Imagine que cai de pára-quedas num país desconhecido. Não conhece as pessoas, não conhece os hábitos e, sobretudo, não conhece a língua. Pois um bebé deve sentir-se um bocadinho assim: como um estrangeiro perdido numa terra estranha.
Fale com ele
Apesar de serem ‘estrangeiros’, os bebés não aprendem novas palavras como os estrangeiros aprendem uma língua nova. Aprendem como os pássaros cantam. E isto não é uma metáfora poética: os pássaros aprendem através da interacção com os outros pássaros e do feedback da comunidade, em vez de simplesmente por imitação. Os bebés fazem a mesma coisa. Esse facto foi comprovado por um estudo da Universidade da Pensilvânia, em que se observaram bebés de 8 meses e as respectivas mães enquanto brincavam, divididos em dois grupos: no primeiro, as mães reagiam com sorrisos e festas e palavras de incentivo ao palrar dos filhos. No segundo, não reagiam. Os investigadores descobriram que o grupo das mães ‘reactivas’ desenvolvia bebés mais ‘palradores’.
A ‘paixão’ fala mais alto
O mais curioso é que, embora a reacção dos adultos seja importante, ela não é tudo, especialmente no caso dos bebés mais pequenos, que, quando se ‘apaixonam’, podem ser de ideias fixas. Enquanto as crianças mais velhas prestam mais atenção ao que os adultos dizem ‘aquele brinquedo é mais engraçado do que o outro’, um bebé concentra- se naquilo que acha mais interessante. Por exemplo, um estudo descobriu que se mostrassem a um bebé de 10 meses um objecto colorido e musical como um conjunto de rocas, e um objecto desenxabido como um abre-latas bege, mesmo que o pai se farte de falar do abre-latas, o bebé só tem olhos para o brinquedo. Claro que, gradualmente, isso muda. Mas os dois estudos mostram como a mente dos bebés é uma fantástica máquina de aprender, cujos segredos ainda mal começámos a desvendar.
Dotados para as Línguas
Cada bebé nasce com 100 biliões de neurónios, mais do que as estrelas da Via Láctea, que utiliza para ‘descodificar’ o mundo. E são capazes de o fazer três vezes mais depressa do que os adultos: é por isso que é muito mais fácil aprender línguas em pequeno. Um bebé está preparado para nascer em qualquer canto do globo, pois aprende primeiro os sons comuns a todas as línguas. Com um ano, o cérebro já selecciona automaticamente os sons característicos da sua língua: um bebé português de um ano, por exemplo, não fala, mas sabe se uma pessoa fala português ou outra língua qualquer.