O que queríamos que mudassem
Queríamos, pois queríamos, mas podemos esperar sentadas: nunca vai acontecer. Mas seria assim tão difícil que eles mudassem…
– A toalha no chão – Não apanham. É escusado. Podem estar quatro toalhas em ‘cúmulo’ como nuvens de Primavera, que eles continuam a alçar a perna e passar por cima na maior das descontracções. Também não fazem ideia de onde nos vem a mania de andar sempre a puxar tampa da sanita para cima, por que é que uns pelitos no lavatório nos põem apopléticas ou por que raio é que uma tampa de pasta de dentes fora do sítio pode arruinar um casamento.
– O copo na mesa da sala – Altos ou baixos, gestores ou trolhas, atinadinhos ou destrambelhados, há uma coisa em são todos todos todos iguais, ainda mais iguais que no Estranho Caso da Toalha no Chão: acham que tudo o que deixaram desarrumado se arruma sozinho. Aliás, arrumar pertence ao tipo de coisa que eles nem notam que precisa de ser feita. Afinal, daqui a nada já está tudo desarrumado outra vez…
– A ‘dislexia’ para datas – “Ó Ricardinho, o dia de hoje não te diz nada?”, e ele franze o sobrolho e todos os seus neurónios (o Tico e o Teco) franzem os neurónios um para o outro e pensam, “Espera lá, Ricardo Manuel, será dia de levar o cão ao veterinário? De pagar à mulher a dias? Do Benfica-Estrela da Amadora?” e depois pensa “Bem, o Benfica-Estrela da Amadora não deve ser com certeza” e fica a remoer nas outras duas hipóteses. Depois estranha que ela faça greve de sexo durante três dias por causa do cão, acha que deve ser do período, depois lembra-se que ou ela teve nesse mês três períodos ou não deve ser do período, e só muito mais tarde é que descobre que faziam anos de namoro. Mas continua sem perceber por que isso tem assim tanta importância. Afinal, continuam juntos, ou não?
O que eles não mudam mesmo
Há coisas sagradas, fincadas com todas as forças na personalidade deles. Ele pode estar disposto a morrer por si mas nunca estará disposto a abandonar…
– O Clube – Quem nasceu Benfiquista (ou Sportinguista ou Boavisteiro) morre Benfiquista, seja o que for que lhe aconteça entre nascer e morrer, e pode vir a Giselle Bundchen que o Benfica há-de sempre estar em primeiro lugar no seu coração.
-A Mãezinha – Bem, em segundo. Em primeiro, vem sempre a mãezinha. Quem tenha mãezinha, claro. Com os homens, não há meio termo: ou são orfãos (há os que não são verdadeiramente mas são tecnicamente orfãos, que costumam ser ainda piores que os que têm Mãezinha) ou a Mãezinha é que manda. Desiluda-se: a mãezinha é que faz os melhores pastéis de bacalhau, com a mãezinha é que se almoça ao Domingo, ao sábado à tarde é preciso ir passear a mãezinha mais o Lúcifer (é o caniche da mãezinha), e a mãezinha pode dizer coisas do estilo ‘ó Zezinho estás mesmo magrinho, é essa lambisgóia que não trata de ti’, a mãezinha pode mandar bitaites sobre tudo, do nome dos filhos às tortas de laranja, a mãezinha pode dizer que acha que Carlota é nome de cadela e que Sebastião só houve um e deu mau resultado, a mãezinha pode dizer que as crianças estão malcriadas e o chão está sujo, e a mãezinha é a única pessoa à face da Terra que poderá pronunciar as palavras “o Makukula falhou lamentavelmente aquele penalti”. Palavras que, aliás, nunca ninguém ouviu nem ouvirá na boca da mãezinha…
– Os Amigos – Há sempre um Zé Pedro, que andou com ele no secundário. O Pimpão, que tocava baixo na banda. O Tozinho, que deu em gestor e agora é o Dr. Ataíde e tem uma secretária loura com quem toda a gente acha que ele engana a mulher mas não engana porque é gay mas só o melhor amigo é que sabe. E depois há os adventícios: os da cerveja ao sábado, os do futebol ao Domingo, os do trabalho, dos copos, das farras, do body-pump e do congresso de máquinas agrícolas onde ele foi há 6 anos. Não interessa. São todos para a vida. E para a morte, evidentemente.
Também nunca aceitarão mudar de…
Até podiam mudar, com um bocadinho de boa vontade, mas se pensarmos bem, será assim tão importante começar uma guerra por causa da…
– Música – É na música que se revela toda a sua alma de guerreiro: tudo o que não tenha batuques, é para meninas. Tudo o que tenha cheirinho de melodia, é para meninas. Tudo o que seja cantado, é para meninas. Há os executivos que gostam da Diana Krall, mas só porque ela é loura e não se despenteia enquanto canta e têm uma secreta fantasia de levar a Diana Krall à festa da empresa (levar a Diana Krall para a cama não lhes interessa nem metade que levá-la à festa da empresa). Os outros, quem lhes tira She Wants Revenge, Rammstein, ou Rage Against the Machine, tira-lhes tudo. Se estiver muito muito muito apaixonado (para aí na primeira semana) até pode ser que vá arrastado a um concerto do Roberto Carlos, mas de óculos escuros e sempre a olhar para todos os lados, não vá alguém reconhecê-lo. Se quiser ir de t-shirt com a cara do ídolo e uma tira azul-fosforescente na testa a dizer ‘Roberto É o Rei’, leve um grupo de amigas e esqueça os homens.
– Carro – Para nós, um carro é um carro. Para os homens, um carro é um amigo. E nada se interpõe entre um homem e os seus amigos. E então se tiver mota, pior. Há-de acordar a meio da noite e vir contemplá-la da janela, há-de passar a tarde de sábado a polir as jantes com um paninho de camurça e a ssusurrar-lhe ao, enfim ouvido?, há-de dar mais passeios com ela do que consigo. Habitue-se.
– Playstation – Há-de aproveitar o facto de a mulher estar a tomar banho para jogar Fifa 2008 às escondidas como os miúdos, há-de dizer ‘vai para a caminha, querida, vai que estás com ar cansado’ só para ficar rodando entre galáxias on-line num jogo tipo Guerra das estrelas com up-grade que joga com mais quatro internautas por esse mundo fora, um americano, um japonês, um polaco e um de Odivelas, e é o homem mais feliz do mundo.
O que, com um bocadinho de esforço, até conseguem mudar
Aleluia! Nem tudo são más notícias! Chegámos à parte boa. É agora que ele vai ser um Príncipe! Enfim, alguém que se possa apresentar à avó.
– Roupa – Dá um bocado de trabalho, mas como para eles, geralmente, tanto faz vestir uma t-shirt como outra, a gente dá-lhes outra (desde que não seja cor de rosa) e eles nem percebem que ficam muito melhor, até porque acham que é daquelas áreas em que nós percebemos mais do que eles (e têm razão, o que não é dizer muito). Também se pode pedir-lhes que mudem de corte de cabelo, e alguns até mudam. Até se pode pedir que cortem o bigode (isto é um favor à Humanidade) e até se pode oferecer-lhes uma água de colónia que não cheire a insecticida. Bem envernizadinhos, ninguém diria que têm idade mental de dez anos e meio.
– O Controlo da televisão -Dêem-lhes um sofá e um écran, e estão no paraíso. Não são esquisitos, e papam tudo o que nós vemos na maior das boas-vontades, desde os CSIs de todas partes da América até aos Drs. House, correm todas as urgências dos hospitais de Chicago (costumam adorar isto, porque são todos hipocondríacos) e choram baba e ranho com os hospitais de animais. E cuidado: habituam-se a ver telenovelas com mais facilidade que uma adolescente. Claro que nunca admitiriam aos amigos que vão ficar em casa a ver ‘Desejo Proibido’, mas prepare-se, porque lá chegará o dia em que vai querer sair com ele e ele há-de atirar ofendido: “Nem penses. Hoje é o dia em que a Maria Paula vai dizer ao Reginaldo que o filho não é dele.”
– A Barriga – Com um bocado de sorte, passam a ir ao ginásio connosco, principalmente se lá andarmos, não tanto para perder a barriga como para fiscalizar a concorrência. Geralmente, acontece uma de duas coisas: ou desistem ao fim de duas semanas, ou ficam daqueles ‘freaks’ do Body-Attack que fazem a aula com dois relógios de calorias um em cada pulso e vão à net ver as coreografias novas e se correspondem com outros ‘freaks’ de todo o mundo e quando você diz que aquilo até está fácil franzem as sobrancelhas e respondem: “Deixa-me decorar os passos e aprender a coreografia e tu já vais ver o que é que é fácil’. Acham todos que dois passos à frente e um atrás é uma coreografia.
– A Ajuda – Pronto, é verdade: eles acham que ‘ajudar em casa’ é levar o cão à rua e pôr o lixo lá fora. Mas com muita persistência, até se pode treiná-los para qualquer coisa. Claro que a iniciativa é sempre nossa, por eles dormiam nos mesmos lençois até ao Euro 2012, mas enfim…
– A Comida – Com os amigos continuam a comer feijoada e perceves, mas em casa nós é que mandamos porque somos nós que vamos ao supermercado, quando eles só se lembram de ir ao Clube del Gourmet comprar patê de texugo turco e ostras congeladas.
– A Decoração – Há uns muito picuinhas que vão connosco às lojas e fazem finca-pé porque sempre sonharam ter cortinados roxos na sala como a família Adams, mas homem que é homem nem vê onde é que está sentado, e se for um sofá aos coraçõezinhos com a cara da Betty Boop tudo bem, desde que seja um sofá.