No atual mundo do trabalho, é necessário repensar o conceito de permanecer numa empresa a longo prazo. É hora de normalizar a troca de trabalho e até de carreira (quando existe uma mudança de área de atuação).
Muitas pessoas ainda olham para estas mudanças de forma errada ou até mesmo preconceituosa, mas, atualmente, é quase inviável passar décadas na mesma empresa. As novas formas de trabalho mostram claramente que as pessoas no mercado de trabalho são rápidas a desistir de certos empregos e a fazer mudanças, seja para obter progressão, seja para obter maior qualidade de vida.
A pandemia lançou luz sobre a fragilidade da vida e como as coisas são mutáveis. Uma das lições que a crise de saúde pública nos deixou é que devemos valorizar e aproveitar ao máximo o pouco tempo que temos, a fazer aquilo de que gostamos e com quem mais gostamos.
Os trabalhadores não querem perder mais de oito horas por dia, cinco dias por semana, num trabalho que não gostam ou onde não são apreciados pelo chefe. A vida é muito curta para nos contentarmos com a mediocridade. Quer-se significado, propósito, realização e um salário justo pelos esforços feitos. Se os funcionários não conseguirem isso onde estão atualmente, (já) não têm medo de procurar novas oportunidades. É isso que deve ser normalizado: a mudança de trabalho e/ou carreira com vista à melhoria de condições de vida, em troca de situações de burnout ou ambientes tóxicos de trabalho.
Os caçadores de melhores condições de emprego ainda são discriminados quando, nas entrevistas, ou até socialmente, é detetado que mudaram de emprego várias vezes. Os recrutadores interrogam os candidatos, exigindo respostas sobre os motivos para terem feito esta e aquela mudança, com um alto grau de ceticismo. A tendência é supor-se que deve haver um problema com aquela pessoa que mudou com tanta frequência. Mas alguém alguma vez questiona o ambiente de trabalho da empresa, a qualidade da liderança ou o número de horas extras passadas a trabalhar sem retorno ou agradecimento??
Normalizemos a procura de melhores condições de trabalho, a procura de uma carreira com maior propósito e reconhecimento, sem criar nos que têm a coragem de mudar uma crença negativa e limitante de que são indecisos ou eternos insatisfeitos. Afinal, mudar é sinal de progresso e permanecer com ideias fixas é, sim, sinal de inflexibilidade.
Em vez de presumir o pior quando um candidato mostra um currículo com vários empregos, os recrutadores devem pensar na pessoa como alguém que toma decisões e faz a gestão da sua carreira com base no crescimento contínuo, desenvolvimento e potenciais ganhos.
Apesar do estigma ainda existir sobre as mudanças e aqueles que se atrevem a mudar, a verdade é que existem cada vez mais casos de mudança, sejam eles mais ou menos radicais. Talvez devêssemos começar a ver este assunto de uma perspetiva mais simples: as grandes estrelas do desporto também mudam de equipa quando recebem ofertas mais aliciantes, motivadas por benefícios, valores, desafios, perspetivas, sonhos ou metas. Mudar é normal, essencial e preciso. Afinal, quem quer ser igual para sempre?
Deixou uma proposta para trás com medo do estigma do que os outros vão pensar ou da pergunta do recrutador numa próxima entrevista? Tem a certeza de que essas opiniões vão servir-lhe de consolo quando pensar em tudo o que pode ter perdido?
Arrisque, pondere e, se for preciso, mude!
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a ACTIVA nem espelham o seu posicionamento editorial.