É difícil resistir à tentação de fazer esta comparação. À semelhança das folhas das árvores, também os nossos fios de cabelo caem em maior número nesta altura do ano. No entanto, ao contrário da flora, que se despede da folhagem num mecanismo de defesa, a cada fio de cabelo que perdemos estamos um passo mais perto de um abismo de agonia – que, por sinal, também não ajuda à conjuntura, uma vez que a ansiedade está no pódio da lista de coisas que prejudicam a saúde do nosso cabelo.
Perdoe-me este início derrotista e permita-me uma nota de esperança: a queda é natural. A das folhas, sim, mas a queda do cabelo também. Nada tema! Em princípio, as suas preocupações são infundadas e os factos não justificam a expressão de terror sempre que nota um rasto de dados biomédicos na sua escova de cabelo. Bem sei, o cenário pode ser muitas vezes dantesco – como prova tantas vezes o chão da minha casa de banho –, mas a narrativa não obriga ao susto. E como o conhecimento é o melhor aliado, Ana Alexandre Oliveira, licenciada em Farmácia, especializada em dermocosmética e autora do blog The Skin Game, explica o que precisamos de saber sobre este fenómeno.
POR QUE CAI
Todos os fios de cabelo atravessam três fases: a fase de crescimento (anagénese), a fase de estagnação – em que o folículo encolhe, deixa de ter ligação à corrente sanguínea e para de receber nutrientes (catagénese) – e a fase de queda – em que o cabelo, por falta de nutrição, se solta do couro cabeludo e cai (telogénese).
Isto significa que todo o cabelo que nasce vai acabar por cair. E não faz mal, porque enquanto esse cai, está outro para nascer. É um processo orgânico que acontece naturalmente, todos os dias, sem que nos chame demasiado a atenção – a menos que a sua casa de banho tenha o chão branco, como a minha.
O que acontece nesta fase de mudança de estação é que há muitos fios de cabelo na última fase, na telogénese. Basicamente, ‘os astros alinham-se’ e demasiados cabelos decidem “vamos todos cair”. E caem. Considerando a força da natureza, não há muito que possamos fazer para o evitar.
A este fenómeno chama-se queda sazonal: “É autolimitada e dura cerca de três meses, habitualmente na fase de fim de verão/início de outono, podendo também ocorrer em menor grau na altura da primavera”, explica a especialista.
São vários os fatores associados a este tipo de queda, mas a ciência tem mostrado que a exposição solar e as variações sazonais nas horas de luz do dia têm uma relevância importante. Depois de longos períodos de exposição solar intensa durante os meses de verão e com os dias a ficarem cada vez mais pequenos à medida que entramos no outono, o ciclo de crescimento do cabelo é afetado.
O importante a reter é que se a queda é pontual, se não existem peladas e se não há uma alteração gritante na densidade do couro cabeludo, à partida, está tudo bem. Caso contrário, Ana Alexandre Oliveira recomenda veemente que se consulte um dermatologista (idealmente com tricologia – o ramo da ciência que trata do pelo e cabelo – como área de interesse). “É importante garantir que a queda não é um efeito secundário de uma panóplia de motivos. Se for, é importante tratar a causa.”
QUANTO CAI
“É expectável e normal que haja um aumento da queda nesta altura do ano, isso não tem de ser preocupante“, tranquiliza Ana Alexandre Oliveira. É provável que, “em média, se perca 10% dos fios de cabelo”. Por muito que esta pareça uma quantidade assustadoramente grande, “pessoas com muita densidade capilar e que têm cabelo grosso, provavelmente, mesmo perdendo muito cabelo, nem notam”. No entanto, para quem já tem cabelo fino e em menor quantidade, “uma queda sazonal pode mostrar efeitos que a pessoa não quer mesmo”.
COMO LIDAR
Ainda que não haja muito a fazer para travar a queda dos fios de cabelo que vão naturalmente cair, podemos concentrar-nos em garantir que os que temos estão o mais saudável que podem estar. E, mais, em tornar este processo o mais gradual possível.
Infelizmente para as rotinas mais corridas ou para as mentes mais preguiçosas, “a forma mais eficaz de cuidar da queda acresce um passo à rotina”: a utilização de ampolas ou loções. Nestes casos (de tratamento), queremos que o produto tenha contacto direto com o couro cabeludo por tempo suficiente para fazer efeito. Isso nem sempre é garantido com champôs – muitas vezes aplicados a correr no banho e com água à mistura.
Como alternativa, existem suplementos vários, que, lembra a especialista, nunca devem ser tomados sem antes consultar o seu médico. É importante perceber o que está a suplementar e se há, efetivamente, essa necessidade. Não havendo, é pouco provável que consiga um resultado significativo.
Por último, tenha atenção aos rótulos. Para tratar a queda de cabelo sazonal, o produto que pretende será sempre de uma linha reativa e não de uma progressiva. Esta última serve para tratar questões que persistam há mais de seis meses, como a calvície.