Tenho para mim que o preço de um cosmético é sempre um mistério. Tão interessante como chegamos a uma prateleira – ou abrimos um site de cosmética – e vemos creme atrás de creme, parecem-nos todos iguais, mas com preços tão diferentes, em intervalos de valores bem grandes.
Neste artigo, convido-a a uma viagem pelos mercados da cosmética com paragem em três apeadeiros: supermercados, farmácias e perfumarias. Eu e os meus muitos anos de experiência de consumo – e os demasiados produtos que me passam pelas mãos, enquanto jornalista de beleza – seremos o seu guia.
Camisa branca
Há mais mercados, mas falemos nestes três e em como não é producente fazer comparações diretas entre produtos que diferem em muito mais além do sítio onde são vendidos. Talvez seja mais fácil se começarmos com uma analogia. Querida leitora, pense numa camisa branca. Agora, pense numa camisa branca vendida numa loja grande de shoping. Agora, numa camisa de uma marca nacional, de algodão orgânico, produzida com técnicas sustentáveis. Por último, imagine uma camisa branca de uma grande marca de luxo internacional. Estas três camisas brancas servem exatamente a mesma necessidade. Porém, têm preços completamente díspares. Creio que seja fácil de entender porquê. Teoricamente, são o mesmo produto. Mas, na prática, são diferentes em muitas outras coisas.
Os três grandes
Quando um cosmético é formulado para ser vendido num supermercado, a maior preocupação é o preço. É importante que seja um produto acessível, mas que agrade ao máximo de pessoas possível. Que o máximo de pessoas queira usá-lo e goste de o fazer.
Quando falamos em cosméticos de vendidos em farmácia, a eficácia é o mais importante. Estes produtos são formulados para cumprir propósitos específicos e são testados várias vezes, até nas peles mais sensíveis, sempre com uma grande investigação e suporte científico por trás, que valide todas as alegações.
Se falarmos em cosméticos de perfumaria, juntamos a esta preocupação na eficácia também a experiência de utilização. À ciência, une-se o luxo. As embalagens são bonitas, as fórmulas são prazerosas de usar, o processo de compra é, por si só, uma experiência inspiradora.
As diferenças
Estes três mercados têm propósitos diferentes e comunicam para pessoas diferentes. Genericamente, há consumidores práticos, que não se preocupam assim tanto com estas coisas e querem produtos simples e que cumpram o que prometem. Vão comprar cosméticos num supermercado porque é mais prático, é mais rápido. Há consumidores que, ou por terem uma pele mais sensível, condições de pele mais específicas ou, simplesmente, mais interesse por esta área, vão comprar cosméticos de farmácia. Se, além disso, quiserem uma experiência de utilização luxuosa e diferente, vão – provavelmente – a uma perfumaria. E há quem compre nos vários mercados, dependendo do produto que procura. Ou quem nem sequer olhe a isto e compre porque sim, ou por recomendações de profissionais ou porque funcinou na pele da amiga.
O “melhor” produto
Não serão apenas estes os fatores que caracterizam os diferentes consumidores. Perdoe-me, se simplifico demasiado e generalizo situações que, muitas vezes, são analisadas caso a caso. Mas de todas as vezes que se fazem comparações entre produtos destes mercados tão diferentes, comete-se o mesmo erro.
É certo que os produtos destes diferentes mercados vão ter preços proporcionalmente diferentes. Isso não significa que o produto mais barato seja pior, ou que o mais caro seja melhor. Significa que são diferentes! Até porque o conceito ‘melhor’ é sempre muito elástico. É melhor porquê? É mais eficaz? Tem melhor relação qualidade/preço? É prazeroso de usar? É fácil de encontrar e comprar? É bastante tolerável e funciona bem com muita gente?
E contra mim falo que, enquanto jornalista, muitas vezes escolho escrever títulos com “os melhores produtos para tal”. Porém, nesse mesmo artigo, farei por ter a sensibilidade de incluir produtos de todos os mercados, de todos os preços, tendo em consideração todas as variantes.
A conclusão
Querida leitora, esta viagem está quase a terminar, queria só que tomasse nota dos pontos de interesse principais: os produtos não são melhores entre si. E, garantidamente, o preço de um produto não tem de ser proporcional à sua eficácia.
Quando compra um cosmético, está a comprar mais do que só o produto que há de vir dentro da embalagem que escolheu. Por trás disso poderão estar, por exemplo, anos de investigação, marcas enormes estabelecidas, métodos de produção especializados e, no limite, experiências de utilização completamente diferenciadoras.
Estes três mercados vão sempre existir. Os consumidores para estes mercados também. E está tudo bem!
#emBeleza
Tudo o que precisa de saber em Beleza, pela jornalista Carmo Lico. Pele, perfumes, maquilhagem e cabelo: as novidades, os indispensáveis e os que o vão passar a ser, assim que os conhecer.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a ACTIVA nem espelham o seu posicionamento editorial.