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Primark, 3 euros

 Look total em ‘pink’: afinal, é uma tendência sexista a contrariar ou um capricho passageiro e inócuo?

A Beatriz tem 5 anos e uma mãe desesperada: “Ela só veste coisas cor de rosa, do mais kitsch que há”, queixa-se a mãe. “Tudo o que tenha folhos, flores e fitas é bom, mas em cor de rosa é ainda melhor.”

Uma explicação vem das etapas comportamentais há muito estabelecidas pelos psicólogos, e que indicam que, até aos 7 anos, as crianças estão convencidas de que são os sinais exteriores que indicam o sexo. Ou seja, uma menina acha que tem de se vestir ‘de menina’ – de cor de rosa, folhos e laços – para que os outros saibam que ela é uma menina. E nesta idade, distinguir-se dos rapazes como grupo faz parte do desenvolvimento da sua identidade individual: através do cor de rosa, ela afirma ‘eu sou uma rapariga’.

Obviamente, a indústria não perdeu tempo a aliar-se à psicologia, e em qualquer hipermercado se encontra um corredor cor de rosa onde todos os brinquedos se apressam a dizer às meninas que sim, são raparigas. “Li milhares de livros dedicados à cultura da adolescência”, afirma a jornalista americana Susie Orenstein, autora do livro ‘Cinderella ate my daughter’ (‘A Cinderela comeu a minha filha’), “mas ninguém me explicava esta cultura das rapariguinhas, desde os 2 anos até aos 10, para me ajudar a decifrar o impacto que estas imagens e ideias tinham nelas, e o que elas absorviam sobre aquilo que a cultura do marketing acha que elas devem ser e comprar.”

Os rapazes também têm o seu estereótipo, mas, afirmam os psicólogos, não é tão invasivo nem tão óbvio como o mundo criado para as meninas.

O mercado das meninas de 3 anos

O hábito de vestir as meninas de cor de rosa e os rapazes de azul nem sempre existiu: no tempo dos nossos bisavós, as crianças vestiam-se de branco até aos 7 anos, porque era mais prático, e ainda não estávamos na altura em que os pais temiam que vestir uma criança da cor ‘errada’ tivesse graves consequências sexuais no futuro. E na altura, o azul era considerada uma cor delicada e feminina (pensem lá: de que cor é o manto da Virgem Maria?)

A mania de distinguir as meninas dos meninos só surgiu depois da Primeira Guerra, com o fabrico em massa. Nos anos 80, as mães feministas decretaram que o cor de rosa era sexista. Resultado: uma quantidade atual de mães esfomeadas de cor de rosa, que projetam nas filhas a saudade do algodão doce que elas não tiveram. Também por isso, já agora, é que algumas meninas se recusam a vestir qualquer coisa vagamente cor de rosa: percebem perfeitamente que é aquilo que a mãe –ou outro tipo de poder… – lhes quer impor, e não perdem uma oportunidade de ir contra…

A moda do azul e cor de rosa voltou em grande com os testes prenatais. “Quanto mais se individualiza a roupa, mais se vende”, explica a historiadora americana Jo Paoletti, autora do livro ‘Azul e Cor de Rosa: Separando os Rapazes das Raparigas na América’). Os pais com dinheiro podiam dar-se ao luxo de comprar um enxoval e decoração todo em cor de rosa rebuçado, e recomeçar tudo no filho seguinte em azul, se fosse um rapaz.

Portanto, o consumismo pegou numa fase natural das meninas e empolou-a, vendendo às meninas pequenas, e cada vez mais pequenas, aquilo que lhes interessava que elas comprassem, em imagens cada vez mais estandardizadas e artificiais: “E as meninas pensam, por exemplo, que aquilo que as torna meninas é o facto de terem cabelo comprido e vestidos”, afirma Paoletti.

E quando elas preferem azul?

Mas o facto de lhes quererem vender cor de rosa nem sempre significa que elas queiram comprar. Embora a grande maioria das meninas se identifique com os tules e frufrus, as menos expostas à publicidade e mais seguras de si podem nunca passar por esta fase. E isto também não é nenhum drama.

Há quem já afirme que esta obsessão com o cor de rosa é tóxica, que fecha as meninas numa ideia de feminilidade totalmente desadequada, e que marginaliza as que não se enquadram neste quadro idílico e monocromático: por muito que se adore o cor de rosa, começa a ser uma lavagem ao cérebro não ver outras cores no seu mundo…

Mas também há quem defenda que, enfim, pode ser altamente irritante mas não tem consequências assim tão graves na vida das crianças, e mesmo que negar o cor de rosa a uma menina é desrespeitar a sua feminilidade. Um estudo antigo afirma mesmo que as meninas muito esfomeadas de rosa eram as que tinham mães mais inseguras da sua feminilidade, mas o principal é isto: não é uma cor que vai marcar uma criança: “O efeito de todo este cor de rosa é temporário e insignificante”, afirma o psicólogo inglês Michael Gurian, em www.news.bbc.co.uk.com. “E não tem o efeito tóxico e duradouro que se teme.”

Ou seja, explica Gurian, cada pessoa é composta por quatro princípios básicos: género, talentos, personalidade e capacidade para lidar com o trauma. E a única coisa que pode mudar profundamente alguma destas coisas é um trauma sério. Por exemplo, uma rapariga não se torna anoréxica por ver imagens de modelos magras. Essas imagens apenas podem afetá-la se já houver qualquer outro desequilíbrio que a predisponha a isso.

Princesas ao poder

De qualquer maneira, mesmo que o cor de rosa não cause traumas numa rapariga e que a Semana da Moda não provoque anorexia, todos estes mundos artificiais podem, sim, causar sentimentos de inadequação quando não nos sentimos confortáveis na nossa pele.

Conclusão: se tem uma filha, não a deixe ver demasiada televisão. Mas não deixe de lhe comprar vestidos cor de rosa, se ela pedir. Afinal, um bocadinho de cor de rosa na vida nunca fez mal a ninguém. E uma tiara, um vestido de tule, batom cor de rosa e luvas brilhantes nunca impediram nenhuma mulher de se tornar engenheira, advogada, cirurgiã ou polícia.

E daqui a nada, vai tê-la a dizer decididamente que o cor de rosa é para os bebés, e a querer vestir-se de… preto. Vá por nós: ainda vai ter saudades da sua princesa Disney.

Cor de rosa é para rapazes?

Precisamente porque o cor de rosa, durante a infância e adolescência, é visto não como uma cor mas como uma afirmação (‘sou uma rapariga’), não será comum que o seu filho de 8 anos lhe peça para ir para a escola de cor de rosa. Mas há uma crescente moda, entre os rapazes mais velhos, de usar mais cores, inclusive o cor de rosa, como reivindicação do seu direito à criatividade e à individualdidade…

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