É de esperar que depois de todo o esforço necessário para criar e dar à luz uma vida, o corpo mereça descanso, mas, infelizmente, a recuperação pós-parto inclui tudo menos isso e uma das principais fases desta recuperação é manter a saúde do pavimento pélvico. Este funciona como um “suporte” muscular dentro da pélvis que ajuda a sustentar os órgãos pélvicos, incluindo a bexiga, o cólon e o útero. Cuidar dele é fundamental, uma vez que faz parte de garantir uma boa saúde e bem-estar geral. Uma das melhores formas de manter a saúde do pavimento pélvico é comunicar de forma aberta e eliminar a vergonha associada a este assunto. Todos sabemos que a vida é muito mais fácil e agradável quando nos sentimos bem no nosso corpo e, por isso, a INTIMINA fez uma parceria com a Drª Margo Kwiatkowski, especialista em fisioterapia, para explicar os motivos que levam ao enfraquecimento do pavimento pélvico, e de que modo os podemos evitar e tratar.
O que acontece com o pavimento pélvico durante a gravidez e pós-parto?
Durante a gravidez, as articulações e ligamentos perdem firmeza de forma a criar espaço para o bebé, o que leva a que os músculos do pavimento pélvico assumam mais peso para aguentar essas mudanças. Durante um parto vaginal ou qualquer pontapé do bebé, os músculos do pavimento pélvico esticam até cerca de 3,5 vezes o seu comprimento, mas uma cesariana também pode afetar esta zona, tendo em conta que é uma grande cirurgia que pode impactar os músculos e nervos à volta da pélvis.
”Durante o parto vaginal, os músculos do pavimento pélvico podem atingir até três vezes o seu comprimento normal. É muito comum que estes músculos permaneçam relativamente esticados durante o primeiro ano pós-parto. Algumas mulheres também sofrem de lacerações nos músculos do pavimento pélvico, avulsões ou outros danos nos ligamentos que podem levar a disfunções pélvicas, como incontinência urinária e fecal e prolapso de órgãos pélvicos”, segundo a Dra. Kwiatkowski.
Um dos principais problemas que as mulheres experienciam no pós-parto são episódios de perda involuntária de urina. Como explica a Dra. Kwiatkowski, ”a incontinência urinária de esforço (IUE) ocorre por vários motivos, sendo um deles o facto de os músculos do pavimento pélvico perderem a capacidade de coordenar uma contração adequada no momento certo. Os músculos já não estão a suportar o peso da bexiga e a uretra durante os episódios de aumento da pressão abdominal (tosse, espirro, salto, levantamento). Ao aprender a coordenar uma contração adequada do pavimento pélvico no momento certo, a IUE pode ser reduzida significativamente! Nem todas as formas de IUE podem ser tratadas com treino dos músculos do pavimento pélvico, por isso é importante ser acompanhado por um especialista em saúde pélvica, especialmente se os exercícios de Kegel não melhoram os sintomas.”
O que fazer quando se sente os sintomas de um pavimento pélvico enfraquecido?
Caso se sinta os sintomas de um pavimento pélvico enfraquecido, é importante entrar em contacto com um médico e ser completamente transparente. Não há vergonha em ter problemas de saúde e, neste caso, há tratamento, levando a que a maior parte das pacientes que tratam do seu problema de forma aberta sintam um aumento na sua autoconfiança. Tal como a Dra. Margo explica através do seu próprio exemplo, “recentemente tenho recebido pacientes que pediram aos seus médicos um encaminhamento direto para fisioterapia do pavimento pélvico. Atualmente discutimos a saúde pélvica de forma mais aberta com amigos e familiares e, felizmente, há recursos educacionais que circulam livremente nas redes sociais, o que leva a uma maior abertura das pacientes para pedir apoio médico. Ainda assim, considero que as mulheres que ainda se sentem desconfortáveis em procurar ajuda são as mais velhas. As gerações mais jovens já não aceitam que o desconforto “faz parte de ser mulher”. Em vez de se conformarem com os seus sintomas, as mulheres mais jovens escolhem tomar decisões que impactem de forma positiva as suas necessidades, nomeadamente a procura de ajuda médica!”
Quando se visita um médico, é normal que sejam pedidos todos os detalhes da gravidez, parto e problemas/sintomas pós-parto. Partilhar o histórico do pavimento pélvico e problemas antes, durante e após a gravidez é crucial para tratar os problemas de forma eficaz. A Dra. Margo passa então a explicar os seguintes passos da consulta: ”Durante o exame físico, analiso os vários músculos, entre eles os do pavimento pélvico, através do toque, bem como a sua força e a resistência, de modo a perceber se é possível relaxá-los totalmente. A maioria das novas mães acumula muita tensão no pavimento pélvico o que leva a uma necessidade de reaprender a relaxá-lo completamente antes de aumentar o seu fortalecimento. Para a maioria das pessoas, este processo leva algumas semanas, mas pode demorar mais tempo caso a paciente sofra de dor pélvica ou esteja a recuperar de uma laceração ou episiotomia. Quando a pessoa é novamente capaz de relaxar completamente os músculos do pavimento pélvico, o próximo passo é trabalhar no fortalecimento. Primeiro é preciso garantir que se consegue realizar uma contração adequada do pavimento pélvico enquanto se deita de costas, seguido de relaxamento completo. Geralmente aconselho que pratiquem esse tipo de contração em casa, com séries de repetições algumas vezes por semana. Também enfatizamos a importância da força abdominal e combinamos as contrações dos músculos do pavimento pélvico com exercícios que fortalecem os músculos do quadril. Conforme ganham força, passamos de exercícios no chão ou no tapete para sentar e ficar em pé, onde o pavimento pélvico tem que contrair contra a gravidade. O objetivo final com o exercício contínuo e o treino do pavimento pélvico é ajudar a paciente a coordenar uma contração dos músculos do pavimento pélvico no momento certo para evitar perdas urinárias e a sensação de peso.”
Os exercícios de Kegel são benéficos para todas as mulheres em situação de pós-parto?
Os músculos do pavimento pélvico requerem exercícios regulares para se manterem saudáveis e fortes, como todos os outros músculos. A prática mais relevante é fortalecê-los através de exercícios de Kegel. Estes consistem em contrair os músculos do pavimento pélvico para cima e para dentro durante alguns segundos para os fortalecer – tal como é necessário para tonificar as coxas ou melhorar a força nos bíceps, por exemplo.
No entanto, é importante dizer que os exercícios de Kegel não são a única resposta para os problemas do pavimento pélvico. É sempre aconselhável consultar um especialista antes de os fazer. Em relação a esta prática, a Dra. Kwiatkowski explica: ”Nem todas as pessoas em situação de pós-parto beneficiarão dos exercícios de contração dos músculos do pavimento pélvico. Pessoas que sofreram uma laceração durante o parto podem precisar de se focar na mobilização do tecido cicatricial e de descanso antes de iniciar um programa de fortalecimento. As pessoas que tiveram uma cesariana também podem não precisar de treinar o pavimento pélvico caso não tenham disfunção pélvica pós-parto. Os partos por cesariana estão frequentemente ligados a dor durante as relações sexuais, e, nesses casos, os pacientes podem beneficiar mais de técnicas de relaxamento.”
A conclusão é que o parto, seja vaginal ou cesariana, é importante e implica um grande cuidado. Por esse motivo, qualquer pessoa em situação de pós-parto deve consultar um especialista em pavimento pélvico para abordar as mudanças que ocorrem devido à gravidez. Geralmente, os pacientes reparam em melhorias após alguns meses, mas cada pessoa é diferente. Independentemente do tempo que demora a recuperação de disfunções do pavimento pélvico, é essencial lembrar que estas podem sempre ser resolvidas.