O ano está a terminar e nesta altura surgem as inevitáveis mudanças de carreira, associadas a natural ambição humana de crescimento pessoal e profissional.
Querer ir mais longe é normal, saudável e desejável. Mas também sabemos que as mudanças comportam riscos e medos, tantas vezes suportados por crenças negativas, que nos paralisam e impedem de crescer, mesmo quando conseguimos suportar as famosas “dores de crescimento” e sair da zona de conforto.
Duas razões ocorrem para que uma transição de carreira seja tão difícil:
- Falta de apoio profissional
Até há bem pouco tempo, os caminhos a seguir em determinadas áreas ou carreiras eram standard. Por exemplo, caso quisesse ser advogada, o seu percurso iniciar-se-ia pela licenciatura em Direito, passando pelo estágio, até ser partner numa sociedade de advogados, ou abrir um escritório. Conforme a sua escolha, os dias e as etapas da sua carreira irão suceder-se desde o estágio até à reforma.
A sociedade fez-nos crer que estas etapas eram sequências e não deviam ser questionadas ou modificadas.
Com o surgimento dos novos paradigmas de carreira e a importância crescente das questões relacionadas com o propósito, legado, satisfação pessoal e profissional, as transições e mudanças (mesmo as mais radicais e controversas) tornaram-se cada vez mais comuns e normais.
- Perda da identidade profissional
Somos seres sociais e precisamos de pertencer a uma tribo, grupo e organização. Precisamos igualmente que dentro do nosso grupo nos reconheçam e apreciem. A possibilidade de termos uma carreira apoiada numa organização estável que nos permita ter uma certa previsibilidade dos nossos dias ajuda-nos a gerir a ansiedade e
desmotivação, garantindo uma natural estabilidade.
Por esse motivo, ao pôr em causa esta estabilidade, a transição de carreira gera um receio natural, que, por vezes, impede-nos de avançar para metas mais ambiciosas e que podem trazer maior satisfação pessoal e profissional.
Quais as soluções para estas dificuldades?
O primeiro passo para a transição ou mudança de carreira tende a passar pelo autoconhecimento. Na realidade, este modelo tradicional de reflexão sobre quem somos pode ser insuficiente. Maioritariamente apenas conseguimos identificar o que não queremos ou não gostamos.
A solução para esta dificuldade parece estar nos modelos iterativos de carreira. Ou seja, explorar e adaptar-se. Não existem respostas prontas quando falamos em mudar de carreira. Teremos de ativar as nossas redes de networking; melhorar habilidades; arriscar; percorrer processos de entrevistas; testar para perceber se vai de encontro às nossas expetativas; e, acima de tudo, aprofundar conhecimentos.
O planeamento estrito de todas as etapas pode nem sempre ser possível, nem desejável. Explorar novas ideias e hipóteses de carreira ajudará a perceber o que funciona melhor para si e o que deve eliminar. Mais importante do que isso, deve aproveitar o “intervalo” e ver este processo com naturalidade.
Começar a percorrer estas etapas é um processo natural, com todas as dúvidas e questões que lhe são inerentes, e leva tempo. Permita-se ir abandonando o seu antigo “eu” para redescobrir todos os dias um novo,
mais alinhado com as suas novas habilidades, valores e propósito.