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Com tanto que se fala em transplantes capilares, é fácil pensar que são uma panaceia universal para quem tem pouco cabelo. Mas não são indicados para toda a gente e, como qualquer procedimento cirúrgico, têm os seus riscos. Para esclarecer todas as dúvidas, falámos com Rui Oliveira Soares, dermatologista especializado no tratamento do cabelo e um dos maiores especialistas desta área no nosso país.

Quais são as principais técnicas utilizadas e em que consistem?

duas técnicas principais para a colheita dos folículos. Na Follicular Unit Transplant (FUT) retira-se uma faixa longa de pele na parte posterior do couro cabeludo e encerra-se com sutura, que se reabsorve. Ao microscópio separa-se folículo a folículo e a seguir implantam-se os folículos um a um. As principais vantagens desta técnica são não ser necessário rapar a cabeça e não reduzir a densidade na zona doadora. É a técnica mais indicada na maioria dos casos em mulheres. Na Follicular Unit Extraction (FUE) retiram-se os folículos um a um com um punch (cilindro cortante oco), que pode ser usado de forma manual, ajudado por um motor ou efetuado por um robô. As principais vantagens são exigir menos aptidão cirúrgica, permitir colheitas de grande número de folículos e permitir escolher apenas folículos com vários cabelos. É a técnica mais indicada na maioria dos casos em homens. Ambas as técnicas, corretamente efetuadas, são muito úteis e provocam cicatrizes pouco percetíveis no couro cabeludo: uma longa cicatriz linear no caso de FUT, milhares de microcicatrizes circulares no caso de FUE.

E podem ser combinadas?

Sim, ou no mesmo tempo cirúrgico ou em momentos cirúrgicos diferentes no mesmo paciente. Esta combinação é muito útil, já que uma técnica (FUE) está limitada pela redução de densidade que provoca na zona doadora, enquanto a outra (FUT) está limitada pela redução da elasticidade da pele na zona doadora.

É doloroso, durante e após o processo?

O transplante deve ser indolor. Os transplantes com muita dor são típicos de locais em que o transplante não é efetuado por médicos credenciados para anestesiar adequadamente a pele (que são os anestesistas, cirurgiões plásticos e dermatologistas).

Quanto tempo demora a realizar?

Em média, de 4 a 10 horas, mas varia muito com o número de folículos, com as características de cada paciente e com o treino da equipa que transplanta.

A recolha e o implante são feitos na mesma sessão?

Devem ser, porque o folículo fora do couro cabeludo tem sofrimento biológico.

Quantos folículos podem ser implantados  em cada sessão? Há um limite?

Esse limite é diferente de paciente para paciente. Sessões acima de 3000-6000 fios são sessões muito grandes e demoradas. Uma colheita máxima obtém-se combinando na mesma sessão as duas técnicas referidas e o número máximo possível está limitado pela densidade de cabelo e elasticidade da pele na zona doadora. Por outro lado, na calvície comum, que é evolutiva, não é boa prática fazer sessões enormes porque pretendemos no futuro poder efetuar novos transplantes para poder acomodar a perda futura de cabelo.

Quanto tempo depois se pode retomar a vida normal?

Na maioria dos casos, ao fim de uma semana. O edema da face e as microcrostas nos implantes são o principal limitador do início da atividade laboral.

Qualquer pessoa pode fazer estes procedimentos? Em que casos está indicado o transplante e em quais não deve ser feito?

Tem de se avaliar caso a caso. Insuficiências de órgão (renal, cardíaca, hepática), patologias que determinam tendência hemorrágica, doença cicatricial ativa na pele do couro cabeludo, zona doadora insuficiente e expectativa irrealista do paciente contraindicam o procedimento. Todas as semanas desaconselho o transplante a pacientes devido a má zona doadora (sei que lhes farão o transplante em outras clínicas, mas ficarão sempre insatisfeitos). Em toda a cirurgia a ponderação do benefício relativamente ao risco e ao custo deve ser efetuada, de forma ética, pelo cirurgião. A principal indicação é a calvície comum (alopecia androgenética), mas toda a alopecia cicatricial, desde que não em fase ativa, poderá ser ajudada por um transplante.

Quando se começam a ver os resultados?

Como a maioria dos fios cai nos primeiros meses para depois reaparecer entre o 4.º e o 6.º mês, não se deve dar grandes expectativas para os primeiros 6 meses. A um ano, com o correspondente crescimento do cabelo, já teremos um resultado próximo do final.

E os resultados são definitivos?

Sim. Os folículos transplantados não sofrem miniaturização. É o que chamamos a dominância doadora. Cada folículo continua a comportar-se como faria na zona de trás e sabemos que mesmo na calvície muito avançada o cabelo se mantém nas zonas laterais e posteriores.

É necessário repetir o processo?

Na maioria dos casos em mulheres o procedimento único é a regra. Como a calvície não é total, o reforço das zonas anteriores muitas vezes resolve o problema. Pelo contrário, a maioria dos homens necessitarão de outros procedimentos no futuro, com a progressão da calvície, e o médico tem a obrigação de avisar deste facto. Quando repetir, dependerá da evolução da calvície em cada caso.

O cabelo volta a crescer na zona doadora?

Não. Os folículos são retirados e levados para outra zona do couro cabeludo. Deixam de estar na zona doadora.

É necessário fazer paralelamente outras coisas, como terapia com medicamentos e/ou mesoterapia?

Os medicamentos são fundamentais para impedir o avanço da alopecia androgenética. Todos os pacientes deveriam fazer tratamento medicamentoso e o transplante não deve ser oferecido como alternativa, mas antes como complementar do tratamento médico. Em relação à mesoterapia, temos muito pouca evidência científica de que ajude no médio e longo prazo. Na minha opinião, existe uma enorme desproporção entre o elevado custo e a muito pouca utilidade clínica.

Quais são os riscos num transplante capilar?

Os inerentes a qualquer cirurgia – hemorragia, infeção, dor, edema, etc. – e os inerentes ao procedimento – foliculites (pelos encravados), disestesias (sensibilidade alterada no couro cabeludo), ativação de doença da pele do couro cabeludo, alopecia na área doadora, mau resultado inexplicável (bad growth), pouca naturalidade (linha anterior muito a direito, demasiado à frente ou com demasiados implantes de muitos cabelos), etc. Felizmente, as complicações são raras em procedimentos corretamente efetuados.

Quanto custa, aproximadamente?

Depende do tipo de transplante, do número de unidades foliculares, da dificuldade inerente a condições particulares de cada caso. Em Portugal, pode variar entre 2500 e 7500 euros.

Atualmente há clínicas onde as práticas nem sempre são as melhores. Quais são os ‘sinais de alarme’ a que a paciente deve estar atenta para perceber que talvez seja melhor ir a outro lado?

Ser recebida e avaliada por um comercial e não por um médico, um desconto oferecido se a decisão de avançar e comprometimento for imediato e não haver um cirurgião plástico ou um dermatologista a comandar o procedimento.

 

Rui Oliveira Soares

Dermatologista especializado em tratamento do cabelo, Rui Oliveira Soares é coordenador de Tricologia do Hospital CUF Descobertas e do Centro de Dermatologia de Lisboa (CDL), professor no International Master in Trichology and Hair Transplant, e membro da European Hair Research Society e da International Trichoscopy Society.

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