Atualmente com 32 anos, Emilia Clarke mostra-se uma pessoa saudável, jovem, de sorriso fácil, e empenhada no seu trabalho. Tornada mundialmente famosa, sobretudo, graças ao papel de Daenerys Targaryen, na séria Game of Thones, a atriz sofreu dois aneurismas na altura das gravações.
Quando terminaram de gravar a primeira temporada, Emilia sentiu-se “exposta“, como revelou numa peça escrita na primeira pessoa para o The New Yorker, e com receio da atenção que viria a receber, bem como do facto de aquele ser um negócio que “mal entendia“. Nessa altura, com apenas 24 anos de idade, durante um treino – que disse usar como forma de “aliviar o stress” -, o seu personal trainer pediu-lhe que se colocasse em posição de prancha e foi aí que aconteceu algo estranho.
“Imediatamente, senti como se uma banda elástica me apertasse o crânio“, revelou. Após uma pausa, já no balneário, diz ter-se começado a sentir “violentamente mal disposta“, à medida que a dor se tornava insuportável. Após ter pensado que poderia ter algo a ver com o cérebro, começou a mover os dedos e a tentar lembrar-se de falas da série, para verificar se não estava a ficar paralisada, e para manter viva a memória.
Foi levada para o hospital, onde lhe fizeram uma TAC ao crânio e descobriram o que se passava: uma hemorragia subaracnoidea, um tipo de AVC que pode ser fatal. De modo a bloquear o aneurisma na base do problema, a atriz precisou de tratamento urgente e foi levada para um hospital especializado em neurologia, onde veio a ser operada.
Pouco tempo após uma cirurgia que durou três horas, uma enfermeira perguntou-lhe se lhe poderia dizer qual o seu nome completo. Mas Emilia Isobel Euphemia Rose Clarke não se lembrava. Na altura, saíram-lhe palavras estranhas da boca e teve um medo aterrador. Afinal de contas, ser atriz implica falar, ter de se lembrar de falas, comunicar. Estaria a sofrer de afasia, um distúrbio de comunicação que não afeta a inteligência, mas sim a linguagem.
“Nos meus piores momentos, queria desligar a ficha. Pedi aos médicos para me deixarem morrer. O meu trabalho – todo o meu sonho do que seria a minha vida – centrava-se na linguagem, na comunicação. Sem isso, estava perdida“, lembra. Ainda assim, foi tratada e, no espaço de uma semana, já conseguia falar.
Um mês depois de ter entrado, deixou o hospital e voltou à vida atarefada de atriz. Mas não sem antes ter sido avisada que tinha um outro aneurisma do outro lado do cérebro, que poderia rebentar a qualquer momento. Nos intervalos de eventos como entrevistas, a morfina era a sua melhor amiga. Até que, após as gravações do primeiro episódio da segunda temporada, colapsou devido à exaustão.
Apesar do cansaço, continuou as gravações. “Para ser verdadeiramente honesta, a cada minuto de cada dia, pensava que ia morrer” conta. Após gravar a terceira temporada, uma das TAC que realizada com alguma regularidade mostrou que o segundo aneurisma tinha duplicado de tamanho e foi aconselhada uma outra operação. Após o procedimento – que veio a falhar – a atriz acordou aos gritos, devido à dor. Tinha outro grande sangramento e teria de ser operada novamente, caso contrário, morreria.
Assim foi. E embora tivesse uma grande cicatriz, e a recuperação tenha sido ainda mais difícil do que da primeira vez, aquilo que a preocupava eram questões cognitivas. Perderia a memória? Os sentidos? Durante o mês que passou no hospital, teve momentos em que perdeu toda a esperança e sofria de vários ataques de pânico. Mas sobreviveu. “Agora, estou a 100%. Além do meu trabalho enquanto atriz, decidi começar uma caridade que desenvolvi com parceiros no Reino Unido. Chama-se SameYou e pretende conceder tratamentos a pessoas a recuperar de danos no cérebro e AVC. Estou infinitamente grata“, diz.
E se, antes, lhe assustavam as perdas cognitivas que poderia vir a sofrer, hoje brinca com o assunto e diz às pessoas que a única coisa que a operação lhe retirou foi “o bom gosto em homens“.