"Na Europa, o cancro do colo do útero mata duas mulheres por hora. Mais de 33 mil casos são detectados todos os anos, dos quais resultam 15 mil mortes, sobretudo porque este tipo de cancro é, geralmente, assintomático e muito invasivo. Trata-se de um problema de saúde pública, ao qual apenas agora se começa a atribuir a verdadeira importância", afirma Monika Hampl, obstetra alemã e uma das principais investigadoras da Sociedade Internacional do Papilomavirus.
Por seu lado, o condiloma vaginal, popularmente conhecido como verrugas vaginais, afecta mais 225 mil pessoas em cada ano que passa e é incomodativo, fonte de ansiedade e de sérios problemas nos relacionamentos interpessoais. Para além do enorme impacto na vida dos doentes, o que têm estas doenças em comum? São ambas directamente provocadas pelo vírus do papiloma humano (HPV), um vírus que ataca os tecidos da vagina, vulva, colo do útero, ânus, pénis e orofaringe.
O cancro do colo do útero não se manifesta imediatamente após a infecção. Por isso, as mulheres a quem são diagnosticadas a infecção pelos tipos 16 e 18 devem ser acompanhadas de perto pelo médico.
Como se transmite
O vírus do papiloma humano transmite-se indistintamente a homens e mulheres, em qualquer idade. É uma infecção muito comum, sendo estimado que cerca de 80 por cento das mulheres seja exposta ao vírus pelo menos uma vez ao longo da vida. A maioria elimina naturalmente o vírus do organismo, mas, quando isto não acontece, podem desenvolver-se diferentes patologias, conforme a estirpe em questão. Dentro de mais de 120 já identificados, os mais comuns são os tipos 6, 11, 16 e 18. A infecção por HPV pode acontecer através do contacto sexual, ainda que a penetração não seja necessária – e daí que o preservativo não seja garante de prevenção.
Menos frequente, mas possível, é a infecção por via não sexual, seja familiar, hospitalar e até durante a gestação e parto. O período de incubação, desde a infecção até ao desenvolvimento da doença, não é conhecido e depende da carga viral, do tipo de vírus e do sistema imunitário do indivíduo.
Testes de despite
É o seu ginecologista que lhe fará o diagnóstico. Se a doente não apresentar sintomas visíveis, o simples teste papanicolau dá o primeiro alerta, expondo o aspecto anormal de algumas células. Havendo esta suspeita, este teste pode ser completado por uma colposcopia e outras análises mais direccionadas, em busca da infecção ou de células cancerígenas ou pré-cancerígenas. Sendo um problema comum, a sua detecção pelo médico não será difícil.
A vacinação gratuita contra o cancro do colo do útero já começou nos centros de saúde. As raparigas nascidas em 1995, hoje com 13 anos, serão as primeiras a ter direito à vacina.
O condiloma vaginal
Os tipos 6 e 11 não são oncogénicos, ou seja, não estão na origem de lesõescancerígenas. No entanto, causam as chamadas verrugas, tanto na vagina como no pénis. "As verrugas são uma doença terrível, com um impacto fortíssimo nas relações, na auto-estima e na qualidade de vida em geral dos doentes", alerta Monika Hampl. O aparecimento destas formações de pele dá-se, por norma, apenas algumas semanas ou meses depois da infecção e a evolução pode ser galopante.
Conforme a situação, o tratamento poderá ir do simples creme ao tratamento laser, que poderá ou não acabar com o problema. "Tenho doentes tratadas a laser que, não só tiveram reaparecimentos no local tratado, como registaram uma propagação a áreas circundantes e até à boca, como aconteceu a uma rapariga que foi infectada pelo primeiro companheiro, aos 13 anos. Desenvolveu doença rapidamente e nunca mais foi capaz de manter uma relação normal. Hoje tem 20 anos e desistiu de ter uma vida sexual porque lhe é muito doloroso.
A pele infectada com HPV, mesmo sem apresentar verrugas, fica extremamente sensível, perde elasticidade e abre fissuras muito dolorosas." Na maioria dos casos, no entanto, a doença pode ser controlada e tratada, com monitorização regular do médico ginecologista.
Quando é cancro
O cancro do colo do útero, ou cervical, ataca a parte inferior, mais estreita, do órgão reprodutor feminino. Uma infecção por HPV não significa necessariamente que irá desenvolver cancro cervical. Mas quase cem por cento das mulheres com este cancro estão infectadas por HPV – e, em 80 por cento dos casos, dos tipos 16 e 18. Este tipo de cancro não se manifesta imediatamente após a infecção, pelo que as mulheres a quem são diagnosticadas a infecção pelos tipos 16 e 18 devem ser acompanhadas de perto pelo médico. "Na Alemanha, no Reino Unido e outros países europeus, as doentes diagnosticadas são contactadas pelas autoridades de saúde para marcar uma consulta com o seu ginecologista", sublinha Monika Hampl.
Em muitos casos, serão apenas lesões de menor grau que aparecerão. Ainda assim, devem ser tratadas e acompanhadas, porque poderão evoluir para cancro. E não só cervical: os cancros da vulva são pouco conhecidos pela opinião pública, mas existem e são tão fatais como qualquer outro. Em casos graves, o tratamento passa pela excisão de partes da vulva, do clítoris e até de toda a vulva.
Também os cancros penianos, rectais e da orofaringe estão a registar um aumento de incidência, tanto em homens como mulheres. Devido ao cada vez mais precoce início da vida sexual e variedade de parceiros, as infecções dão-se também mais cedo. Daí não ser incomum um diagnóstico de cancro cervical em mulheres com menos de trinta anos.
"É sempre triste dar uma notícia destas a uma doente, mas é particularmente difícil dá-la a uma doente jovem. Sei que existe uma grande probabilidade de não ter filhos ou morrer, devido a uma doença que pode ser prevenida com uma simples vacina. Mas anima-me bastante que as pessoas já saibam o que é o HPV e que recorram mais e mais à prevenção."
Vacina: a melhor prevenção
A vacinação contra os tipos 6 e 11 previne um maior número de doenças relacionadas com o HPV, enquanto a contra os tipos 16 e 18 previne a ocorrência de cancro. Existem duas vacinas, uma para os quatro tipos, outra só para os tipos oncogénicos. A vantagem desta última é ter um efeito mais forte. Todos os jovens, a partir dos nove anos de idade, devem ser vacinados e não existe qualquer inconveniente em ser inoculado com os dois géneros de vacina.