Quando lhes foi pedido que refletissem sobre si, os resultados foram (e são) muito preocupantes.
Foi relatado, por exemplo, que a maioria dos cuidadores (mais de 80%) já sentiu que estava em Burnout/Exaustão emocional e que precisava de apoio psicológico. Num país em que se pode esperar ano e meio para ter uma consulta de Psicologia através do SNS, torna-se evidente as consequências que esta ausência de resposta no âmbito da saúde mental, pode ter para estas pessoas. Porque se não tenho quem me substitua enquanto cuidador ou se não tenho como pagar uma consulta particular de Psicologia, não “posso cuidar de mim, mesmo sabendo que preciso”.
Apenas 16% dos cuidadores têm apoio psicológico e a maioria desejaria ter este apoio, referem que uma linha (telefónica) gratuita de apoio/aconselhamento psicológico lhes seria muito útil – acreditam que esta medida lhes daria “a possibilidade de pedir ajuda, conversar, refletir, partilhar”. Uma medida, que, se quisermos, facilmente se conseguirá implementar.
Independentemente das circunstâncias de cada um de nós, enquanto sociedade temos o dever de parar e refletir sobre a vida dos cuidadores. Nós precisamos dos cuidadores. E quando verificamos os resultados deste estudo, todos nós (sem exceção) devemos pensar no que podemos fazer, para minimizar o sofrimento destas pessoas.
O Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais, com o apoio da Merck, tem feito um trabalho muito importante na promoção da melhoria da qualidade de vida dos cuidadores, tem-nos permitido conhecer mais sobre esta realidade vivida por mais de um milhão de pessoas, trazendo (nos) a responsabilidade de fazer mais, fazer melhor, fazer “mais rápido” – até porque muitos dos cuidadores atualmente já não conseguem ver o lado positivo da vida, já não conseguem rir, não se sentem felizes, sentem-se angustiados, preocupados, ansiosos, tristes, deprimidos, sozinhos, desamparados, perderam a esperança. Tiveram de se deixar para depois – e esse depois ninguém sabe quando chega (temos pessoas a cuidar permanentemente de outras há 5, 10, 15, 20 anos).
É urgente cuidar de quem cuida. A longa estrada que ainda temos pela frente “no que toca” a proteger o Cuidador, deve ser feita “a correr”. Porque o sofrimento em que estas pessoas vivem, tem de ser responsabilidade de todos nós – e se pouco ou nada fizermos – o sofrimento psicológico em que os cuidadores vivem, vai aumentar e os níveis de bem-estar (psicológico, emocional e social) vão diminuir, ainda mais.
Muitos cuidadores, tornam-se cuidadores de familiares – por circunstâncias de vida. E nenhum de nós, “está livre” de ter de cuidar de alguém – um pai ou uma mãe (ou ambos), um marido, uma irmã, um filho. Poucas vezes, ser cuidador, é uma escolha. Nasce na necessidade. Na urgência de ter de cuidar e tratar de alguém, pela ausência de respostas institucionais e de medidas de apoio. Muitos cuidadores informais acumulam ainda “o desempenho” de diferentes papéis – por exemplo, têm filhos pequenos, cuidam dos pais, trabalham, “gerem” duas casas (…).
E a tantos (demasiados) em que “a isto tudo” ainda se juntam “as dificuldades económicas”. É urgente mudar o paradigma. Os cuidadores precisam de mais medidas. Precisam de respostas eficazes. Agora.
No grupo de cuidadores que participou neste estudo (mais de 1100), percebeu-se que aproximadamente 80% destes cuidadores são mulheres. Em muitas culturas cabe à mulher o papel de cuidar e, na nossa sociedade esta realidade não é diferente, exercendo em muitos casos, uma influência social – como “se existisse a obrigação” de cuidar por uma questão de género. São as mulheres que mais cuidam e são as mulheres que apresentam maiores níveis de exaustão emocional, de sobrecarga – que vão apresentar menores níveis de bem-estar, de satisfação com a vida, mais sofrimento psicológico. O Direito ao descanso – do cuidador informal – deve ser uma luta de todos.
E que todos juntos, possamos educar “as novas” gerações para este papel “Cuidar” independente do género. Vai ser preciso.
A “Sofia” cuida do filho que nasceu com uma doença rara, necessitando de cuidados permanentes, a “Lurdes” cuida da mãe e do pai (os dois com 90 anos), doentes crónicos, a “Maria” vive e cuida da sua avó, que tem Alzheimer e já não a reconhece, o “José” cuida da sua mulher, que após um acidente de viação, ficou paraplégica.
Estes são alguns cuidadores portugueses, e cada um deles é único – não comparável a qualquer outro. A sua história, mas também a sobrecarga física e mental que sentem – é vivida de forma muito particular. Em comum partilham a crença que neste cuidar encontraram um propósito de vida e que se tivessem mais apoios enquanto cuidadores, desempenhariam melhor o seu papel, se pudessem descansar um pouco, teriam mais qualidade de vida – seriam mais felizes.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a ACTIVA nem espelham o seu posicionamento editorial.