Jessica + Jorge
Chile e Portugal
Jorge Salvador conheceu Jessica Lira numa festa de aniversário de um amigo em comum, em 2008, em Santiago do Chile, para onde tinha ido uns anos antes através do programa de estágios InonContacto, para o qual se tinha candidatado como gestor. Foi com a intenção de ficar seis meses e acabou por ficar 10 anos. “A nossa história de amor começou no momento e lugar onde menos esperávamos, mas tivemos química imediata, o que se traduziu numa animada conversa durante quase toda a noite. Passada uma semana, durante a qual trocámos alguns sms, convidei a Jessica para vir jantar a minha casa e provar um prato típico português, bacalhau com natas… o único que eu sabia fazer (risos). Passado algum tempo começámos a namorar e vimos que tínhamos muito em comum e um projeto de vida semelhante, apesar das nossas geografias e culturas serem diferentes. Essas diferenças, aliás, foram um fator de atração e de vontade de nos conhecermos melhor. Em 2010 ficámos noivos e no ano seguinte, em outubro, casámo-nos no Chile. Aí ficámos até 2016, altura em que embarcámos numa nova aventura em Cabo Verde. Desde o início que falámos na possibilidade de termos de sair do Chile devido ao meu trabalho, e Jessica, que é engenheira, sempre se mostrou disponível para me acompanhar. Por motivos laborais, voltámos a Portugal para viver, país que Jessica já conhecia como turista. Como boa sul-americana, Jessica é extrovertida, prática e otimista, uma das coisas que a incomoda nos portugueses é sermos um pouco pessimistas e por vezes não valorizarmos o país que temos. Mas adora a nossa simpatia e bom humor, e é grande apreciadora de fado e da nossa gastronomia. A única coisa má de viver em Portugal é estar a 10.000km da família e amigos. Tentamos manter a ligação ao Chile através das plataformas digitais e redes sociais. Também cozinhamos pratos típicos chilenos e às vezes compramos as empanadas chilenas que se podem encontrar em Lisboa. A nossa vida tornou-se mais completa com o nascimento da nossa filha Leonor e queremos que ela tenha contacto com ambas as culturas, por isso eu falo só em português com ela, e a mãe em espanhol, cantando-lhe canções infantis chilenas e preparando comida típica do Chile. O melhor dos dois mundos.”
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Hortense + Won
Portugal e Coreia do Sul
Quando se fala com Chong Song Won é impossível não ficar impressionado com a alegria com que fala de viver em Portugal. Atualmente com 71 anos, Won vive no nosso país há 48. Veio para cá em 1972, perdeu-se de amores por Hortense e já não saiu “deste país maravilhoso, e do Caramulo, onde moro desde que cheguei. Vim com 23 anos, a convite de um empresário desta região que tinha um dos aviários mais modernos da Península Ibérica. Naquela altura, a Coreia era um país devastado pela guerra civil, e os jovens como eu tentavam emigrar para melhorar as suas condições de vida. Era técnico de sexagem, uma atividade que existia na Coreia e no Japão e era muito requisitada por vários países em todo o mundo. Trata-se de fazer a separação, à nascença, entre pintos de sexo masculino e feminino. Vim eu e outro amigo coreano, não sabíamos uma palavra de português mas o povo português recebeu-nos muito bem. Já estava cá há 3 anos quando conheci a Hortense, que era enfermeira no IPO em Lisboa mas tinha-se deslocado ao Caramulo para visitar uma amiga, também enfermeira no IPO, que estava com tuberculose e fazia tratamentos no Sanatório que havia aqui no Caramulo naquela altura. Foi assim que nos conhecemos, através dessa amiga. Casámos e em 1977 tivemos a primeira filha, em 79 a segunda e o 3.º filho em 1982. E já não fazia sentido sair de Portugal, não é?” Hortense é pragmática quando fala nas diferenças culturais, “qual é o casal que não tem os seus conflitos, nós também tivemos os nossos, mas sempre conseguimos ultrapassar as diferenças culturais. Uma das coisas que mais admiro no meu marido é a sua capacidade de trabalho, aliás, uma coisa que os meus filhos herdaram. No final dos anos 70, a sexagem começou a tornar-se menos importante e o meu marido resolveu procurar outras fontes de rendimento, é incapaz de estar quieto, ainda hoje é assim. Foi então que abriu a nossa fábrica de compotas, Won, que ainda existe. É pequena, mas não fabricamos só as compotas Won, fornecemos para as marcas Próvida e Cem Porcento. Foi ele que se lembrou de fazer compotas com uma técnica milenar coreana em que se produz geleia de milho a partir de farinha de milho e cevada germinada. É uma pessoa muito viva, que gosta de receber bem os seus conterrâneos e as pessoas gostam muito dele.” Por causa da pandemia, as viagens até à Coreia do Sul para visitar a família estão suspensas, mas “falamos por telefone. Tive a sorte de receber os meus pais há uns anos, quando eram vivos. Podem ter ficado tristes por eu não voltar para a Coreia, mas perceberam que a minha vida é aqui. Sabe que fizeram um inquérito na TV coreana, em que perguntaram qual era o país do mundo que gostavam de viver? A maioria respondeu Portugal! Eu concordo, é bonito, tem praias maravilhosas e é seguro. A Coreia é um país muito bonito mas tem problemas, é o segundo país do mundo com mais suicídios entre os mais velhos, e a saúde e a educação são muito caras. Vou matando saudades com os telefonemas e com comida, aqui em casa é 70% gastronomia portuguesa, 30% coreana. Às vezes também vamos a restaurantes coreanos quando visitamos os nossos filhos em Lisboa”, remata Won.
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Rebecca + João
Países Baixos e Portugal
Temos de começar por dizer que Rebecca é uma holandesa muito portuguesa porque nasceu em Portimão, filha de mãe neerlandesa e pai inglês. Ali viveu até aos 11 anos, altura em que a família regressou aos Países Baixos, tendo vivido ali até aos 25. Com um diploma em Gestão Hoteleira na mão e com muitas saudades do ensolarado Portugal, voltou para o Algarve, onde ficou durante cerca de um ano, para seguir até à capital, onde o seu caminho se cruza com o de João, lisboeta, licenciado em Gestão com especialização em marketing, e que resolveu lançar-se no ramo da hotelaria há mais de uma década. “Conhecemo-nos há 10 anos numa entrevista de emprego, cheia de sorrisos, na qual fui contratada. Não acreditamos nisso de amor à primeira vista, houve um click sim, logo no início, e depois começámos a trabalhar e a passar muito tempo juntos e foi aí que o amor cresceu. Ao princípio o meu português era muito mauzinho, esqueci-me de muito vocabulário, apesar de todos aqueles anos que aqui passei, por isso falávamos um com o outro em inglês, agora já só falamos português um com o outro. Acho que o facto de sermos de culturas diferentes enriqueceu a nossa relação, complementamo-nos muito bem, o João é mais latino e eu trago uma visão mais direta ao assunto. Ir viver para os Países Baicos nunca nos passou pela cabeça, e o João ainda menos, adora o calor e a cultura latina, tem cá o seu trabalho, e eu vim para cá morar, e agora temos 2 filhos, a Sara e o Duarte, que são uma perfeita mistura da cultura holandesa com a portuguesa… bem, mais portuguesa que holandesa (risos). Adoramos viver em Portugal, a cultura, a comida, o clima, é um país onde se vive bem, muito seguro e com a possibilidade de fazer inúmeras atividade outdoor. E eu gosto muito de viver em Lisboa, perto de tudo. Podes, a cada dia, sair para outras localidades e todas são muito diferentes, parece que estamos num país diferente. Só tenho é uma coisa a apontar, as coisas aqui funcionam de forma muito lenta, a burocracia… Muito de vez em quando tenho saudades dessa parte do norte da Europa mas aqui as pessoas são mais simpáticas, embora menos abertas que os neerlandeses, os portugueses são mais reservados, o que nem sempre é uma coisa má, mas às vezes sinto falta de uma maneira de comunicar mais ‘direta’. Para matar saudades vou aos Países Baixos ou a família ou os amigos vêm cá.”
*Artigo publicado originalmente na revista ACTIVA em setembro de 2020