A pandemia tem contribuído em muito para o empobrecimento da nossa saúde oral e as máscaras vieram esconder mais do que os nossos sorrisos. Quase um ano depois, começam a ser cada vez mais visíveis as consequências que este inimigo invisível tem tido na saúde mental e, consequentemente, na saúde em geral. Esta nova realidade trouxe-nos medo, stress, ansiedade, depressão e a saúde oral também tem sido afetada pelo que sentimos.
Ao longo dos últimos meses, o número de pacientes que procuram ajuda médica devido a dores nas articulações e/ou fraturas nos dentes tem vindo a aumentar e o stress tem sido o principal responsável. É certo que nem todas as pessoas lidam com o que sentem da mesma forma, mas muitas acabam por libertar a sua tensão através do ranger ou apertar dos dentes – o chamado bruxismo. O bruxismo caracteriza-se por ser uma atividade involuntária e repetitiva dos músculos responsáveis pela mastigação, o que leva a que se aperte ou ranja os dentes de forma prejudicial. Esta resposta involuntária ao stress acaba por resultar no desgaste dos dentes, fraturas, dores de cabeça e pescoço ou dores nas articulações que se têm vindo a verificar com maior frequência nos últimos tempos. Os casos de bruxismo têm sido cada vez mais e cada vez mais acentuados: quem antes não tinha este distúrbio, agora tem, e quem já tinha, viu-o agravar-se.
Contudo, o stress não é o único impacto psicológico da pandemia. Os casos de depressão, principalmente associados ao isolamento, também têm vindo a ser cada vez mais habituais, bem como as suas consequências ao nível da saúde oral. Se estar em confinamento pode por si levar à alteração de alguns dos hábitos de higiene, a depressão vai conduzir a uma ainda maior supressão das rotinas que cuidam da boca. Neste sentido, tem sido comum assistir a uma despreocupação e descuido em pessoas que se encontram em estados depressivos. Posteriormente, e uma vez que a nossa boca se ressente de imediato quando há este tipo de alterações, a falta de higiene pode levar a problemas graves como cáries, perdas de dentes ou até mesmo à perda de trabalhos anteriores – como ter de refazer certos tratamentos, até porque nestes casos as pessoas também deixaram de ir às consultas.
É ainda importante relembrar que, se por um lado as queixas e dores motivam as idas às consultas, no geral muitos tratamentos foram desmarcados e adiados. Apesar de ir ao dentista continuar a ser seguro devido à grande preparação e cumprimento das medidas por parte das clínicas, muitas pessoas continuam a evitar este acompanhamento que é tão importante.
Acredito que numa fase pós pandemia, a par de tantas outras coisas, também a saúde oral estará mais debilitada e terá de ser feito um esforço extra para recuperar o que ficou para trás. Ainda assim, é importante tentar desde já estabelecer hábitos de higiene importantes e consistentes, bem como retomar as idas ao dentista que continuam a ser seguras. Não deixemos para depois o que pode ser tratado já!