Sabe o que é o EKUI? Já explicamos. Para começar, diga-se que foi considerado uma das cem metodologias educativas mais inovadoras do mundo, pela organização finlandesa Hundred. A sua criadora, a professora e empreendedora portuguesa Celmira Macedo (já nomeada para o Prémio Activa) recebeu o prémio da HundrED Global Collection 2023 em Helsínquia, e afirmou que foi “o dia que mudou a história da minha história”.
Então o que é o EKUI? Uma ideia muito simples, como todas as ideias de génio, mas que tem o poder da universalidade e da diversidade: é um jogo de cartas que ensina as crianças a ler de 4 maneiras diferentes. À grafia das letras do alfabeto juntam-se pistas visuais: o alfabeto da língua gestual, o alfabeto Braille, e pistas fonéticas para ilustrar o som. Resultado: as crianças aprendem mais depressa porque, como aprendem todas de maneira diferente, quem não chegar por um caminho, chega pelo outro. É mais fácil aprender o alfabeto e de caminho aprende-se também a aceitar e a valorizar a diferença.
E porquê o nome? “O EKUI é um jogo de cartas especial”, explica a sua criadora à ACTIVA: “As letras significam Equity (equidade), Knowledge (conhecimento), Universality (universalidade) e Inclusion (inclusão) e facilitam a aprendizagem a pessoas com dificuldades várias. Quando inventei o jogo não sabia o que lhe chamar, andei dias a pensar nisto, e um dia acordei e tinha a resposta.”
A ideia de um alfabeto inclusivo já nasceu há anos, fruto da experiência de Celmira Macedo como professora. “Em 2003 estava a trabalhar com crianças autistas que tinham imensas dificuldades de aprendizagem e comunicação. Comecei a pesquisar quais eram as principais barreiras à comunicação e percebi que no mundo inteiro havia 650 milhões de pessoas com dificuldade em aprender a ler, umas porque nasceram com alguma deficiência, outras que por motivos de saúde deixaram de conseguir comunicar, e muitas porque saíram da escola cedo.”
Mas quais eram as barreiras que estas pessoas enfrentavam, porque é que não conseguiam aprender e como é que uma professora poderia ajudar? “As famílias muitas vezes não tinham capacidade para apoiar os filhos, os diagnósticos eram tardios, não eram acompanhadas, e havia muita falta de formação de professores.”
Percebeu que era tempo de criar algo diferente: “Continua-se a fazer da escola um pronto-a-vestir de tamanho único, quando sabemos que todas as crianças, e não é preciso terem algum tipo de deficiência, aprendem de maneira diferente. Então percebi que só uma metodologia universal podia ajudar a ultrapassar estas dificuldades.”
Inventou então um conjunto de cartas em que à grafia das letras do alfabeto se juntam pistas visuais: o alfabeto da língua gestual, o alfabeto Braille, e pistas fonéticas para ilustrar os sons. Portanto, cada carta tem quatro formas de ler uma letra, e cada criança vai aprender da forma que lhe for mais fácil. “E o engraçado é que até as crianças sem dificuldades aprendem mais facilmente o alfabeto. Porque elas intuitivamente escolhem a forma mais rápida de aprender. Além disso, as letras são brincadas.”
O EKUI é um duende mágico que luta contra o monstro das barreiras. E este ‘monstro’ somos todos nós, que impedimos as crianças de comunicarem. “Assim, as crianças aprendem desde muito pequenas pois existem muitas formas de comunicar, e desta forma também se faz um marketing positivo da diferença. Eu estou a aprender grafia, mas ao mesmo tempo aprendo mais duas linguagens. Aprendo mais rápido e mais. Ao mesmo tempo, pais e professores também identificam mais facilmente dificuldades de expressão e fala, por exemplo. E os estrangeiros que aprendem português também dominam mais depressa os dificílimos fonemas portugueses. Trabalhamos desde o jardim de infância até aos adultos com alguma incapacidade.”
Os professores e pais podem chegar até ao EKUI através do site (www.ekui.pt) e da página de Facebook. Também há workshops online, formação e apoio. “Aliás, muitos destes problemas aumentaram com a covid-19, porque muitas crianças deixaram de ter vários tipos de terapia. E nós temos uma app gratuita e levamos às famílias muitas ferramentas para trabalharem as barreiras de aprendizagem.”
Até hoje, desde 2015 já acompanharam e formaram milhares de turmas e professores. “Nunca pensei que este jogo pudesse ter este alcance brutal e continuo muito feliz por poder ajudar.”