De acordo com as palavras de José Saramago, um “filho é um ser que nos foi emprestado para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar os nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isso mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é expor-se a todo o tipo de dor, principalmente o da incerteza de agir corretamente e do medo de perder algo tão amado. Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo”. Embora a maioria dos pais tenha isto bem presente, a tristeza que surge quando um filho sai de casa e deixa de fazer parte da rotina diária até então conhecida é uma realidade bastante comum. Há uma espécie de sentimento de perda, mesmo quando os pais respeitam e acolhem as decisões dos filhos que se emancipam e autonomizam. Estes sentimentos de tristeza e solidão são comumente conhecidos como Síndrome do Ninho Vazio. É esta a fase que a rainha Letizia está a viver agora, com a ida da filha mais nova, a infanta Sofia, para o País de Gales, para estudar, e com a princesa Leonor na Academia Militar, e que tanto outros pais se preparam para experienciar.
De acordo com os psicólogos, esta síndrome tende a visar mais as mulheres que, por norma, dedicaram mais do seu tempo aos filhos. A ideia de que agora deixaram de ter um propósito, mesmo que sejam pessoas ativas e trabalhem, pode-se tornar bastante presente e demasiado esmagadora. É aqui que surgem vários sintomas a que se deve estar atento, como tristeza profunda, ansiedade, irritabilidade, alterações no sono e no comportamento, mudanças no apetite, sentimos depressivos e isolamento. Tudo isto pode contribuir para reações disfuncionais, afastamento, crise de identidade e problemas conjugais.
Há, contudo, diferentes formas de lidar com estas mudanças e sentimentos. Uma delas é manter a rotina, para que acorde todos os dias com uma sensação de realização e de utilidade, e com objetivos bem definidos para o dia. Pode-se, e deve-se, começar novos hobbies ou privilegiar atividades de lazer que promovam a sensação de bem-estar e de alegria. A ajuda especializada de um psicólogo também deve ser ponderada caso os sintomas depressivos se mantenham. Fazer psicoterapia é, por norma, uma grande ajuda na resolução destes episódios e no reforço dos valores pessoais.
Apesar de tudo, a saída dos filhos de casa dos pais não tem que ser encarada e vivida como algo pesado e duro. De acordo com diferentes pesquisas, há, até, casais que prosperam neste período, pois voltam a apostar mais no amor e na relação que pode ter ficado um bocadinho adormecida com as obrigações parentais. Volte, por isso, a olhar para si e para o seu companheiro com tempo e a desfrutar dos momentos que antes eram sempre interrompidos pelos filhos. Olhar para cada fase da vida como uma hipótese de algo novo e bom é meio caminho andado para se encarar tudo com mais leveza. E depois, a saída dos filhos não implica necessariamente um afastamento. Bem pelo contrário. Várias são as pessoas que afirmam ter-se aproximado mais dos pais, conseguindo manter uma relação melhor, depois de terem saído de casa.