Dele se diz que dá sabor, tanto à comida como à vida, e é certo que ninguém quer ser um’pão sem sal’. Mas, apesar dos ditos populares, os dias de boa fama do sal há muito que chegaram ao fim. Ele é o grande responsável pelo aumento da hipertensão e das doenças cardiovasculares, cujos números não têm parado de crescer, e a culpa não é só das nossas papilas gustativas. O sal ‘escondido’ nas refeições pré-confeccionadas e nos alimentos industriais em geral é o outro vilão desta história.
O cloreto de sódio tem um papel essencial no organismo e, juntamente com outros sais minerais, produz energia e reforça a resistência. O problema é que as necessidades deste mineral rondam 6 g por dia, segundo a Organização Mundial de Saúde, e a média de consumo anda nos 12 g, ou seja, o dobro.
No entanto, o cenário em Portugal ainda é pior, segundo Salvador Massano Cardoso, professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e autor de um estudo sobre o consumo de sal e a hipertensão arterial em Portugal, pois muitos portugueses ultrapassam esta quantidade. Apesar disso, no estudo só 7,6% dos inquiridos admitiam ter uma dieta muito rica em sal. A maioria considerava ter uma dieta normal e 25% mesmo pouco rica em sal!
MORTES PREMATURAS
Teoricamente, o organismo elimina o excedente de sal através dos rins, mas a sobrecarga constante faz com que este órgão acabe por não dar conta do recado. O resultado é o aumento assustador da chamada ‘epidemia silenciosa’, a hipertensão, tal como das doenças cardiovasculares e cerebrais, das quais se estima que morram mais de 20 mil portugueses anualmente.
O dramático desta situação fica patente se partirmos do princípio que ‘ninguém devia morrer de doenças cardiovasculares antes dos 70 anos’, como se pode ler nas conclusões do estudo. Além das medidas políticas adoptadas nalguns países como o Japão, que promoveu a redução de sal nos alimentos pré-confeccionados, começar a tomar consciência do excesso de sal que consumimos é um bom começo.
UMA QUESTÃO DE HÁBITO
No estudo de Massano Cardoso, 76,7% das pessoas admitiram saber que os alimentos pré-confeccionados têm teores elevados de sal. Mas o hábito acaba por falar mais alto. O sal acentua os sabores, está associado a um paladar apetitoso, é adicionado às conservas, molhos e até preparações açucaradas. Abdicar dele é inicialmente muito difícil. Mas bastam um ou dois meses para notar o paladar mais apurado e a sensação de que os alimentos ficam mais saborosos com pouco sal. Comece por..
. Habituar-se a ler os rótulos e a ver os níveis de sal ou cloreto de sódio.
. Dar preferência aos alimentos frescos em detrimento dos industriais.
. Pôr menos sal ao cozinhar e deixar de o adicionar à mesa. Substitua-o pelos temperos com ervas, especiarias.
FAÇA AS CONTAS!
Aqui fica uma lista de alguns alimentos com a respectiva quantidade de sal. Faça os seus cálculos tendo em conta que as quantidades diárias recomendadas são de 6 g:
.100 g de carne . 65 mg de sal.
.1 ovo . 122 mg.
.100 g de peixe . 140 mg.
.1 fatia de pão . 114 mg.
.4 fatias de bacon . 548 mg.
.1 hambúrguer fast-food . 1,4 g.
NEM O PÃO ESCAPA
‘Se houvesse uma directiva que obrigasse à redução em apenas 2 g do sal no pão, poupavam-se milhões no tratamento da hipertensão e acidentes cardiovasculares’, diz o cardiologista João Saavedra no site www.medicosdeportugal.pt. O mesmo defende Massano Cardoso, para quem uma redução de 10% em todos os produtos pré-confeccionados era suficiente para haver uma diminuição substancial da mortalidade, ‘mesmo a curto prazo e sem implicar alterações de fundo na qualidade e sabor dos produtos em causa’, sublinha.