A pílula é o método contraceptivo mais utilizado pelas mulheres em Portugal. Este pequeno comprimido foi desenvolvido nos anos 50 e conferiu às mulheres o poder sobre a escolha de ter ou não, filhos e de decidir o momento desse acontecimento nas suas vidas. Neste sentido pode dizer-se que a pílula teve um grande impacto positivo na vida das mulheres, uma vez que lhes permitiu uma liberdade muito maior em relação às suas escolhas de vida, beneficiando certamente todas as mulheres que quiseram dedicar-se mais a um percurso académico ou a uma actividade profissional antes de engravidar.
Além disso, sabemos que a experiência emocional, psicológica e toda a realidade de uma gravidez planeada e desejada é muito diferente da situação oposta – uma gravidez não planeada nem desejada. Hoje em dia, os dois cenários mais comuns que levam a que uma mulher ou adolescente inicie, por recomendação do ginecologista, a toma da pílula, são a intenção de prevenir gravidezes não desejadas ou a tentativa de controlar determinados quadros clínicos como a acne (que pode ser mais ou menos severa), irregularidades no ciclo menstrual (que é uma situação muito comum no início da adolescência), ou até mesmo situações mais graves como os quadros de endometriose e adenomiose.
Em geral, as mulheres mantêm a toma da pílula por longos anos desde que a iniciam, sendo que a ideia da possibilidade de a interromper surge normalmente apenas quando começam a planear uma gravidez. Mas, para todos os efeitos, a pílula não deixa de ser um fármaco que suprime a fertilidade. Não haverá um preço a pagar pela vantagem que a pílula oferece em prevenir gravidezes não desejadas?
Pois bem, uns mais, outros menos, mas todos os fármacos têm efeitos secundários e a pílula contraceptiva não é uma excepção. No entanto, raramente a maioria das mulheres é informada, no momento em que lhe é recomendada a toma da pílula, acerca do vasto leque de efeitos secundários e das implicações que a mesma tem ao nível da saúde de uma forma geral. Acredito que se assim fosse, uma boa parte das mulheres recusaria a toma da pílula e procuraria informar-se sobre outras formas de contracepção com menos ou nenhuns efeitos secundários.
Mas em que é que a pílula pode afinal prejudicar a saúde de uma mulher? Em primeiro lugar, um dos principais mecanismos de acção da pílula é o de suprimir a ovulação e é desta forma que previnem a gravidez. As pílulas que o fazem são as chamadas pílulas combinadas, por conterem dois tipos de hormonas sintéticas – um estrogénio sintético (etinilestradiol) e um progestagénio (levonorgestrel). À partida, este mecanismo de acção não parece suscitar a ideia de que possa ser prejudicial à saúde da mulher. Mas isso é só porque ninguém nos explicou que as nossas próprias hormonas, portanto, as que são produzidas pelos nossos ovários – estrogénio e progesterona – para além de assegurarem a fertilidade, desempenham um papel fundamental e muito abrangente na nossa saúde.
O estrogénio por exemplo, promove a produção de neurotransmissores essenciais ao nosso bem-estar emocional (serotonina e dopamina), contribui para a libido, para a saúde cerebral, para a saúde do aparelho musculoesquelético, para a saúde da pele, participa na regulação do sono e melhora o metabolismo aumentando a sensibilidade à insulina (ajuda a prevenir a diabetes). A progesterona por outro lado, regula o sistema nervoso, acalma a inflamação, reduz a tensão arterial, reduz os níveis de colesterol LDL, melhora a saúde da pele e dos cabelos, previne a síndrome pré-menstrual e tem ainda em comum com o estrogénio o facto de melhorar o sono, promover a construção de massa óssea e muscular e contribuir para a libido.
Isto significa que perdemos todos estes benefícios das hormonas que naturalmente produzimos quando tomamos a pílula, uma vez que um dos seus efeitos é como referi antes, o de suprimir o funcionamento dos ovários impedindo-os de produzir estas duas hormonas. Seria legítimo perguntar: mas as hormonas contidas na pílula não acabam por substituir as que naturalmente produzimos? E a resposta é um inequívoco “não”.
O etinilestradiol e o levonorgestrel não são a mesma coisa que o estrogénio e a progesterona e, portanto, não têm os mesmos efeitos no nosso corpo. Enquanto que por exemplo a progesterona produzida pelo nosso corpo acalma o sistema nervoso e melhora a cognição, a saúde do cérebro e a saúde do cabelo, os progestagénios como o levonorgestrel são susceptíveis de causar estados de ansiedade, depressão e queda de cabelo. E assim, a toma da pílula não só nos impede de produzir as nossas hormonas naturais, que nos são tão benéficas, como submete o nosso corpo aos efeitos secundários das hormonas sintéticas.
Existem também as chamadas “minipílulas” que contêm apenas um progestagénio numa dose menor do que aquela que compõe as pílulas combinadas. São muitas vezes designadas como “pílulas mais fracas” e são a opção normalmente recomendada a mulheres que estão a amamentar. Estas pílulas são de toma continuada e podem, ou não, originar hemorragias que são imprevisíveis. O principal mecanismo de acção das minipílulas não é o de suprimir a ovulação, mas sim o de tornar o muco cervical mais espesso para que os espermatozóides tenham dificuldade em alcançar o óvulo e o de tornar o endométrio (camada interna do útero) mais fino para impossibilitar a implantação do óvulo fecundado.
Muitas mulheres também desconhecem este último facto acerca das minipílulas, ou seja, quando estamos a tomar este tipo de pílula podem haver fecundações, mas a gravidez é impedida porque o óvulo fecundado é impossibilitado de se fixar na parede do útero. Por não ser uma pílula cujo mecanismo de acção seja o de suprimir a ovulação, poderíamos pensar que pelo menos os nossos ovários podem continuar a produzir as nossas hormonas naturais, mas não é bem assim. É sabido que em muitos ciclos estas pílulas acabam também por impedir a ovulação privando-nos benefícios das nossas hormonas.
Mas para além da supressão da ovulação, a pílula possui outros efeitos secundários conhecidos, isto é, confirmados pela literatura científica, não é que as mulheres estejam devidamente informadas acerca dos mesmos, pelo menos a minha experiência enquanto mulher e naturopata, diz-me que não. Indico-lhe então que efeitos secundários são esses:
Aumento de peso: a pílula leva a um aumento da resistência à insulina, o que pode contribuir para o aumento de peso (mulheres que sofram de diabetes deverão ter especial atenção) e contribui também para a dificuldade em ganhar massa muscular e pode ainda levar a um aumento da retenção de líquidos e celulite.
Falta de libido: embora em quantidades muito inferiores quando comparadas com os homens, as mulheres também produzem testosterona. Níveis adequados de testosterona numa mulher são muito importantes no que respeita ao seu desejo sexual. A pílula impede a produção natural de testosterona na mulher e por isso tem um impacto negativo na sua libido. Muitas mulheres identificam claramente um decréscimo da libido depois de terem iniciado a toma da pílula. Mulheres que tenham iniciado a sua toma durante a adolescência não têm termo de comparação uma vez que não tiveram tempo de vivenciar a sua libido antes da toma da pílula.
Enfraquecimento do cabelo: alguns tipos de progestagénios que fazem parte da composição de muitas pílulas possuem um efeito androgénico por serem semelhantes à testosterona. Estas hormonas sintéticas podem levar a um enfraquecimento do cabelo através do seu efeito na diminuição do calibre dos folículos capilares.
Formação de coágulos: Existe algum risco de formação de coágulos por consequência da toma da pílula. Este risco aumenta para mulheres que tenham uma tendência genética para problemas circulatórios e para mulheres que sejam fumadoras.
Depressão: um estudo de 2016 publicado na revista médica JAMA Psichiatry , feito ao longo de 13 anos e que incluiu um milhão de mulheres, concluiu que as que usavam métodos contraceptivos hormonais, nomeadamente os que incluem apenas progestagénios, apresentavam um número significativamente mais elevado de diagnósticos de depressão.
Cancro: a Organização Mundial de Saúde lançou em 2005 um comunicado que classifica os contraceptivos orais combinados (que contenham estrogénio e progestagénio) como cancerígenos para humanos, existindo um risco directamente relacionado com o cancro da mama.
Para além da informação acerca dos efeitos secundários da pílula, é importante referir que alguns mitos a respeito do uso da mesma continuam a ser propagados levando a falsas crenças e confusões. Uma dessas situações é referir-se a toma da pílula como forma de regular os ciclos menstruais. Não, a pílula não regula os ciclos menstruais porque a sua toma faz basicamente com que deixem de haver ciclos menstruais, ao suprimir o funcionamento dos ovários.
A questão que surge depois deste facto é: “Mas nesse caso, porque é que depois de tomar a pílula passei a menstruar regularmente e as minhas menstruações passaram a ser mais leves e menos desconfortáveis?”. Pois bem, a hemorragia que se dá após interromper os 21 dias da toma da pílula não é uma menstruação, mas sim uma hemorragia por privação de um fármaco composto por hormonas sintéticas. As pílulas estão feitas para serem tomadas por 21 dias, interrompendo durante os 7 dias seguintes (período em que ocorre a hemorragia de privação, muito confundida com a menstruação) reiniciando a toma no 8º dia, isto com o objectivo de simular um ciclo menstrual (de 28 dias), dando à mulher a ilusão de que está a ter um ciclo natural quando na verdade a pílula poderia ser tomada por qualquer período de tempo à sua escolha, com ou sem interrupções, não faria qualquer diferença.
Portanto, a pílula não regula as menstruações, simplesmente porque enquanto a está a tomar, não tem ciclos menstruais e por isso também não menstrua. Aliás, é por isso que quando pára de tomar a pílula, os sintomas que porventura a levaram a tomá-la (menstruações irregulares ou demasiado intensas, síndrome pré-menstrual, acne, etc.) surgem novamente, muitas vezes até com maior intensidade, ou seja, a pílula não regula os ciclos nem resolve os sintomas associados ao seu desequilíbrio, o que ela faz é suprimir os ciclos e, portanto, os sintomas associados ao desequilíbrio dos mesmos.
Não quero com isto dizer que não existem circunstâncias para as quais a pílula possa representar uma vantagem. Em situações mais severas, que não respondam a mudanças de estilo de vida e ao tratamento natural, como alguns casos de endometriose e adenomiose, a pílula poderá ser uma mais valia. Mas mesmo assim, muitas vezes é possível melhorar estes quadros através da uma alimentação e suplementação adequadas bem como práticas de gestão de stresse e exercício físico.
Contudo, cada mulher é livre de escolher o método contraceptivo que melhor lhe convier, pois trata-se do seu corpo. No entanto, acredito que qualquer escolha em relação à saúde (e à vida!) deve assentar numa base de transparência e esclarecimento para que possa ser feita em consciência.
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