Na gravidez, existem muitas alterações e adaptações hormonais, responsáveis por fenómenos diversos, como as náuseas do primeiro trimestre. Embora estas mudanças, para a maioria das grávidas, não tornem necessário o acompanhamento pelo endocrinologista, em alguns casos, quando há risco ou diagnóstico prévio de doença endócrina, como a diabetes, consultar este especialista é fundamental — deve-se fazê-lo ainda antes da conceção.
A diabetes pode traduzir-se em complicações acrescidas, para as mulheres grávidas ou a planear engravidar, seja nas situações em que existe doença prévia (que, por vezes, não é conhecida até à gravidez) ou nos casos de doença gestacional, quando não é feito um controlo adequado. A diabetes pode afetar a fertilidade, numa fase pré-concecional, ou agravar-se durante a gravidez, colocando em risco o feto e a mãe.
Em Portugal, é feito um rastreio de diabetes a todas as grávidas. Passa por uma avaliação da glicemia em jejum, na primeira consulta pré-natal, e numa prova de tolerância à glicose oral, pelas 24 – 28 semanas de gestação, nos casos em que a doença não foi diagnosticada anteriormente.
Nos casos em que o diagnóstico já está estabelecido, as consultas de endocrinologia passam a fazer parte da rotina da grávida: podem chegar a ser quinzenais, ou até semanais, até se alcançar o controlo glicémico adequado. Nestas consultas, é avaliado o peso, a pressão arterial, as glicemias capilares (requeridas com frequência e obrigam a várias avaliações diárias), são feitas análises de sangue com glicemia e hemoglobina glicosilada e, por fim, é ajustada a terapêutica para manter a doença controlada. Pode passar por dieta e atividade física regular (especialmente no caso de diabetes gestacional, são muitas vezes o suficiente), ou requerer tratamento farmacológico, incluindo insulina.
Na gravidez, a hiperglicemia é um dos principais riscos a evitar. Uma grávida com diabetes deve implementar uma dieta adequada e monitorizar a glicemia em jejum e após as refeições, para controlar os níveis e atuar precocemente, em caso de valores alterados. A hiperglicemia, dependendo da fase de gestação em que a doente se encontra, pode causar complicações fetais, como anomalias congénitas, restrição do crescimento fetal, imaturidade fetal ou macrossomia (fetos de grandes dimensões), parto pré-termo e problemas relevantes no trabalho de parto, com sequelas graves no recém-nascido. Além disso, a exposição à hiperglicemia, no útero, predispõe a criança a problemas na vida adulta, como obesidade e diabetes.
Para prevenir complicações maternas e fetais, é essencial consultar regularmente o endocrinologista, em caso de diabetes ou risco de desenvolver a doença, e implementar um controlo glicémico adequado, desde a pré-conceção até ao parto.
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