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Neste ano de 2020 parece que o único problema de saúde é a Covid-19. Parece que tudo o resto deixou de existir, que todas as doenças e complicações deixaram de ser importantes e que mais nada interessa. Não é verdade, especialmente no que diz respeito às condições crónicas que para além de nunca desaparecem tendem a agravar-se com o tempo, como é o caso da Síndrome Génito-Urinária da Menopausa (SGUM), consequência da menopausa, cujo Dia Mundial se celebra a 18 de Outubro e que nos vem alertar para a sua importância. Só para relembrar, a menopausa corresponde à última menstruação e basicamente dita o fim da capacidade reprodutora da mulher. Só passados 12 meses sem menstruar é que se pode fazer o diagnóstico definitivo e, muitas vezes, até à última menstruação, as mulheres podem passar por bastantes (e desagradáveis) variações hormonais e irregularidades menstruais. Com este término da função ovárica advêm vários problemas muito familiares a quem já passou por isso, como é o caso dos afrontamentos, das alterações do sono e da memória e a síndrome génito-urinária (SGUM).
A SGUM é uma definição relativamente recente que engloba as principais consequências da falta de estrogénios a nível da vulva, vagina e bexiga associada à menopausa e que pode afetar até 70% das mulheres. As manifestações incluem secura vaginal, sensação de ardor/picadas a nível da vagina e vulva, diminuição da lubrificação vaginal, dor ou desconforto associado às relações sexuais, diminuição do desejo sexual e alterações urinárias, como aumento da vontade de urinar e, por vezes, dificuldade em conter a urina.
Todas estas alterações podem levar a uma diminuição da qualidade de vida, muitas vezes com a mulher a evitar qualquer contacto físico ou sexual. E o ciclo vicioso instala-se já que com a menor frequência das relações as queixas de secura e diminuição da lubrificação tendem a agravar-se e a intimidade do casal pode ficar comprometida, especialmente se não se falar sobre o assunto…
É essencial que as mulheres não deixem o tratamento da SGUM para segundo plano, particularmente nesta pandemia em que nos encontramos. É importante que percebam que não é só a hipertensão que tem de ser tratada, que não são só os níveis de açúcar no sangue que têm de estar equilibrados. As consequências de não procurar ajuda, ou de interromper os tratamentos que já foram iniciados, sejam eles hormonais ou não, sob a forma de cremes ou gel ou comprimidos vaginais, enfim, com toda a variedade de produtos ao nosso dispor, podem ser muito debilitantes. Os tratamentos atualmente disponíveis são muito eficazes e seguros e, com a orientação médica adequada, permitem melhorar e otimizar as consequências da menopausa. Do mesmo modo que o creme anti-rugas tem de ser aplicado todos os dias (e muitos também à noite!), os tratamentos para a SGUM não podem ser interrompidos ou feitos apenas durante algumas semanas.
Não nos podemos deixar vencer por esta pandemia. Não podemos esquecer-nos de que merecemos o melhor de todas as fases da vida e que a menopausa pode ser o início da melhor e mais introspetiva que as mulheres alguma vez vão ter. Mas têm de se sentir bem. Têm de conseguir alcançar toda a sua plenitude e isto não se coaduna com queixas incapacitantes de secura vaginal ou dor de cada vez que se tem relações sexuais.
A Covid-19 não nos pode limitar a ponto de termos medo de ir ao médico ou à farmácia (bem, na realidade com as teleconsultas e as entregas ao domicílio podemos ficar na tranquilidade do lar a receber os cuidados de que precisamos!). Não nos pode limitar na valorização das nossas queixas e de querer mais e melhor. Com toda a segurança possível, temos de continuar as nossas vidas e os tratamentos de que precisamos.
Neste mês do dia Mundial da Menopausa vamos dar-lhe a importância que ela merece e lembrarmo-nos de que já não dá para estar escondidos dentro da caverna à espera que o mundo mude lá fora. A Covid-19 está para ficar. Não vamos poder enfiar a cabeça na areia e rezar para que tudo desapareça de repente. Vamos ter de ir à luta e procurar o que precisamos para nos sentirmos plenas, sem queixas ou desconforto ou dores, ou relações ensombradas pela antecipação do que virá durante e depois. Vamos continuar a cuidar de nós e dos nossos.