A maioria das doenças gastrointestinais com evolução crónica não apresenta um padrão de sazonalidade. Isto significa que não são necessariamente mais diagnosticadas ou mais severas numa época específica do ano. Aqui se incluem várias entidades como a doença inflamatória intestinal, a doença celíaca, a síndrome do intestino irritável ou a intolerância à lactose.
Por outro lado, no verão, como resultado de temperaturas mais altas e da alteração de hábitos quotidianos (alimentação, ingestão de água e higiene das mãos) os casos de gastroenterite aguda são frequentes. A gastroenterite é uma inflamação do tubo digestivo, que resulta na maior parte dos casos da infeção por vírus. Em menor frequência pode ser causada por bactérias, parasitas e toxinas. Pode ocorrer transmissão de pessoa para pessoa, sendo o contágio facilitado pelo contacto próximo. A ingestão de alimentos em mau estado de conservação ou água contaminada pode também levar ao aparecimento deste quadro clínico.
Que cuidados deverá ter?
- Lavar frequentemente as mãos.
- Beber preferencialmente água engarrafada, especialmente se viajar.
- Verificar cuidadosamente o estado de conservação dos alimentos que ingere.
Os sintomas mais frequentes da gastroenterite infeciosa são a presença de náuseas, vómitos, dor abdominal em cólica e diarreia (mais do que 3 dejeções por dia). Pode ainda ocorrer perda de sangue nas fezes e febre (temperatura corporal superior a 37,5ºC).
Em que situações deverá ser avaliado por um médico?
- Febre (temperatura corporal superior a 37,5ºC).
- Diarreia com sangue.
- Vómitos repetidos que impossibilitem uma alimentação adequada por via oral.
- Persistência dos sintomas por um período superior a 1 semana.
Habitualmente não há necessidade de realizar exames complementares de diagnóstico. Contudo, na presença de sinais ou sintomas de alarme como febre ou diarreia com sangue, pode ser útil realizar análises de sangue e exame microbiológico de fezes. A necessidade de exames endoscópicos é infrequente, sendo ponderada em casos particulares.
Na esmagadora maioria dos casos a doença é autolimitada, o que significa que os sintomas desaparecem espontaneamente após alguns dias, não havendo necessidade de um tratamento dirigido. Contudo, o reforço da hidratação oral é criticamente importante. As principais complicações da gastroenterite infeciosa decorrem da desidratação, sendo as crianças e os idosos os grupos etários mais suscetíveis.
Em alguns casos há necessidade de tratamento farmacológico com medicamentos antieméticos, antiespasmódicos ou analgésicos para controlo dos sintomas. Os medicamentos com efeito antidiarreico devem ser usados com cautela e evitados especialmente na presença de febre e diarreia com sangue.
Os probióticos são suplementos alimentares que contêm microrganismos que contribuem para o equilíbrio da flora intestinal. Embora sejam utilizados frequentemente, a evidência da sua eficácia não está seguramente comprovada neste contexto. Contudo, podem reduzir a duração e a severidade dos sintomas em casos de diarreia de causa infeciosa.
A prescrição de antibióticos é indispensável?
- A prescrição de antibióticos não está recomendada por rotina.
- Na maioria dos casos a gastroenterite é de causa vírica. Nestes casos a toma de antibióticos não acrescenta qualquer benefício.
- Em alguns casos, e mediante avaliação médica, o tratamento com antibióticos é necessário e eficaz.
A medicina preventiva é a principal alavanca para a obtenção de bons resultados em saúde. Os cuidados alimentares e de higiene devem ser reforçados no verão, especialmente em contexto de viagem. O reconhecimento dos sinais e sintomas de alarme que justifiquem a procura de avaliação e orientação médica é também indispensável, permitindo um tratamento atempado e eficaz.
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