Nada! Não há nada de errado com o corpo de Carolina Deslandes. É o corpo dela, pode não ser o seu, mas é o de muitas outras mulheres porque o mundo não é feito apenas de mulheres com medidas e curvas supostamente perfeitas. No dia em que o corpo de Carolina Deslandes não for alvo de body shaming nas redes sociais, vamos, de certeza, passar a ver mais fotos como estas no Facebook, Instagram, Twitter ou Tik Tok, e vamos ser, certamente todos pessoas mais confiantes e felizes.
Parabéns à Carolina Deslandes, que foi capa da Activa no último mês de novembro, pela coragem de se revelar assim, longe do ideal de corpo que todas nós mulheres temos quase sempre em mente, eu incluída. Parabéns pela coragem que eu – e muitas outras mulheres – não temos de nos aceitar com as nossas curvas tal como elas são: perfeitas aos nossos olhos e dos que nos amam.
Aos que não gostam, basta deixar de seguir a página da artista – ou de outra pessoa qualquer -, mas sem deixar comentários de ódio, que em nada nos – vos – dignificam.
Vale a pena ler a resposta de Carolina, que na foto, com a mão no ar, parece gritar: “Basta!”
“Acho que Deus inventou a generosidade em Cabo Verde. Juro. Passou por aqui e inventou-a. E é preciso vir aqui para entender a simplicidade da matemática – se podemos ser todos mais felizes, porque é que vivemos a pensar só em nós e tão pouco em comunidade?
O ego é uma armadilha. E vivemos há anos a ter o ego alimentado por consumo, por vaidade, por frases de íman de frigorífico que dizem “pensa primeiro em ti”.
Aqui não há ego. Aqui há tempo dentro do tempo. É como se tivesse descoberto todos os microsegundos escondidos nos ponteiros. Eles sempre estiveram lá, eu é que nunca tive tempo para reparar neles. O tempo abre-se e dura. Os beijos são demorados, os abraços são demorados, o mar é infinito e de um azul que nos faz questionar se alguma vez tínhamos visto o mar antes.
E o principal – as pessoas. Todo o “olá” em Santiago é um convite. Vem à minha casa. Vem ouvir música. Vem cantar. Vem conversar. Vem descobrir o que é essencial na vida. A beleza da companhia uns dos outros. Do sol. Da vida a acontecer sem correr.
Foi nesta paz e nesta calmaria que publiquei uma fotografia tirada pelo meu namorado, que me disse “deixa-te estar assim, estás linda” e eu senti-me linda mesmo.
Não foi um statement, não foi uma bandeira levantada – foi uma foto bonita.
É muito estranho ler a quantidade de coisas que me chegaram e perceber o quanto é ofensivo uma mulher confiante. Para muita gente é obrigatório que eu não goste de mim assim.
Deixem-me dizer-vos com amor – não é novidade nenhuma ler “gorda” e todas as palavras que daí derivam. Nenhum de vocês me está a dar novidades sobre mim nem sobre o meu corpo. Que é meu. E que eu amo.
Se já tive de me esconder, de deixar de ir à praia, de deixar de vestir isto ou aquilo porque sabia que ia ler coisas e ia ficar de rastos – agora não.
Gosto de mim. Estou rodeada de amor e a recolher sorrisos,poemas e histórias para contar.
A gorda veio de férias. A gorda não fez mal a ninguém. Deixem-na estar.
E se puderem, passem pela ilha e sejam relembrados de que a bondade é tão natural como a maldade – mas é uma escolha nossa seguir um ou outro caminho. ❤️“