, metais e micro-organismos, fungos, bactérias, e isto é terrível, para os alérgicos e não alérgicos porque são substâncias pró-inflamatórias e agressivas e algumas conseguem penetrar na nossa via aérea mais profunda.

O que podemos fazer para nos protegermos?
O doente alérgico pode e deve proteger-se durante o pico polínico. Se estiver muito vento, não deve sair à rua ou ventilar a casa para os pólenes não entrarem. O uso da máscara para nos proteger da covid ajudou o doente respiratório a ter menos crises porque funcionou como uma barreira contra os alérgenos. Quem sofre com ácaros e fungos, naturalmente deve ventilar a casa, não aquecê-la demasiado, diminuir a humidade (deve estar a 50-55%), fazer limpezas com regularidade, aspirar colchões.
Há aparelhos que dizem purificar o ar, não posso dizer que são falsa propaganda, embora não tornem o ar puro, o que fazem é filtrar do ambiente micro-organismos (bactérias, fungos e pólenes). Melhoram a qualidade do ar, sem dúvida, mas não são eficazes ao ponto de resolver totalmente o problema dos doentes alérgicos. Ainda que opte por comprá-los, deve à mesma ventilar bem a casa. Ventilar e desumidificar as casas é essencial para a via aérea estar impecável. Um aspirador com um bom filtro hepa é fundamental porque retém no aspirador as micropartículas: ácaros ou pólenes.

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