Foto: Luís Coelho
Em que consiste ‘A dieta dos 2 dias’?
É um plano alimentar que faz com que as pessoas consigam perder peso fazendo dieta apenas dois dias por semana. Nestes dois dias, as mulheres devem consumir 500 calorias e os homens 600. Nos outros 5 dias da semana, mantêm a sua alimentação normal.
Mas fala de jejum nesses dias em que há restrição calórica…
Sim, porque a ideia é estar três períodos de doze horas seguidas sem comer. Nos dias de jejum, deve ingerir duas refeições, com apenas as tais 500 ou 600 calorias. No dia anterior ao jejum, janto normalmente às 19h e depois não como mais nada até ao pequeno-almoço, às 7h. Depois janto às 19h, e só no dia seguinte às 7h da manhã volto a tomar o meu pequeno almoço normal. Nos dias de jejum bebo muitos líquidos, água e chá sem mais nada. Não almoço nem lancho, poupo dinheiro, (risos) e se estiver a sentir fome levanto-me do meu local de trabalho e faço uma pausa de uns minutos para tirar a ideia de fome da cabeça. Escolhi refeições de garfo e faca porque quero estar com a minha família à mesa, mas há quem prefira consumir as 500-600 calorias de outra forma, em batidos de proteínas, duas vezes por dia, por exemplo.
Não é difícil estar tanto tempo sem comer?
É uma questão de hábito, o que as pessoas me dizem é que as primeiras 2-3 semanas são um pouco difíceis, depois o corpo habitua-se.
Mas sempre nos disseram que não se deve passar mais de 3 horas sem comer…Quando era pequeno, as crianças estavam proibidas de petiscar entre as refeições. Agora, parece que temos medo de ter fome, estamos sempre a comer. Eu sei que o objetivo é comer menos na refeição seguinte, mas isso não acontece, as pessoas comem exatamente a mesma quantidade.
As pesquisas mostram que o nosso corpo, por várias razões, precisa de períodos em que não esteja exposto a comida. Uma delas é que ter sempre um nível alto de açúcar no sangue é mau, porque está a fazer com que o pâncreas crie insulina constantemente (para se ver livre do açúcar) e isso pode conduzir a uma diabetes. E também se sabe que o corpo precisa de uma espécie de limpeza de primavera, ocasional, durante a qual se pode livrar de toxinas. Precisa de 6-7 horas para se ver livre da ‘tralha’, sem estar a processar comida e a pensar no que fazer com ela. É como quando vamos arrumar a arrecadação, temos de ter tempo para fazer limpezas a sério.
E não se come demais no dia a seguir?
Pesquisas demonstram que a maioria das pessoas não sente necessidade de comer mais do que as 2000 calorias que é suposto ingerir diariamente (2600 para homens) nem têm desejo de comida com alto teor de gordura. É claro que se comerem alimentos altamente calóricos nos 5 dias vão perder pouco ou nenhum peso… mas geralmente isso não acontece. Agora faço uma alimentação com muitos vegetais, mas de vez em quando como chocolate e piza, só que não é todos os dias.
E não se sente vontade de comer doces ou hambúrgueres?
Quando não se tem muita fome, a comida saudável não é muito apelativa, mas quando se passa horas sem comer e depois se tem de comer um prato com vegetais, garanto-lhe que eles passam a ser mais atraentes.
As pessoas estão habituadas a petiscar ao longo do dia, mal sentem um pouco de fome. E o que comem? Chocolate ou bolachas. Assim, o cérebro aprende que quando temos fome o que queremos comer é chocolate. É criada uma compulsão. Se começarmos a comer alimentos saudáveis cada vez que temos fome – e é isso que esta dieta nos obriga a fazer – , o cérebro vai criar uma compulsão, seja por brócolos, maçãs ou outros alimentos saudáveis. Mas não posso dizer que o desejo de comer doces ou hambúrgueres desaparece, temos é mais autocontrolo.
Como devo preparar-me se quiser começar a fazer a dieta dos 2 dias?
Ler o livro (risos), para compreender toda a base científica por trás deste plano alimentar, conhecer o testemunho de pessoas que estão a fazer a dieta e ficar a saber o tipo de receitas que pode cozinhar para os dias de jejum. Ajuda ter uma amiga ou o marido a fazer a dieta – não sei a razão, mas aparentemente os homens gostam desta dieta – e convém men-talizar-se que é suposto os primeiros 15 dias serem difíceis.
Tirem dúvidas e partilhem com outras pessoas, eu criei um site mas é em inglês (thefastdiet.co.uk), podem criar um em português, uma comunidade. É muito interessante ver que as pessoas partilham receitas, experiências e encorajam-se umas às outras.
Esta dieta é diferente das outras porque…
É uma fórmula que resulta porque a restrição alimentar dura apenas um dia, e a esmagadora maioria das pessoas tem força de vontade para aguentar um dia com menos calorias. Nós sabemos que os médicos e dietistas dizem-nos para comer razoavelmente e exercitar bastante, e todos sabemos que isso nos faz bem, mas é um pouco como jogar golfe, sabemos que temos de atirar a bola para dentro do buraco mas é mais fácil dizê-lo que fazê-lo! Pensar que durante meses não vamos poder comer uma série de alimentos vai fazer com que pensemos todos os dias naquilo que não podemos comer, é contraproducente.
Com esta dieta, reeducamos o nosso paladar e só temos de pensar no que não podemos comer duas vezes por semana, é mais fácil.
Outro facto interessante do jejum intermitente é que se queima muito mais gordura nesta dieta do que nas dietas de baixas calorias. O que acontece nessas dietas é que as pessoas perdem 75% de gordura e 25% de músculo. Nas radicais, em que se perde muito peso em pouquíssimo tempo, perde-se 50% de gordura e 50% de músculo, e isso é mau. Nesta dieta de jejum intermitente perde-se 90 a 100% de gordura. Praticamente, tudo o que se perde é gordura e os cientistas ainda não descobriram porquê.
O corpo não vai entrar em ‘modo: fome’ e armazenar tudo o comemos a seguir?
Isso é um mito, essa ideia é baseada num estudo dos anos 40 em que puseram 30 voluntários numa dieta de baixas calorias durante 6 meses. Realmente o corpo deles entrou em ‘modo: fome’, mas só quando a percentagem de gordura atingiu os 8%, o que é muito baixo.
Não nos sentiremos muito cansados se não comermos durante 12h?
Não, pelo contrário, o que acontece na realidade é que quando deixamos de comer durante umas horas o nosso metabolismo aumenta. E faz sentido, basta pensar que quando os nossos antepassados não tinham comida, tinham de estar ativos e ir à procura de caça ou das bagas para se alimentarem. Só quando o nosso corpo está muitos dias sem comer, possivelmente semanas, é que começa a pensar ‘bem é melhor conservar as calorias porque os tempos estão a ser difíceis’. No curto prazo, o jejum dá-lhe mais energia, mais dinamismo, porque precisa de ir à procura de alimento.
Quem não deve fazer esta dieta?
Os diabéticos, as grávidas, as mulheres que estão a amamentar, os adolescentes, pessoas que têm ou tiveram problemas do foro alimentar (anorexia, bulimia).
Como se escolhe os dias de jejum?
Cada um escolhe os dias que quer. E se uma festa ou almoço de trabalho calhar a um dia de jejum não há problema nenhum em fazê-lo um dia antes ou depois.
Eu fazia o jejum à 2.ª e 5.ª, agora só faço um dia por semana de manutenção. Tentei fazê-lo dois dias seguidos, porque há pesquisas que apontam para maiores benefícios, mas fiquei impossível de aturar, era demasiado para mim.
E se não estivermos a perder peso?
Geralmente, é porque estão a ingerir bebidas calóricas nos dias de jejum. Os smoothies, os refrigerantes, os sumos de fruta, que até podem ser saudáveis mas além de terem muitas calorias também não saciam. Ah, e lamento dizer, mas o álcool também está proibido nestes dois dias.
Quais são as queixas mais frequentes?
São sobretudo nos primeiros 15 dias: dores de cabeça e obstipação. É importante que as pessoas bebam muitos líquidos, água, chá preto, verde, café, sem mais nada…
Que peso é que se perde num mês?
As pessoas têm só de se preocupar com a gordura. As mulheres devem medir-se à volta do peito, cintura e ancas, os homens, à volta da barriga. Passado um mês, vejam novamente quanto medem. O normal é que as pessoas emagreçam cerca de 2kg por mês, os homens um pouco mais.
Eu, em três meses, perdi 9kg de gordura, 9cm à volta da cintura e 1cm no pescoço, tanto que até parei de ressonar. Também deixei de ser pré-diabético e o meu colesterol baixou para níveis aceitáveis.
É preciso praticar exercício físico?
Não precisa, mas faz bem à saúde. Façam boas caminhadas. Até há pesquisas que demonstram que se se exercitar durante os dias de jejum vai queimar ainda mais gordura. O que acontece é que durante a noite os níveis de açúcar no sangue diminuem e o nosso corpo vai buscar energia ao glicogénio e depois às reservas de gordura. Por isso, se fizer exercício logo de manhã, depois de um jejum de várias horas e antes de tomar o pequeno almoço, o que vai queimar é gordura.
Que outras vantagens tem a dieta dos 2 dias para a saúde?
Se as pessoas conseguirem ultrapassar as primeiras 2-3 semanas, não só adquirem novos hábitos alimentares como o nosso corpo ajusta-se a esta nova realidade de não querer comida a toda a hora. Os níveis de açúcar no sangue baixam, diminui o colesterol e sentimo-nos mais alegres. Isto porque o cérebro aumenta a produção de uma proteína que diminui a ansiedade e melhora o humor. Além disso, várias pesquisas apontam para o facto de, a longo prazo, o jejum ajudar a proteger o cérebro da demência.
Na Grã-Bretanha, há vários cientistas envolvidos na pesquisa do cancro da mama que estão também a estudar esta dieta, porque se sabe que reduzindo a gordura do corpo em 5% podemos reduzir o risco de cancro de mama em 40%.
Sobre o autor: Michael Mosley, 56 anos, é um conhecido jornalista, produtor e apresentador de programas da BBC. É médico e gosta de abordar, de uma forma simples, temas relacionados com o corpo humano. É conhecido por testar ele próprio algumas das novas teorias científicas. O sucesso da reportagem ‘Comer, Jejuar e Viver mais Tempo’ foi tão grande que o convidaram a escrever um livro.
